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Antigos casarões coloniais, ladeados pelos famosos restaurantes e pelo charmoso comércio local. As ruas arborizadas, a vizinhança aparentemente tranquila e a tradicional gastronomia italiana. Esses são alguns fatores que fizeram de Santa Felicidade um dos polos turísticos de Curitiba. Quem vê tudo isso de fora, no entanto, não imagina que a crescente falta de segurança tem perturbado a população do bairro, que, cada vez mais, sofre com roubos, furtos, invasões, assaltos e até mortes.

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Leila Ulian, é professora aposentada. Moradora da região há 40 anos, ela se lembra do bairro tranquilo, da época em que sua família se mudou para lá. “Era tudo chácara, um sossego só. A minha era uma das três casas da rua toda. Naquele tempo a gente não tinha medo como agora”, lamenta.

Moradora há 40 anos, Leila lembra do bairro tranquilo: a gente não tinha medo como agora. Foto: Daniel Caron
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Localizada perto da Avenida Fredolin Wolf, a residência de Leila foi alvo de quatro invasões, somente nos últimos dois anos – duas delas aconteceram entre dezembro de 2016 e abril de 2017. Nesta última, bandidos armados renderam parentes no portão e roubaram um dos carros da família. “Entraram apontado a arma para meus netos, foi horrível. Fugiram com o carro e ninguém se machucou. Mesmo assim, a sensação de vulnerabilidade permanece”, diz. O carro – um Fusca 79 – foi recuperado horas depois e voltou à garagem da família, que foi obrigada a reforçar o gradeamento ao redor da casa.

Virou rotina!

Pela vizinhança, situações parecidas se repetem. Assaltos, abordagens e roubos são relatos comuns entre a população do bairro.  De acordo com Pedro Vidal, diretor do Conselho de Segurança (Conseg) da regional – que abrange Santa Felicidade, São Braz, Orleans e Cascatinha -, o aumento da violência na região é consequência de apenas um fator: o tráfico de drogas.

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“O consumo e venda de entorpecentes é algo que tem aumentado muito não só aqui, mas em toda a cidade de um modo geral. Bairros que antes eram tranquilos, hoje são alvo da ação de traficantes, e as pessoas de bem acabam sendo as mais prejudicadas. É o que acontece em Santa Felicidade”, aponta.

Tiroteio com duas mortes em Santa Felicidade. Foto: Daniel Caron

Sem hora para acontecer, as ações criminosas chegam algumas vezes a extremos. É o caso de uma ocorrência registrada há duas semanas na Rua Padre Cobalchinni, que foi cenário de uma tentativa de assalto a residência em plena luz do dia. A ação resultou numa troca de tiros entre criminosos e polícia e chamou a atenção justamente pelo horário em que aconteceu – perto do meio-dia. No tiroteio, dois bandidos foram mortos.

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Não “bate”

Vaga destinada a viatura policial na Avenida Manoel Ribas. Foto: Felipe Rosa

Quando se fala em números de crimes, há divergências entre os dados oficiais e a percepção do povo. Em nota enviada à Tribuna, a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) informou que, em comparação com o ano passado, o número de roubos e furtos diminuiu em Santa Felicidade no primeiro semestre. Segundo a Sesp, foram 303 furtos em 2016, contra 294 em 2017, no período. A pasta divulgou ainda que a quantidade de roubos caiu de 242, no ano passado, para 233 esse ano.

Indigestão

No comércio do tradicional bairro gastrônomico, a falta de segurança se manifesta em arrombamentos e furtos, que acontecem normalmente de madrugada. Nem mesmo os tradicionais restaurantes italianos do bairro estão livres dos criminosos, que agem de forma cada vez mais ousada. No início de novembro, uma sequência de invasões a estabelecimentos, nas avenidas Manoel Ribas e Toaldo Tulio, assustou empresários do setor.

Moradores e comerciantes de Santa Felicidade estão com medo. Foto: Daniel Caron

O dono de um restaurante, que não quis ser identificado, afirmou à Tribuna que, na mesma semana, três estabelecimentos foram invadidos em datas diferentes, pelo mesmo homem – identificado por meio de câmeras de segurança. “Ele entrou em três restaurantes para roubar dinheiro do caixa e itens como computadores e caixas de som. Eu chamei e a polícia atendeu rápido. O problema é que esses bandidos não são presos. E quando são, saem em poucos dias”, afirmou.

Além de atuar no comércio de Santa Felicidade há 20 anos, Ana Moro também é moradora do bairro. Ela afirma que a proximidade e o fácil acesso da região às rodovias fazem da região uma rota de fuga para os criminosos. “Praticar um roubo aqui e num bairro como o Água Verde, por exemplo, é muito diferente. Saindo daqui, em 5 minutos é possível acessar qualquer rodovia de acesso ao interior ou a cidades da região metropolitana”, afirmou.

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Restaurantes da Manoel Ribas também estão na mira dos bandidos. Foto: Felipe Rosa

Soluções

Para tentar diminuir a sensação de insegurança, empresários organizaram um grupo de auxílio mútuo, no qual são dados alertas relativos a movimentos suspeitos no comércio local. Da mesma forma, por meio de grupos organizados nas redes sociais, moradores do bairro se mobilizam para tentar se proteger.

Diante da insistência da população, uma reunião foi marcada para o dia 7 de dezembro. Na audiência, que vai reunir autoridades policiais, políticas e moradores, serão discutidas soluções para combater a criminalidade no bairro. Maicon Ramos, 22, é morador de Santa Felicidade, e estará presente na reunião. “Esperamos que medidas eficazes de policiamento sejam adotadas. A população não pode mais ficar refém do crime”, diz.

Por meio de nota, a Polícia Militar informa que “faz o policiamento ostensivo e preventivo na região, com os meios materiais e humanos que possui, aplicando equipes da Radiopatrulha (RPA), da Rondas Ostensivas Tático Móvel (ROTAM) e da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (ROCAM), além dos módulos móveis”. A PM reforça a necessidade das denúncias, por parte da população, por meio do número 190, além do registro do boletim de ocorrência, para que a distribuição do policiamento seja feita adequadamente.