Curitiba

Tempo Perdido

Escrito por Samuel Bittencourt

Completamente angustiados. Esse é o sentimento dos alunos da rede estadual de educação, que se aproxima do mês de junho sem ter encerrado nem ao menos um bimestre de conteúdo. Ainda sem previsão pro retorno das aulas, pais e filhos se sentem de mão atadas e preocupados com o rumo das negociações entre o governo e os professores.

A maior dor de cabeça das famílias tem sido sobre como fica a continuidade dos estudos. “Já estamos no meio do ano e eles perderam um semestre inteiro. Fico pensando como eles irão repor todas as matérias. Meu medo é de eles passarem tudo correndo de um jeito sem se preocupar se o aluno irá aprender de verdade”, reclama a vendedora Maria Cristina Silvino de Lima.

A mãe de Vinícius Silvino, 16 anos, conta da dificuldade pra conciliar o trabalho com a supervisão do adolescente. “Acordo cedo e trabalho praticamente o dia todo. Tenho sorte de ter minha mãe pra ficar de olho nele. Apesar da idade, a gente sempre se preocupa”, afirma.

Com pouco mais de um mês de aula, o estudante da Escola Estadual Senhorinha de Moraes Sarmento, conta que apenas fez algumas provas. “Na maior parte do tempo, tivemos aulas vagas. O chato será se tivermos aula no final do ano, pois a família já estava se programando pra viajar e parece que este ano já foi perdido”, se queixa Vinicius. Agora, sem aula, a rotina do estudante é ficar ao lado dos amigos. “Ficamos muito entediados, pois antes, mesmo fora do colégio, tinha trabalho pra fazer, além de ter que estudar pras provas”, diz.

Drama comum

Desempregada, Rosana Michele Daros, mãe de duas adolescentes, também tem passado dificuldades. “Tenho uma filha que estuda em colégio municipal ainda. Mas a mais velha já não sabe o que fazer. Ela tenta estudar, mas desanima, pois terá que rever tudo quando a situação normatizar”, explica. Mesmo morando na mesma cidade, vivendo debaixo do mesmo teto, a realidade que as duas vivem são completamente diferentes. “É complicado, porque enquanto a mais nova estuda o dia inteiro, inclusive, até aula de italiano ele recebe no CEI José Wanderley Dias, a outra que estuda no Colégio Estadual Ângelo Gusso fica cada vez mais desanimada”, revela. Enem tá aí Com as inscrições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abertas desde o último dia 25, os alunos das escolas públicas, que mais necessitam de um bom desempenho nessa porta de entrada pra muitas universidades e bolsas acadêmicas, já estão em desvantagem. “A greve dos professores é garantida pela lei, desde que não haja prejuízo a outras pessoas. Eles podem, e devem lutar pelos seus direitos, mas o mérito em questão não permite que a greve venha a ferir outros direitos”, afirma o presidente da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB-PR, Alexandre Quadros.

De acordo com ele, apesar do estado ter responsabilidade pela greve, os professores também podem ser responsabilizados judicialmente. “O governo é responsável pelos seus funcionários, ele pode ser cobrado, mas judicialmente ele tomou as medidas necessárias pra que as aulas retornassem”, diz.

Segundo a secretária de Estado da Educação, professora Ana Seres, as famílias responsáveis pelos alunos devem ir às escolas e conversar com os gestores responsáveis, pra solicitar que sejam retomadas as aulas. “Há casos de escolas abertas, mas que não estão funcionando totalmente, pois os alunos não vão”, disse Ana Seres.

Sem previsão de retorno

A paralisação das aulas já foi considerada abusiva pelo Tribunal de Justiça. Mesmo assim, a obrigação do estado ainda é de garatir à população o mínimo de 200 dias de aula do ano letivo. Na tentativa de cumprir com esta obrigação, sem ceder pras revindicações dos servidores públicos, o governou acionou a Justiça e cogita registrar faltas dos grevistas nos dias parados.

“Estamos em contato com pais e alunos, comunicando que fiquem em casa, pois apesar de alguns esforços isolados, quem está tendo aula terá que repor. E caso o governo dê as faltas, como ele está ameaçando, os alunos sairão prejudicados também, pois a maioria das escolas aderiu à greve. No caso de faltas, estas aulas não precisarão ser repostas”, aponta o secretário de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), Luiz Fernando Rodrigues. De acordo com ele, até algumas universidades estaduais, como UEM e UEL, prorrogaram a data de seus vestibulares, demonstrando compreensão com a situação dos alunos e professores.

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