A Rua Hércules Lopes, no bairro Afonso Pena, em São José dos Pinhais, esconde uma daquelas histórias de superação que mostram como é possível vencer a batalha contra o vício das drogas. Na casa simples de alvenaria, na esquina com a Rua Hiram Augusto Maia, mora Celso Langner Junior, 33 anos, que foi viciado em crack durante quase duas décadas, hoje está livre da dependência química graças a suas habilidades manuais. “Trabalho com madeira, tijolo, massa, ferro, parte elétrica, telha e mais um pouco de tudo”, diz.
Há um ano e meio livre do vício do crack, Celso conta que começou a usar a droga aos 12 anos, quando ainda frequentava a escola. “Peguei bem o início do crack aqui em Curitiba e logo me viciei. Meus pais eram separados, eu sofria muito no colégio, apanhava muito. E por tudo isso, acabei entrando de cabeça no mundo das drogas e larguei os estudos. Parei na 6ª série”, lembra.
O vício fez com que a vida da família de Celso entrasse em colapso. A mãe, Esther Gomes Ferreira, teve que abandonar o emprego para tentar cuidar do filho. “Tinha um emprego bom, mas tive de desistir para entrar nessa luta. Eram tempos difíceis, não tínhamos nada em casa, pois ele pegava tudo pra trocar por droga”, lembra Dona Esther. “Cheguei a arrancar um chuveiro da parede”, complementa Celso.
Mesmo tomado pelo vício, Celso nunca deixou de lado suas habilidades como construtor, aprendidas ainda na infância por influência do pai e de um tio. Desde pequeno, ele domina a manipulação de madeira e ferro. Além disso, é um pedreiro de mão cheia e ainda constrói suas próprias ferramentas. “Nunca roubei pra pagar meu vício. Pelo contrário, fazia pequenas obras e reforma em troca de droga, utilizando tudo que eu tinha aprendido desde pequeno”, conta.
“Pau pra toda obra”
Dentro da casa onde mora com a mãe, há diversos móveis feitos por Celso. Para aumentar a área do imóvel, ele construiu uma nova cozinha e um ático, onde montou o quarto da filha. Na vizinhança Celso é conhecido como “pau pra toda obra”. “Vivo fazendo pequenas reformas, calçadas e outros serviço pros vizinhos. É gratificante, porque antes eles fugiam quando eu andava na rua. Já hoje me chamam pra trabalhar dentro de suas casas, mostrando confiança em mim e no meu trabalho”, comenta, orgulhoso.
Sobre a possibilidade de transformar suas habilidades em um trabalho formal, Celso afirma que ainda não é hora. “Estou me cuidando e quando estiver pronto, com certeza vou trabalhar numa empresa grande. Mas agora estou bem assim e quero continuar junto da minha família”, fala. “Mas quero que as pessoas saibam da minha história. Eu estava acabado e estou superando tudo graças a algo que eu amo fazer. E é isso que eu indico pra todos que passam pelas situações que passei. Se agarrem na família, em Deus e em algo que gosta. Tem que focar e manter a cabeça ocupada. Tenho certeza que tudo vai dar certo”, conclui.