Os moradores do Jardim Aliança, no Santa Cândida, nem têm mais esperança em ver a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Rua José Ursulino Filho funcionando. A obra que abrigaria o posto está parada, pelo que se recordam, há pelo menos dois anos. Abandonado com 72% de execução, como os Caçadores de Notícias já mostraram, o prédio tem vidros quebrados, pichações e fiações arrebentadas. Materiais de construção se deterioram dentro e fora do imóvel, que virou moradia para dois cães. Eles têm até cobertinha e potes para ração e água.

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Jurandir: Desde antes da Copa do Mundo que ninguém mexe aí.

“Desde antes da Copa do Mundo que ninguém mexe aí. Essa obra é coisa antiga, começou quando o Beto Richa era prefeito e o (Luciano) Ducci era secretário de saúde, continuou quando o Ducci virou prefeito, e desde que o Fruet pegou não foi mais pra frente. Aí já morou mendigo, depois teve um senhorzinho que cuidava e trouxe os cachorros dele. Há uns oito, dez meses, a filha desse senhor veio trazer uma refeição e encontrou o corpo dele, estava já há dois dias morto aí dentro. Ficaram só os cachorros”, conta o taxista Jurandir Tagliamento, 54, que mora bem próximo à construção.

Segundo ele, houve um tempo em que a unidade tinha vigia, mas a atividade também parou. Quando suas filhas, com quem mora, necessitam levar seus netos para consultas médicas, têm de se deslocar até a UBS do Santa Cândida. “Tem que pegar ônibus, aqui é tudo cheio de morro.

Marido de Marilda precisou ir a um outro posto para se consultar.

Sendo que podia ter atendimento aqui na frente! O posto está praticamente pronto, era só equipar e trazer gente pra trabalhar”, protesta.

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A aposentada Marilda Staben, 70, mora a 20 metros da obra e também está indignada. “Não tem jeito, está parado, não vai pra frente. E o povo precisando. Hoje mesmo meu marido teve que ir ao médico, foi lá no posto do Santa Cândida, do lado da Rua da Cidadania”, conta. Sobre o motivo da paralisação, ela só ouviu boatos. “Pelo jeito, é falta de verba, como sempre. Pra onde vai o dinheiro que eles arrecadam é que eu não sei. Está tudo abandonado, pichado, teve época que isso aí era uma maloqueirada, dava até medo de passar na frente.”

Sem previsão

Prefeitura de Curitiba não tem data para retomar as obras. Foto: Felipe Rosa

A prefeitura de Curitiba não tem data para retomar as obras. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), os trabalhos pararam no primeiro trimestre de 2015, e a construtora responsável pelo empreendimento perdeu o direito da obra em fevereiro de 2016, devido a problemas administrativos e financeiros.

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“Os problemas foram agravados pelos atrasos no fluxo de repasses do governo estadual ao longo da obra. Desde o início de 2015, a empresa foi acionada diversas vezes pelo município e sempre garantiu a retomada do empreendimento. Desde que a contratada perdeu o direito da obra, a construção passou a ser monitorada pela Guarda Municipal. A prefeitura tem tentado viabilizar a continuidade da obra sem a necessidade de uma nova licitação, convocando as outras empresas participantes da concorrência inicial”, afirma a SMS.

Assim que a obra for retomada, a previsão é de que a unidade de saúde seja concluída em cinco meses. O contrato com o governo do Estado foi renovado e tem validade até junho de 2017.

A administração municipal acrescenta ainda que o início da construção foi autorizado somente em dezembro de 2012, fim da gestão Ducci, e que foi feita uma medição da obra no início da gestão Fruet, em fevereiro de 2013, que constatou que a execução da obra estava em 6,24%.

Falta uma parcela

O governo do Paraná diz que não tem nenhum débito com o município de Curitiba referente à construção da UBS. “Pelo convênio firmado, os pagamentos são feitos pelo Estado conforme a medição da obra. A unidade Jardim Aliança está com 72% da obra e já recebeu cinco das seis parcelas previstas no convênio. A sexta e última parcela será paga quando a unidade estiver com 90% da obra concluída. Estamos aguardando novas medições da prefeitura, porém, mesmo que tivesse uma nova medição, ainda não conseguiríamos repassar o recurso, pois o município está sem certidão no Tribunal de Contas”, informa a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Obra retomada no CIC

A outra unidade de saúde que estava com obras paradas na capital teve a construção retomada no início deste mês. Segundo a prefeitura, a obra da Campo Alegre, no CIC, que ficou parada com 69,40% de execução, deve ser concluída ainda neste ano. A previsão é que os moradores da região comecem a ser atendidos na unidade no início de 2017. Como a Tribuna já noticiou, o local foi transformado em mocó após a interrupção dos trabalhos.

O município alega que o cronograma foi comprometido por atrasos no fluxo de repasses do governo estadual ao longo da construção – com algumas pendências que levaram até 23 meses para serem quitadas. Os constantes atrasos acarretaram no abandono do empreendimento pela empresa vencedora da licitação ainda em 2014. A administração se preparava para lançar nova licitação para dar continuidade à obra, mas conseguiu que uma construtora com empreendimento no bairro Cascatinha termine os serviços, graças a uma medida compensatória de cerca de R$ 1,5 milhão.

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