Curitiba

Viajantes cervejeiros

Cansados de trabalhar pensando na próxima viagem, os irmãos argentinos Lucas Marino, 30 anos, e Federico Marino, 28, resolveram largar os empregos e partir numa aventura autossustentável: colocaram o pé na estrada a bordo de um motorhome ano 1964 equipado para a produção de cerveja artesanal, que seria a moeda de troca para obterem combustível e alimento.

Há cinco meses viajando, a dupla de publicitários partiu de El Bolsón, a duas horas da Patagônia, e chegou a Curitiba há uma semana, para participar do Festival Paranaense de Cervejas Artesanais – realizado de 9 a 11 de junho, no Museu Oscar Niemeyer. “Conhecemos mestres cervejeiros, pegamos dicas de onde comprar insumos, fizemos contatos”, conta Lucas. Eles devem ficar até o fim desta semana na cidade, onde estão hospedados na casa da atriz Verônica Rodrigues, no Santa Quitéria. Os irmãos a conheceram em Punta Del Este, no Uruguai, enquanto ela rodava o documentário “De Mãos Dadas”, sobre desconhecidos que vão viajar juntos em um motorhome.

Foto: Felipe Rosa
Dupla de publicitários partiu de El Bolsón e chegou a Curitiba há uma semana. Foto: Felipe Rosa

O veículo dos Marino, batizado de Motorbar, além de duas camas de solteiro, banheiro com duchas quente e fria, cozinha e mesa para refeições, tem dois barris para armazenar chope, cujo design foi desenvolvido pelos próprios irmãos, e também uma janela lateral pela qual desce um balcão de bar. Como o motorhome é antigo, viaja a no máximo 65 quilômetros por hora. Sua caixa de câmbio já quebrou duas vezes. Quando acontece algum problema, os irmãos mesmo consertam, pois normalmente não têm dinheiro para recorrer a uma oficina. Como adaptaram o veículo para virar um “beer truck”, a dupla pegou intimidade com as peças e aprendeu a fazer reparos.

Trocas

Foto: Felipe Rosa
Dupla vieram para participar do Festival Paranaense de Cervejas Artesanais – realizado de 9 a 11 de junho, no Museu Oscar Niemeyer Foto: Felipe Rosa

A produção da cerveja artesanal Sur tem a única finalidade de custear a viagem. Nas cidades menores, é mais fácil trocar o produto por óleo diesel, farinha, leite ou verduras. Já nos grandes centros, há mais resistência em aceitar a bebida no lugar do dinheiro, contam eles. A garrafa de 600 ml custa R$ 15, e é baseado nesse valor que ocorrem os escambos. “Geralmente quando trocam por comida nos dão uma quantidade bem maior que o valor da cerveja”, comemora Federico. “Conhecemos pescadores ‘muy buena onda’, que nos deram muito peixe.”

Um porém do sistema de trocas é que, quando não há cerveja, não há comida. “Houve momentos em que não tínhamos nada para comer, e outros, em que havia abundância”, diz Federico. Um dia de vacas magras foi quando a dupla passou da Argentina para o Uruguai. Como não sabiam se poderiam cruzar a fronteira com grandes quantidades de cerveja, foram com os barris vazios. Tiveram de se virar até “cozinharem” um novo barril, processo que dura no mínimo 10 dias.

Para produzirem cerveja, os Marino precisam estacionar, já que o processo não pode ser feito em movimento. Nessas ocasiões, recorrem a casas de conhecidos cervejeiros ou de gente como Verônica, que vão conhecendo pelo caminho. Desde que partiram de El Bolsón, já “cozinharam” cerca de 10 vezes – a produção rende 75 litros e dura de duas semanas a um mês.

Aventuras

Foto: Felipe Rosa
A produção da cerveja artesanal Sur tem a única finalidade de custear a viagem. Foto: Felipe Rosa

Em suas andanças, os irmãos já se depararam com o azar e com a sorte. Passando por Barra de Ibiraquera, perto de Imbituba (SC), eles procuravam um lugar onde pudessem parar e produzir cerveja. Rodando pela beira-mar, avistaram uma grande aglomeração de gente. Mal estacionaram próximo à praia e foram enxotados pelos banhistas, que disseram que o motorhome não poderia ficar ali, pois havia uma baleia morta encalhada. “Explicamos que estávamos procurando um local para cozinhar, e logo alguém indicou um cervejeiro que morava ali perto. Foi a nossa salvação”, relata Federico.

Os Marino produzem cerveja artesanal há um ano e meio. “Tivemos amigos muito especiais e importantes que nos ensinaram a produzir, e que fazemos questão de agradecer: Flaco Johnny e Dario, da cervejaria Lehue, e Sebastián e Saulo, da cervejaria Pacha”, listam. Quem quiser conhecer a cerveja Sur e ajudar a custear a aventura dos irmãos, pode passar na casa de Verônica nesta semana.

De Curitiba, a dupla pretende rumar para Santos (SP). “Nosso sonho é que essa viagem dure pelo menos três anos e chegue até o México”, diz Lucas. “Depois, queremos muito ir para a Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Somos amantes do futebol”, completa Federico.

Serviço
Motorbar com cerveja artesanal Sur
Facebook: Motor Bar Sur
Estacionado esta semana na Rua Vieira Fazenda, 954 – Santa Quitéria Garrafa de 600 ml custa R$ 15

Sobre o autor

Luisa Nucada

(41) 9683-9504