Santa Cândida

Demorou!

Imagina só: você trabalha duro para conquistar espaço no mercado e mesmo na crise faz de tudo para manter os funcionários em sua empresa, mas vem um bandido e faz a limpa em sua loja. Pensando que teria um respaldo, você chama a Polícia Militar, que demora dois dias para vir atender a ocorrência. Foi o que aconteceu com um empresário do bairro Santa Cândida, em Curitiba.

A loja de informática de Wyldwagner Neris de Souza, de 26 anos, que fica na Estrada de Santa Cândida, foi invadida por quatro bandidos na madrugada de 20 de agosto, um sábado. “Pela manhã, quando chegamos para trabalhar, encontramos tudo revirado, com um buraco enorme feito em uma das portas e chamamos a PM, mas a viatura não veio”, conta.

Wyldwagner
Wyldwagner: “Chamamos a PM, mas a viatura não veio”.

Na segunda-feira (22), dois dias depois do furto e após várias ligações, uma equipe do 12º Batalhão da PM foi ao local para elaborar o boletim de ocorrência. Para completar a indignação do empresário, os policiais que atenderam à situação desabafaram dizendo que não tinham ido ao local antes porque estavam sem viatura para atender às ocorrências. “Aí a gente percebeu que, definitivamente, estamos perdidos mesmo”. Como a Tribuna noticiou recentemente, em alguns bairros da capital comerciantes estão tirando dinheiro do bolso para consertar viaturas da PM.

A ação dos bandidos começou por volta de meia-noite e durou mais de uma hora. “Eles chegaram, cortaram o fio do telefone e do alarme para que não disparasse. Fizeram de tudo para que não fossem vistos, mas sabiam que viatura mesmo não iria passar por aqui, porque realmente não temos patrulhamento. Eles agiram na certeza de que não seriam descobertos no momento”, desabafa o empresário.

Um dos quatro assaltantes ficou dentro de um carro, dois ficaram do lado de fora e apenas um entrou, arrombando o cadeado que prendia a grade da porta dos fundos e abrindo um buraco na madeira. No interior da loja, o bandido começou uma verdadeira “faxina”, mas não pegava o que via pela frente. “Ele parecia escolher o que levaria. Com uma das mãos segurando ao ouvido o que parecia ser um celular, ele foi em direção somente a objetos caros e parecia receber orientação sobre o que pegar ou não. Estava apressado, mas não se preocupava em parar e escolher”.

Os bandidos levaram aproximadamente R$ 8 mil em equipamentos. “Pegaram tablets, notebooks, fones de ouvido, enfim, escolheram o que lhes interessava. O que nos pareceu é que foi alguma coisa encomendada”.

Inseguros e desanimados

Foto: Gerson Klaina
Foto: Gerson Klaina

Quando chamou a PM, mesmo sabendo que o furto já tinha acontecido, o empresário esperava que os policiais pudessem ajudá-lo a, pelo menos, se sentir amparado. “Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. Nós reparamos que estamos, na verdade, abandonados pelo governo. E o pior: não só nós, a população e os comerciantes de modo geral, mas os próprios policiais”.

Conforme Wyldwagner, o problema enfrentado por ele já é rotina no bairro. “Outros comerciantes da mesma rua já sofrem com os ataques dos bandidos, furtos e assaltos à mão armada são rotina. Nossa loja ainda não tinha sido alvo porque investimos muito na proteção, mas agora reparamos que o problema é muito sério. Os bandidos não tiveram sequer medo de entrar, porque eles sabiam que uma viatura não iria passar”.

A espera de dois dias para que uma viatura viesse atender a situação pareceu uma eternidade, segundo o empresário. “E aí, quando eles (os policiais) vieram, chegaram com um desabafo desses, muitas dúvidas vieram em nossa cabeça. Se não tem uma viatura para atender a uma ocorrência, que dirá para o patrulhamento”, lamenta.

De mudança

Foto
Foto: Gerson Klaina.

Por causa do furto, a empresa, que está há um ano e meio no mesmo endereço, vai sair do bairro Santa Cândida. “Essa é uma tentativa para continuarmos firmes, ainda mais num período tão crítico em que vivemos. Começamos a empresa literalmente do zero, fizemos e continuamos fazendo muitos esforços, principalmente para honrar com nossos funcionários, pra perdemos tão fácil para os bandidos, mas chega uma hora que temos que pensar”.

O empresário ainda não sabe qual vai ser o novo endereço, mas, junto com o sócio, têm a certeza de que ali não ficam mais. “Não podemos mais permitir que outra invasão aconteça. Não temos mais como arcar com tanto prejuízo”. O boletim de ocorrência também foi registrado na Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), mas Wyldwagner não acredita que vá adiantar. “Sinceramente? Perdemos as esperanças”.

PM nega falta de viaturas

A Polícia Militar, através da assessoria de imprensa, não comentou sobre a demora dos policiais em atender a ocorrência. De acordo com a PM, o policiamento, feito pelo 20º Batalhão, é feito e não faltam veículos. O número de viaturas disponíveis na região não foi informado, conforme a PM, por uma questão de segurança.  O problema com a falta de viaturas também atinge o Corpo de Bombeiros. Em julho, a Tribuna mostrou a situação precária das ambulâncias e caminhões de incêndio.

Segundo a nota da PM, os policiais trabalham “com meios humanos e materiais que a unidade possui no momento”. Para melhorar o policiamento em diferentes regiões, a PM está formando mais de 2 mil soldados, que serão distribuídos nas regiões com maior necessidade.

Refoço na frota

Bandido quebrou a câmera de segurança. Foto: Gerson Klaina
Bandido quebrou a câmera de segurança. Foto: Gerson Klaina

Enquanto muitos policiais militares lidam com as dificuldades e, em grande maioria das vezes, a vergonha de enfrentar a população com viaturas precárias, o governo do Paraná anunciou que novos veículos devem chegar nas próximas semanas. Conforme a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp-PR), serão 200 viaturas, ao custo de pouco mais de R$ 7 milhões por ano, que vão circular como um projeto-piloto em Curitiba e região metropolitana e depois replicado para os grandes centros urbanos, como Londrina.

Segundo a Sesp, os carros serão locados, e não comprados, por questões econômicas e de manutenção. A empresa que ganhou a licitação foi a Cotrans, pois apresentou o menor valor: 45% abaixo do teto máximo estipulado, de R$ 11 milhões. A Cotrans receberá R$ 3.054,00 mensais por carro. A empresa ainda precisa apresentar todos os documentos para ser declarada vencedora e a licitação ser homologada.

Além das viaturas locadas, a Sesp informou que está na fase de levantamento de preço para lançar uma licitação para a compra de outros mil novos veículos.

Locação promete melhorar patrulhamento

Foto: Gerson Klaina
Foto: Gerson Klaina

A manutenção das viaturas alugadas será de responsabilidade da locadora. A promessa é de que essas 200 viaturas rodem diariamente sem interrupção. Quando for necessário fazer manutenção básica, como troca de óleo e filtro, o carro será deixado na locadora, a quem caberá fazer e custear o serviço, e outra viatura será disponibilizada pela empresa – sem que seja interrompido o patrulhamento da PM.

As viaturas serão do modelo Toyota Etios, escolhido pela locadora. Os carros virão equipados com radiocomunicador digital criptografado, plotado e com equipamentos sonoros, além do sistema de localização que permitirá acompanhar em tempo real, no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), o deslocamento das viaturas. A intenção é que as viaturas e os policiais estejam nos horários e locais com maior incidência criminal.

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Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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