Curitiba

Saída forçada

Escrito por Magaléa Mazziotti

Três dias após os Caçadores de Notícias publicarem a situação de perigo e abandono no espaço ao lado do Viaduto Colorado, no Jardinete Constantino Fanini, uma ação integrada entre o Grupo Tático de Motos da Guarda Municipal (GTM-GM) e a empresa de limpeza pública Cavo encerrou temporariamente a ocupação no local.

A operação foi realizada no início da manhã de ontem e, durante uma hora, uma equipe formada por seis guardas civis motorizados e mais uma viatura ocupada por quatro profissionais da mesma unidade do Rebouças abordaram seis pessoas que estavam no espaço. Os Caçadores de Notícias acompanharam tudo com exclusividade.

Durante a inspeção, uma mulher de 24 anos, que na apresentação usou o nome falso de Josiane Aparecida dos Santos, pulou no Rio Belém ao ser identificada pelo sistema da Polícia Civil como Juliana Marta, condenada há cinco anos de detenção por roubo com violência. Ela tentou fugir pela manilha para evitar a prisão, mas os guardas conseguiram prendê-la tempos depois, quando boa parte da equipe se deslocou para a segunda parte da ação.
Mulher pulou no rio ao ser identificada como condenada por roubo. Foto: Ciciro BackA moça saiu da tubulação pelo mesmo buraco e foi presa pelos guardas, que ficaram “no encalço” da fugitiva. “A temperatura é muito alta lá dentro, era uma questão de tempo para pegá-la no mesmo endereço ou na saída da ramificação mais próxima”, explicou o supervisor do GTM-GM, Edison Bretas Júnior.

Do grupo instalado no jardinete, além da moça, havia um segundo morador de rua com passagem pela polícia por furto, mas já havia cumprido pena. No caso de Juliana, como ela feriu a mão na queda do rio, a equipe da GM levou a jovem primeiro para o hospital e depois para a Delegacia de Vigilância e Captura (DVC).

Segundo Bretas, há 45 dias o serviço de inteligência da GM estava monitorando a região, com patrulhamento constante para convencer os moradores a desocuparem a área, já que a legislação proíbe instalação de moradias em espaços púbicos. O objetivo do trabalho em parceria com a Cavo é o recolhimento de todos os objetos deixados, como lonas e colchões, entre outros, para dificultar o retorno dos moradores de rua.
Horas depois da ação, viaduto já estava novamente ocupado. Foto: Ciciro Back“Durante a abordagem, todos que não têm problemas com a Justiça são convidados a ir para a FAS (Fundação de Ação Social), mas a maioria resiste. De cada dez abordagens que fazemos nesse tipo de trabalho, um aceita ir para o espaço e precisamos respeitar a decisão de cada um”, comenta. “Não dá para prever quanto tempo levará para que o lugar volte a ser invadido, até porque as populações rua migram de um espaço para o outro”, explica a guarda Gisele Rosângela dos Santos Breta.

“Sempre na equipe que faz a operação precisa haver mulher para fazer a revista, preservando a dignidade das moradoras de rua. Por isso que pedimos para a população não estimular a ocupação, doando dinheiro e objetos. Ao invés de ajudá-los, apenas auxilia no sustento do vício”, acrescenta o supervisor da GTM-GM Fábio Lastera. “E entre os moradores de rua há muitos infiltrados que se escondem da Justiça para não ser presos”, acrescenta o supervisor Bretas.

Quatro toneladas de lixo

O fiscal da Cavo Moacir Pereira de Lara, mais conhecido como “Batatinha”, diz que em operações conjuntas com a GM, em média, são retirados em torno de quatro mil quilos de resíduos, entre papelão, lona e madeira de locais pequenos como o jardinete.
Empresa responsável pela limpeza retirou móveis e muita sujeira. Foto: Ciciro BackNo segundo endereço visitado na operação da manhã de ontem, no Viaduto da Linha Verde, próximo à nova sede da Polícia Rodoviária Federal, mais três moradores de rua – uma mulher e dois homens – foram retirados do local. Eram usuários de crack e no estojo da moça foram encontrados nove cachimbos e seis isqueiros, além de ferramentas como chaves de fenda.

“Entre esses objetos tinha um batom e um alicate de coisas femininas”, comenta a guarda Gisele. No local ocupado por eles havia um sofá, ratos e vários entulhos. Os dois homens tinham passagem por receptação, mas já haviam cumprido a sentença. A mulher não tinha registro na polícia, nem estava sendo procurada. Com 20 anos de idade, ela está grávida de seis meses, à espera do terceiro filho. “Os outros dois estão no Conselho Tutelar”, informou. Assim como os demais abordados na operação, nenhum se dispôs a ir para uma unidade da FAS.

No meio da tarde, a reportagem voltou aos dois locais alvos da operação. Ao lado do viaduto da Linha Verde, encontrou um novo grupo de moradores de rua abrigados debaixo de uma lona prateada. No jardinete, a situação era mais tranquila. Ainda ninguém tinha voltado a ocupar o espaço.

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

(41) 9683-9504