Confira aqui a reportagem!

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Ponto tradicional da cidade, onde há décadas famílias se reúnem para tomar um sorvete durante as tardes de sol e jovens fazem manobras de skate na famosa pista, a Praça do Redentor – ou Praça do Gaúcho, como é mais conhecida – tem sofrido com o que os moradores e comerciantes desta região do bairro São Francisco consideram ser uma invasão de pessoas alcoolizadas, vândalos, usuários e traficantes de drogas, ladrões, além de outros baderneiros que tiram o sossego e trazem medo a quem vive ou trabalha por ali.

Nem a presença de duas câmeras de segurança, monitoradas pela Guarda Municipal (GM), inibe estas práticas. Moradores e comerciantes relatam que a bagunça começa nas noites de quinta-feira e se entende até as últimas horas do fim de semana. Em dias e noites mais quentes, centenas de pessoas se concentram na praça e seu entorno e lá, aproveitam para ‘curtir‘, literalmente, sem limites.

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A Tribuna esteve no local em dias e horários variados, registrando os problemas de diferentes ângulos. Apesar da chuva, na noite da sexta-feira passada (10) a reportagem flagrou vários jovens “chapados” após consumirem drogas no entorno da praça. Na ensolarada tarde do último domingo (12), nossa equipe encontrou um número ainda maior de pessoas traficando e usando entorpecentes. Em vários pontos, era possível avistar “nuvens” de fumaça de maconha. Um dos rapazes tirava buchas de cocaína da cueca e oferecia a quem estava perto. Neste mesmo grupo, uma moça passou mal, vomitou e caiu na calçada, sendo amparada por outra garota que estava com uma lata de cerveja na mão. Aliás, difícil era encontrar alguém que não estivesse com bebida alcoólica na mão, até mesmo muitos menores de idade.

Menina passa mal na Praça do Gaúcho.

“Reféns da baderna”

Segundo os vizinhos do espaço público, a situação desandou depois que bares e comércios foram inaugurados na região, passando a vender chope, cerveja e outras bebidas a preços “camaradas”. “Das noites de quinta até domingo ‘de madrugada’ ninguém dorme, ou consegue entrar ou sair de casa, pois as frentes das nossas casas são tomadas por traficantes e usuários de drogas, pichadores, bêbados e todo o tipo de coisa ruim que se possa imaginar. Viramos reféns da baderna que tomou conta do local”, relata a artesã B*, 57 anos, que por medo de represálias, pediu para ter sua identidade preservada.

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Para o autônomo F*, 59, que também não quis ser identificado, está difícil conviver com tanto barulho, sujeira e falta de segurança. “A bagunça começou há alguns anos e depois tivemos um período de calmaria. Situação que mudou no começo de 2017, quando novos bares foram abertos e a baderna voltou. Tem ‘show’ na praça, gente bebendo e fumando maconha e até cheirando cocaína. Teve um domingo em que eles fizeram uma batalha cultural de rap, neste dia deu até tiro”, revela.

Quem também sofre com a situação é o vendedor J*, 46. Ele conta que já foi até ameaçado pelos frequentadores da praça. “É um inferno, estou pondo até meu apartamento à venda, não consigo mais morar ali, está muito perigoso, tenho família. Eles não são pessoas de bem. Entre eles, há bandidos que andam armados, que vendem e usam drogas e roubam e vendem lá na praça os produtos roubados”, desabafa.

Prejuízos

Sócia de um dos tradicionais comércios do local, a empresária M*, 35, revela que o problema tem afastado as famílias que costumavam frequentar a praça. Segundo ela, além do consumo de drogas a céu aberto, o que também gera transtornos e indignação é ter que conviver diariamente com o cheiro insuportável de urina nas portas das casas e lojas. “Não tem banheiro público na praça e eles fazem as necessidades em tudo o que é lugar. Fica tudo cheirando à urina, é terrível. Temos que lavar a porta e o piso para poder trabalhar. E infelizmente, temos perdido muitos clientes por esta situação”, aponta.

Perturbação

Em nota, a Polícia Militar do Paraná informa que, por meio do 12º Batalhão, costuma realizar ações nas proximidades da praça. De acordo com a PM, nos últimos dois meses foram feitas na região oito operações com equipes da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) e da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam). Os trabalhos resultaram em prisões e apreensões de materiais ilícitos, incluindo pessoas que possuíam mandados de prisão em aberto e que foram recapturadas na região.

A PM cita que as operações ocorrem em dias alternados e contam com o apoio da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu), em relação à fiscalização de estabelecimentos comerciais, e também da Patrulha do Sossego, que faz o atendimento às situações de perturbação da tranquilidade. Além disso, o Serviço de Inteligência da corporação faz levantamento de informações para identificar pessoas que possuam envolvimento com o tráfico de drogas. “A atuação da PM é suplementar à responsabilidade da Guarda Municipal pelo patrimônio da cidade, no caso a praça. A investigação dos fatos passados é de responsabilidade da Polícia Civil”.

A PM orienta que o cidadão faça denúncias pelo telefone de emergência 190. Já informações sobre o tráfico de drogas podem ser repassadas pelo telefone 181. “O cidadão não precisa se identificar e os dados serão analisados pelos profissionais de segurança pública a fim de elucidar o caso”, destaca a polícia.

Balada Protegida

De acordo com a Secretaria Municipal de Defesa Social (SMDS), o programa Balada Protegida foi expandido e agora atende também o entorno da Praça do Gaúcho. A ação começou no final de outubro, em razão das solicitações recebidas da população. Conforme a secretaria, o Balada Protegida conta com diversos órgãos participantes das ações nos locais por onde passa, como Guarda Municipal, Secretaria de Urbanismo e Superintendência de Trânsito.

Quando há necessidade, remanejamentos são feitos para intensificar a presença do poder público em determinada localidade, em apoio às ações de segurança pública, de responsabilidade das polícias. Denúncias sobre problemas na região podem ser feitos à Guarda Municipal (153).

Irregularidades

Sobre os problemas relatados por vizinhos da Praça do Gaúcho, a Secretaria de Meio Ambiente de Curitiba (SMMA) explica que uma Ação Integrada de Fiscalização Urbana, feita no dia 20 de outubro, constatou que dois bares apontados pelos moradores como o foco da bagunça estão em conformidade com a legislação, tendo apresentado alvará e licenciamento apropriado. Um dos locais, inclusive, entrou com pedido de licenciamento ambiental para som mecânico, solicitação que está em trâmite junto à secretaria.

Já contra um terceiro estabelecimento, que também vende bebidas alcoólicas aos visitantes da praça, a pasta revelou que consta um processo administrativo para cassação do alvará comercial por realização de atividade não autorizada. O estabelecimento também teve a perturbação de sossego identificada na Aifu do dia 20 de outubro, sem utilização de equipamentos sonoros.

A administração municipal ainda afirma que situações de perturbação do sossego e demais irregularidades que ocorrem nas áreas públicas estão sendo monitoradas por ações conjuntas entre as secretarias municipais (SMMA, SMU e Setran) e a Guarda Municipal e Polícia Militar. Além disso, a prefeitura intensificou a limpeza da área com o reforço de equipes de coleta e varrição nos fins de semana até a manhã de segunda-feira. Irregularidades e problemas podem ser informados pelo telefone 156.