Novo Mundo

Rio assassinado

Escrito por Tribuna do Paraná

Ter a casa alagada durante uma enchente não é o maior medo de um grupo de moradores que reside à beira do Rio Formosa, no final da Rua Neuza Maria Lorenzini, no Novo Mundo. O que mais incomoda é a poluição do rio, causada tanto por dejetos sanitários, quanto por produtos químicos.

A nascente do Rio Formosa fica bem embaixo do Hospital do Trabalhador e passa atrás – e até dentro – de várias construções da região, como o quartel da Polícia Militar, um complexo empresarial na Rua Frei Gaspar Madre de Deus, diversos prédios residenciais e áreas de invasão no bairro. Os Caçadores de Notícias estiveram lá e constataram o despejo de dejetos bem em frente à residência do produtor de artigos esportivos e pastor evangélico Sebastião Vieira Soares, 52 anos.

Andando à beira do riacho há três canos de esgoto, que saem do muro dos fundos do complexo empresarial. No primeiro havia água e muitas fezes – provavelmente humanas – saindo. O mesmo acontecia no segundo cano que saía do muro. Mais adiante há uma manilha, com cerca de 60 centímetros de diâmetro, e mais um cano, que no momento da visita não estava despejando nada. No entanto, Sebastião conta que várias vezes na semana, dali e dos outros canos saem produtos químicos que deixam o riacho completamente vermelho. Em outras ocasiões, ele diz que a água fica totalmente branca, parece tinta. Sem contar o cheiro, que fica insuportável, principalmente nos dias muito quentes.
Um dos pontos de despejo está bem em frente à casa de Sebastião. Foto: Gerson KlainaSebastião disse que já telefonou à prefeitura para denunciar. “Mas eles me pediram pra fazer uma reclamação por escrito, pedindo várias coisas que eu não tinha como conseguir, como o CNPJ da empresa que estava derramando o produto no rio”, conta.

Limpeza por conta própria

Na tentativa de amenizar o problema, Sebastião tenta manter o local limpo, pagando do bolso as roçadas de mato na beirada da água e retirando lixo e entulho que são trazidos pela correnteza. “Esses tempos tiramos quase quatro caçambas de sujeira”, diz o morador, mostrando outra pilha de restos de construção que tirou de novo nas últimas semanas.

O vendedor Manoel Messias de Oliveira, 60 anos, que também mora no fim da rua, já tem até uma bota especial pra entrar dentro da água suja e manter o local limpo, para evitar que a manilha ao lado de sua casa entupa e cause uma enchente durante uma chuva forte.

Sebastião também mostrou o muro de contenção que ele próprio construiu e as plantas que colocou nas beiradas que ficaram só com barro, depois das últimas limpezas. Há abacateiros, amoreiras, pinheiros, cactos e até uma seringueira. Sem contar o casal de gansos que ele cria na beira do rio, sonhando em ter mais animais andando livres por ali, num local sem poluição. “Antigamente tinha até peixe. Moro aqui há 46 anos”, diz.

O morador mostrou que as casas na beira do rio, como a dele, também despejam esgoto no riacho. No entanto, ele disse que já faz mais de cinco anos que estão pedindo à prefeitura a ligação de esgoto. “Já vieram fazer diversas fiscalizações e fotos. Teve uma vez que a prefeitura nos deu um prazo de 90 dias pra construirmos as caixas de gordura nas casas. Fizemos o que foi solicitado, só que a prefeitura não veio fazer a canalização do esgoto”, disse Sebastião, que ainda mostrou que até um trecho da rua há rede de esgoto. No entanto, a canalização é mais alta do que as casas e não há como fazer a ligação até o sistema de esgoto, sem que a prefeitura faça um reparo deste problema.
Manoel mora perto do rio há 46 anos: “Tinha até peixe”, garante. Foto: Gerson KlainaTubulação sem dono

Eduardo Schulman, que administra o complexo de galpões que faz fundos para o Rio Formosa, disse que apesar dos canos saírem dos muros do empreendimento, talvez não seja de lá a poluição. Ele explicou que aqueles galpões são construções muito antigas e que, por baixo delas, passam dezenas de canos que vem de outros lugares e não pertencem ao empreendimento.

Ele garantiu que o local possui seis fossas sépticas para atender os cerca de 15 banheiros instalados nos galpões e nada é despejado no riacho. “Nós mesmos já procuramos a regional da Fazendinha, já fomos fiscalizados e nada irregular foi constatado. Justamente por estarmos com tudo regularizado é que temos todos os alvarás de funcionamento em dia. Mesmo assim, vamos fazer uma nova verificação, olhar se algum dos inquilinos fez algum tipo de ligação direta com o rio sem a nossa autorização”, adiantou-se o administrador.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente também foi acionada pela reportagem, para verificar se já tinha recebido alguma denúncia de poluição naquele rio. Mas disse que teria que fazer algumas buscas nos sistemas e não poderia responder ontem à solicitação.

Giselle Ulbrich

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