Curitiba

Visão de futuro

Baixo rendimento escolar, dificuldade para compreender o conteúdo ensinado e até desinteresse pelos estudos. Estes são alguns dos obstáculos enfrentados diariamente por crianças em idade escolar que apresentam problemas de visão. Mas graças à ação de voluntários, há mais de 20 anos alunos de escolas municipais de Curitiba e região metropolitana têm conseguido ter acesso a exames preventivos, consultas com oftalmologistas e óculos personalizados, tudo isso sem custo para suas famílias, graças ao Projeto Boa Visão.

“Nós vamos até as escolas, normalmente as mais carentes, e realizamos testes de visão com as crianças que têm de seis a doze anos de idade. Estas ações acontecem durante os meses do ano letivo e cerca de 800 crianças são atendidas anualmente”, explica Celso Satoriva Ross, presidente do Rotary Club Curitiba – Cristo Rei, entidade que comanda o projeto Boa Visão, em parceria com o Hospital Oftalmológico Barigui e a Ótica Winnikes.

Foto: Átila Alberti
Projeto atua há mais de 20 anos em Curitiba. Foto: Átila Alberti

Nas escolas atendidas, as crianças são submetidas a exames que utilizam a escala optométrica: posicionadas a uma distância de cinco metros, elas precisam ler as letras ou números escritos em um cartaz, com um dos olhos de cada vez. De uma linha para outra, os símbolos diminuem de tamanho e neste teste – que possui uma escala de 0 a 0,10 – quem tiver um resultado igual ou inferior a 0,6 é encaminhado para uma consulta com um dos oftalmologistas voluntários, que realizam os atendimentos durante o evento que acontece durante um sábado por mês.

No hospital oftalmológico, durante a manhã toda, 100 crianças das mais de 10 escolas beneficiadas passam pelos exames médicos. Saindo dos consultórios, os pequenos que têm um diagnóstico confirmado entregam suas receitas para a funcionária da ótica, que os ajuda a escolher um par de óculos de sua preferência, já fazendo as medições e os ajustes nas armações. Para quebrar o gelo e a resistência das crianças, elas participam de atividades recreativas. “De perto não consigo enxergar bem. Sento na frente para ver melhor, senão não consigo ler. Quero ver melhor e vou escolher um óculos igual ao da minha tia, de oncinha”, diz Inês (nome fictício), 9 anos, aluna da 4ª série do ensino fundamental.

Responsabilidade social

Foto: Átila Alberti
Mais de 2.250 estudantes foram atendidos pelo Boa Visão. Foto: Átila Alberti

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, um a cada dez estudantes brasileiros abandona a escola durante o ensino médio. Ajudar a reverter este quadro é o objetivo dos parceiros do projeto.

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Liselene: “acredito que esta é uma maneira de fazer a nossa parte”. Foto: Átila Alberti

“Tudo começou com meu marido, o médico oftalmologista Augusto Monclaro. No fim dos anos 80 ele ganhou uma bolsa de estudos do Rotary para estudar no exterior e quando voltou, decidiu participar do projeto. No início, os atendimentos eram feitos em igrejas e nas comunidades. Logo depois, com o apoio de seu sócio, ele trouxe o Boa Visão para o hospital. Depois de sua morte continuamos com o atendimento às crianças. Acredito que esta é uma maneira de fazer a nossa parte e de contribuir com um país melhor”, diz Liselene Monclaro, proprietária do Hospital Oftalmológico Barigui (HBO).

Segundo o HBO, nos últimos três anos, mais de 2.250 estudantes foram atendidos pelo Boa Visão. “Crianças que não teriam condições de passar por uma consulta particular ou que teriam que esperam em longas filas por um atendimento na rede pública passam a ter acessibilidade. Fora o custo dos óculos, que ficaria pesado demais para as famílias”, aponta Lisilene.

Sobre o autor

Paula Weidlich

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