Curitiba

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Delegado Jaime Luz, da Delegacia de Proteção à Pessoa. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Escrito por Lucas Sarzi

Em caso de desaparecimento, delegado orienta que a família faça o boletim de ocorrência o quanto antes. De acordo com os registros da DPP, cerca de 100 pessoas por mês são dadas como desaparecidas

Os recentes casos de desaparecimentos em Curitiba levantaram um importante alerta, que é o registro do boletim de ocorrência para estes casos específicos. Isso porque, conforme a Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP), especializada nestes casos, não existe um tempo mínimo para que a família procure ajuda e para que os investigadores comecem o trabalho de busca por quem sumiu. Além disso, a família deve sempre procurar o máximo de informação para o registro da situação e, principalmente, confiar na polícia.

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O delegado responsável pela DPP, Jaime Luz, esclarece que os familiares devem procurar a delegacia assim que notarem o desaparecimento. “Essa coisa de um prazo mínimo de 24h para procurar a polícia é fantasia de novela. Não existe isso. Por isso falamos que é importante que o caso seja comunicado logo à polícia, para que as medidas necessárias sejam tomadas. Cada família sabe sua rotina, então, algo que fuja dessa rotina deve ser comunicado”, explicou.

Funcionando como um braço da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a DPP atende apenas os casos de desaparecimentos em Curitiba, por isso não foi responsável por procurar, por exemplo, a estudante de direito Andrielly, que foi encontrada morta na Estrada da Graciosa. Mesmo assim, são muitos os registros. De janeiro até o dia 10 de julho somam 612 desaparecimentos.

Segundo a DPP, os investigadores trabalham com dois tipos de desaparecimentos: o voluntário e o criminoso. O desaparecimento criminoso é quando envolve sequestro, homicídio ou até mesmo um caso de prisão da pessoa, que não foi comunicado à família. O voluntário é quando a pessoa sai de casa, por conta própria ou não, por algum motivo. Em ambos os casos, a maior incidência é de adultos de 18 a 60 anos, que costumam ficar até sete dias desaparecidos. Os adolescentes, que costumam fugir de casa, ficam até no máximo três dias.

BO perfeito

Em Curitiba, aproximadamente 90% dos casos são elucidados. O delegado explica que o trabalho intenso dos policiais é o que faz do resultado algo mais eficaz, mas o mais importante nisso tudo é a ajuda da família, que precisa registrar um boletim de ocorrência perfeito. “A gente encontra dificuldade quando a família acaba não passando detalhes que julga não ser importante passar, como a pessoa ser usuária de drogas, por exemplo. É importante que não haja omissão de informações, pois todos os detalhes são extremamente essenciais e garantimos que vão ser mantidos em sigilo”, explica Jaime Luz.

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Conforme o delegado, quanto mais informação melhor para que o caso seja solucionado o quanto antes. “Tudo que seja da rotina e tudo que saiu dessa rotina também”, detalha Jaime Luz, destacando que uma foto atualizada também é muito importante.

Para o registro da ocorrência, é bom que a família saiba dizer qual roupa a pessoa usava, onde trabalha e onde estava quando sumiu, que horas foi vista pela última vez, se saiu de carro ou de ônibus, qual o trajeto que faz geralmente nos percursos de rotina, tudo pode ajudar. “Nós costumamos dizer que tudo é válido, pois a partir do perfil que traçamos dessa pessoa, investigamos de um jeito diferente, partimos para um caminho ou outro, conseguimos avaliar se é voluntário ou criminoso”.

Três por dia

desaparecidos

Logo depois que a família faz o registro do desaparecimento, as informações vão para o Facebook e também para o site (desaparecidos.pr.gov.br). Enquanto isso, internamente a DPP traça o perfil da pessoa que desapareceu e começa a procurar, até mesmo fisicamente. Os policiais investigam até mesmo quais os perfis de amizades dessa pessoa que desapareceu, pois nesse momento tudo pode ajudar na investigação.

Em Curitiba, os registros mostram que, aproximadamente, 100 pessoas (entre adultos e crianças) desaparecem por mês. Entre homens e mulheres (sejam crianças como adultos), quem mais costuma desaparecer são os homens adultos, seguidos dos adolescentes. A maioria das pessoas, conforme a polícia, fica na mesma cidade antes de voltar para a casa. Quando o sumiço é voluntário, a maior parte se dá por problemas pessoais (psicológicos, familiares, financeiros e até de relacionamentos), mas quando o desaparecimento é criminoso, boa parte acontece por envolvimento com drogas.

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Além do registro do sumiço, é importante que as famílias também se preocupem em manter contato direto com os policiais e comuniquem a DPP quando a pessoa reaparece, seja pelo motivo que for. Isso porque, além da unidade física, a DPP também funciona de forma eletrônica, pelo site Desaparecidos e quando a polícia não é avisada que alguém apareceu, o perfil do desaparecido permanece ativo no site.

“O que é válido dizer é que nunca, em nenhum caso, divulgaremos o motivo que levou a pessoa a sumir, disso a família pode ter total certeza, pois não é nosso interesse expor ninguém. O que precisamos é de que haja essa cumplicidade, pois assim sempre conseguiremos chegar a conclusão do caso da melhor forma possível”, considera o delegado Jaime Luz.

Sempre pessoalmente

A Delegacia de Proteção a Pessoa (DPP) fica na Rua Desembargador Ermelino de Leão, 513, no bairro São Francisco, em Curitiba, e funciona de segunda a sexta-feira das 9h às 18h. O telefone para contato é o (41) 3883-7155, mas é necessário que os comunicados sobre desaparecimentos sejam feitos pessoalmente.

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Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

(41) 9683-9504