Curitiba

Um ano, oito perguntas

Escrito por Lucas Sarzi

Tribuna faz entrevista coletiva com o prefeito e abre espaço pra “repórteres do povo”

“Tive que recuperar a capacidade da prefeitura em ser prefeitura. Agora acabou a tranqueira”. Assim definiu Rafael Greca (PMN) sobre seu primeiro ano à frente da prefeitura de Curitiba. A resposta, à Tribuna, veio durante uma entrevista coletiva em que os repórteres eram quem mais conhece dos problemas da cidade no dia a dia: o povo.

Oito pessoas, quatro convidadas pelo jornal e outras quatro pela prefeitura, tiraram dúvidas sobre o trabalho desempenhado neste primeiro ano e o que vem pela frente. A promessa é de que em 2018 o trabalho vai ser intenso.

Rafael Greca explicou que seu primeiro ano de trabalho foi problemático por conta de várias pendências deixadas pelo governo anterior. “Peguei a prefeitura toda engatada, devendo muito dinheiro, sem poder fornecer medicamentos para os postos de saúde. Os fornecedores estavam com dívidas, contas atrasadas e, pior que isso, mesmo que houvesse dinheiro de impostos, não havia autorizações legais para pagamento”.

Foto: Marcelo Andrade.
Foto: Marcelo Andrade.

Segundo o atual prefeito, “Gustavo Fruet (PDT) deixou a prefeitura extenuada”. “Fomos desmanchando os nós e agora a casa está em ordem, vou ser prefeito direito, do jeito que eu gosto de ser”, explicou Greca, comparando que “foi muito pior pegar a prefeitura de Fruet do que de Jaime Lerner”.

O que foi feito?

À Tribuna, o prefeito fez um balanço rápido de tudo o que precisou ser realizado para, segundo ele, fazer com que a prefeitura voltasse a funcionar. “Tive que colher as podas vegetais, tapar buracos, abrir a usina de asfalto, comprar remédios”.

Além do trabalho administrativo, na área da saúde Rafael Greca comentou que foi preciso intervir de forma incisiva. “Tive que fazer funcionar o laboratório municipal, que existia uma ordem de que só poderia fazer 8 mil exames por mês, quando precisamos de uma média de 300 mil para atender a rede de saúde da cidade”.

Vai ser feito!

Mesmo com o orçamento de quase R$ 9 bilhões para o ano que vem, algumas promessas de campanha vão continuar congeladas. Greca ressaltou que a prefeitura ainda não tem dinheiro para bancar o chamamento dos 400 guardas municipais, conforme prometeu, inclusive em entrevista à Tribuna. “Estou chamando 77 guardas para suprir os que estão se aposentando. Mas os 400 eu não consigo porque não tem como pagar”.

Antes de mais nada, os primeiros compromissos para o ano que começa devem ser licitações. “Vamos fazer todas as licitações de todo o dinheiro que arranjei para fazer funcionar a cidade, todas em janeiro, para rapidamente fazer a burocracia andar”.

Além disso, Rafael Greca prometeu abrir a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). “Está engatada nas mãos de uma promotora pública, que não quer a terceirização. Uma UPA terceirizada custa R$ 800 mil mais barato que uma pública”, defendeu o prefeito, completando a ideia de que deseja “atender o máximo de pessoas”.

Foto: Marcelo Andrade.
Microfone da Tribuna do Paraná foi passado para oito pessoas que repassaram suas dúvidas ao prefeito. Foto: Marcelo Andrade.

Veja o que respondeu o prefeito aos eleitores convidados para a entrevista coletiva:

Convidados da Tribuna do Paraná

Paulo José da Costa, 67 anos, aposentado: Temos certo desassossego com alguns bens que estão sendo castigados, estão sofrendo na cidade, e achamos que a prefeitura e o governo do Estado poderiam nos ajudar a conservar isso. A casa Erbo Stenzel, o Belvedere, o Cemitério Municipal, o Bosque Bom Retiro (que vai virar um mercado).

Greca: Sobre o que aconteceu com a casa Erbo Stenzel, o Belvedere e até mesmo os furtos no Cemitério Municipal, tudo tem um nome: drogadição. O Belvedere pegou fogo porque a Academia de Letras assumiu e não botou guarda. Disponibilizei o dinheiro e a academia não tinha os documentos para usar o dinheiro que estava em conta. Nem tudo é culpa do prefeito. A casa Erbo Stenzel pegou fogo por completo, como mostra o laudo dos bombeiros. Temos o levantamento arquitetônico dela, podemos mandar fazer de novo, mas o importante é que a obra eu salvei. Com relação ao Bosque Bom Retiro, aguardo que a população faça um crowfunding (financiamento coletivo) e a gente compra o terreno para não haver o supermercado. Com relação ao bosque e as nascentes, estão conservados, porque a legislação contempla o bosque e ele não vai ser tocado. Agora, o terreno particular, que foi vendido em 2012 e teve alvará dado pelo ex-prefeito em 2015 para construção, está legalizado.

Fábio Muniz, 41 anos, professor universitário: Queria saber sobre o transporte público, a Linha Verde, a obra do terminal do Santa Cândida. Também sobre a insegurança no Centro da cidade.

Greca: A Linha Verde é uma rua de 29 quilômetros que vai de Mandirituba e Fazenda Rio Grande até o Atuba e Colombo. Ela ficou muito bonita, em um trecho que ficou pronta, mas em outros deixou a desejar. Estou terminando um trecho agora em março, o do Jardim Botânico, até a Fagundes Varela. Vou lançar a licitação em janeiro para o trecho final, que vai da Fagundes Varela até o terminal do Atuba. Ela vai ficar pronta em 2019. O Terminal do Santa Cândida foi mais um fiasco da gestão que me antecedeu. Estamos terminando. São 3 milhões em obras, que foram recentemente licitadas. A empresa faliu porque ficou sem receber da gestão anterior. A obra foi retomada e vamos terminar. Quero também terceirizar os serviços dos terminais. Nesse período do natal as ruas e praças estão sendo bem cuidadas, pela Guarda Municipal e a Polícia Miliar, e a nossa intenção é fazer com que isso continue. Problema é que não temos efetivo necessário para que isso aconteça. Tenho 1300 guardas, mas pelo horário de trabalho, tenho no máximo 450. Precisamos de mais guardas, mas no momento, com as finanças combalidas, não temos como chamar mais.

Tina Santos, 37 anos, promotora de eventos: Sobre recursos para instituições que trabalham com a prefeitura. Existe alguma verba destinada para estes projetos, vai mudar, como está para o ano que vem?

Greca: Nós pegamos isso tudo muito debilitado. A FAS está trabalhando para garantir os recursos federais e estaduais. Tivemos orçamento elaborado por nós para as entidades conveniadas, que vão ser amparadas. Sobretudo as que trabalham com crianças e adolescentes. Também vamos abranger quem trabalha com as entidades que trabalham com as classes drogatizadas.

Luiz Tadeu Seidel, 64 anos, líder comunitário: Antes de mais nada, é muito satisfatório saber que um prefeito tem uma energia na área cultural. Já fiz pedido e o Farol do Saber do Conjunto Solar e precisa de reforma. Vejo muito tapa buraco. Que 2018 venha com Curitiba colocando qualidade.

Greca: Os faróis do saber vão ser requalificados e dez deles vão ser transformados em farol da inovação. O farol do Conjunto Solar, que eu construí, vai ser restaurado, vou mandar ver o que está acontecendo lá. Sobre os tapa buracos, não existem mais. Estamos trabalhando em fresagem, recape e recomposição da rua por completo. A usina da prefeitura está funcionando, nós mesmos fazemos nosso asfalto. Fizemos 62 ruas neste ano, mas agora vamos fazer muitas, quase 350 que estão no projeto. Vou fazer as trincheiras da Linha Verde, da Rua Primeiro de Maio e da Rua Santa Bernadete. Já na Rua Anne Frank, um viaduto porque tem o rio. Vamos abrir o viaduto sem alças da Vila Pompeia, que foi deixado inacabado, e vamos começar o ano inaugurando a trincheira do Ceasa. Fazer o viaduto do Orleans, a trincheira da Bispo Dom José com a Mario Tourinho e a cidade vai funcionar. Teremos muitas obras de asfalto, são R$ 278 milhões em obras.

Convidados da Prefeitura de Curitiba

Pâmela Natália da Silva, 27 anos, assistida pelo Cras: Eu quero saber sobre emprego e as casas da Cohab, porque venho de uma comunidade do Pinheirinho, a Vila São Carlos, e tem muita gente lá que está igual a mim, sem casa para morar e esperando na fila.

Greca: A Cohab existia com recursos do Governo Federal, então naquela época fizemos muitas casas. Hoje, esse recurso não existe mais, foi transferido para o “Minha Casa, Minha Vida”. Estamos terminando 1700 casas que recebi inacabadas. Entreguei algumas no Barreirinha, vou terminar as inacabadas no Parolin, outras nas áreas de remoção de pessoas de inundação no rio Barigui. Temos outro programa perto do Caximba, em cima do rio Barigui, e posso tentar montar um programa com vocês, junto com o próprio Ceasa, se conseguirmos arrumar uma faixa de terreno. Sobre emprego, oriento que procurem os CRAS, que temos 45 unidades, as assistentes são habilitadas para encaminhar para as vagas de emprego.

Catarina Fressato dos Anjos, 71 anos, aposentada: Estamos muito felizes com o posto da Vila São José, no Passaúna, e com a creche e com o CRAS, mas o CRAS precisa de mais gente trabalhando. Vim fazer uma reivindicação para pedir reforço para a equipe.

Greca: A FAS tem perto de 1100 funcionários. A ideia de um CRAS na Vila Feliz e outro no Jardim Gabineto tem que ser colocada em consideração para a presidente da FAS.

Pedro Sinhuk, 10 anos, estudante: Sei que há muitas crianças que estão desabrigadas ou que moram em lares provisórios em Curitiba. Tem algum projeto que pretende beneficiar essas crianças?

Greca: Os lares provisórios protegem essas crianças enquanto elas não são adotadas ou encaminhadas às famílias ou ainda reinseridas em suas famílias. Vamos manter esses projetos e essas crianças vão ser encaminhadas para escola. Vão fazer programas de esporte e arte. Terão os mesmos direitos que as crianças que têm família. Gosto muito dos “curitibinhas” e eles têm que ter todo o direito.

Ataíde Alves Aranha, da associação de moradores Jardim Eldorado: Acompanho muito seu trabalho. Gostaria de ouvir o que senhor tem em mente para desafogar para nós no Sabará e também no Caiuá? Temos um problema muito sério ali.

Greca: Já vivi esse drama de tentar sair do Caiuá e chegar na prefeitura em pouco tempo no final de tarde. O terminal do Caiuá tem muito trânsito e afunila. Vamos ter que fazer um binário, duas trincheiras pelo Contorno. Até tenho um desenho, da época da campanha, e vou recuperar para colocar no plano de obras.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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