Curitiba

Melhor remédio

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Entidades beneficentes ajudam pacientes pediátricos e crianças carentes por meio da “terapia do riso”

É dia de consulta. Na sala colorida cheia de brinquedos, o som das buzinas e apitos se mistura à música animada. No lugar do estetoscópio, um girassol de jato d’água. Molas e bolinhas multicoloridas tomam a vez das seringas e agulhas. E ao invés de gesso e ataduras, desajeitados sapatões quadriculados e meias listradas. Tudo isso dentro de uma Kombi estacionada na frente do hospital. Este é o projeto piloto do ‘Ambulatório de Palhaços‘ – iniciativa que nasceu há 4 anos no coração da atriz e empresária paulista, Karina Flor, 38. A ideia que começa a sair do papel promete trazer dias mais alegres a crianças internadas em hospitais de Curitiba e Região Metropolitana.

Tudo começou na sala de uma unidade hospitalar onde, junto com outros profissionais, Karina realizava uma ação voluntária. Habituados à realidade dentro dos ambulatórios, os artistas – vestidos de palhaços – realizavam visitas em quartos e unidades de tratamento intensivo com o objetivo de distrair as crianças internadas, trazendo um pouco de alegria com ‘mágicas‘, brincadeiras e piadas. A ideia de fugir do ambiente interno surgiu numa conversa com a psicóloga de um dos hospitais. ‘Tive vontade de fazer algo diferente. Inicialmente, a ideia era ter uma sala ’separada’ dentro de cada hospital, mas o plano se mostrou inviável por conta da mão de obra – de montar e desmontar o cenário a cada visita. Foi aí que veio a ideia de criar um ambulatório móvel, que pudesse se deslocar de um hospital para o outro, sem que fosse necessário desmanchar a estrutura‘, lembra.

Com objetivo de acabar com o medo que muitas crianças têm do médico, e também de atingir outros pacientes das alas pediátricas – não necessariamente internados – o ‘consultório maluco‘ foi a aposta da empresária que agora busca arrecadas fundos para o projeto por meio de incentivos provenientes de polícias públicas, e parcerias com empresas privadas.

Considerada método eficaz para o auxílio no tratamento de uma série de doenças, a ‘Terapia do Riso‘ consiste no estímulo ao riso espontâneo entre pacientes em qualquer situação clínica. Utilizada, por exemplo, como tratamento paralelo em casos de depressão – doença que afeta 4,4% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – a terapia, de fato, traz resultados positivos. Estudos realizados em universidades americanas, como Stanford e Maryland, comprovaram que pacientes expostos à rotina ‘bem humorada‘ ingeriram menos medicamentos para dor e ficaram internados menos tempo que aqueles cujos tratamentos seguiram a rotina hospitalar corriqueira. A explicação vem do cérebro do próprio paciente que, exposto ao riso, aumenta a secreção de endorfina no organismo. Liberada, a substância provoca efeitos como relaxamento das artérias e melhor reação imunológica. Além disso, rir estimula também a produção de adrenalina, proporcionando maior irrigação nos tecidos que, melhor oxigenados, aumentam a capacidade do paciente de resistência à dor.

De acordo com a psicóloga e colunista da Tribuna, Michele Duje, a ‘terapia do riso‘ funciona como uma ‘recarga de energia‘ para pacientes em situações clínicas difíceis, como quadros de dor crônica, por exemplo. ‘Muitas vezes é tão difícil que essas pessoas só focam na dor e não conseguem se distrair. Nesses casos é importante contar com o apoio de profissionais e voluntários que ajudem a ’desligar’ a cabeça dessas dificuldades, trazendo distração e uma visão um pouco mais positiva em relação às circunstâncias‘, explica.

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Consultório maluco

Atentas à questão, autoridades têm promovido políticas de incentivo a projetos do tipo por meio do Ministério da Cultura, por exemplo. No ano passado, Karina apresentou o ‘consultório maluco‘ à entidade que, por meio da Lei Rouanet, foi aprovado e, em outubro, obteve autorização oficial para funcionar. Agora, a empresária pretende arrecadar cerca de R$100 mil para o ‘consultório maluco‘, junto a empresas e instituições privadas com regime tributário baseado em lucro real. Para tanto, ela buscou ajuda de uma consultoria, responsável por apresentar o projeto às companhias e captar os recursos. ‘É preciso conscientizar as empresas em relação à importância das políticas beneficentes. Projetos como esse beneficiam tanto as crianças que necessitam desse tipo de intervenção, como a própria empresa, que acaba representando um papel fundamental como apoiadora de uma ação como essa‘, afirma Simone Nunes, diretora da Saui Cultural – empresa responsável pela consultoria.
Não são apenas os hospitais que podem receber esse tipo de ajuda. Cmeis, orfanatos e ONG’s também precisam de apoio. O coordenador de informações gerenciais, Wagner Franchia, participa de ações voluntárias desde 2014. O foco de atuação da entidade junto à qual trabalha são lares temporários que abrigam crianças vítimas de violência. ‘São crianças que passaram por situações traumáticas e não conseguem enxergar uma realidade de alegria. Muitas vezes, tudo o que precisam é de alguém que se disponha a passar um dia com elas, mostrando que ainda existem pessoas que se importam‘, afirma. Dependendo da situação, a abordagem é feita de maneira específica, levando em consideração o histórico da criança e os motivos que a levaram ao abrigo. ‘Observamos cada caso e procuramos nos aproximar com cuidado, porque muitas vezes eles estão muito machucados física e psicologicamente. A maior alegria é quando a gente percebe que conseguiu tirar pelo menos um sorriso desses pequenos que levaram uma vida tão sofrida‘, explica.

De fato é como diz o ditado: ‘fazer o bem, faz bem‘. De acordo com a psicóloga Michele Duje, os benefícios de projetos como o ‘consultório maluco‘ não recaem somente sobre quem é atendido, mas também sobre quem promove a ação. ‘Quando a pessoa faz bem ao próximo, ela tem a chance de observar uma realidade diferente. Nesse aspecto, sentir que de alguma forma está desempenhando um papel importante na promoção do apoio a quem necessita traz uma sentimento de ’recompensa’. Fazer o bem contagia‘, diz. Para Wagner, o trabalho funciona como uma via de mão dupla. ‘Pras crianças funciona como uma distração. Um momento de alegria, longe dos horrores que viveram. Mas pra mim, mais que um choque de realidade, esse trabalho representa uma nova forma de enxergar o mundo. De repente meus problemas pessoais se tornaram pequenos perto do que essas crianças viveram e, ter a chance de fazer bem a elas, mesmo que por alguns momentos, trouxe novo propósito à vida. O ser humano foi feito pra dar amor ao próximo‘, finaliza.

Quer ajudar o ‘Consultório Maluco‘?
Contato: Saui Cultural – 3088-2130

Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

(41) 9683-9504