Curitiba

A saga do RG

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
Escrito por Giselle Ulbrich

Dificuldade para tirar a primeira ou a segunda via do documento pode estar com os dias contados em Curitiba. Instituto de identificação está abrindo novos postos nas Ruas da Cidadania, para agilizar confecção do RG

Quase uma hora e meia esperando para tirar o RG, numa fila de atendimento ‘prioritário‘. Essa foi a saga do engenheiro de computação André Cardoso, 39 anos, na semana passada, e que por fim não conseguiu tirar o documento para a filha de um ano e meio no dia agendado. A história do engenheiro se assemelha a de muitos curitibanos, que estão tendo dificuldades para agendar o atendimento (já que ele não é feito mais presencialmente, só pela internet). Sem contar o tempo de espera, no dia agendado. Mas o Instituto de Identificação do Paraná promete acabar com o problema em breve, pois está colocando em operação novos postos do Instituto, nas 10 Ruas da Cidadania de Curitiba.

Mesmo depois de 1h30 na fila, André não conseguiu tirar o RG da filha. Foto: Lineu Filho
Mesmo depois de 1h30 na fila, André não conseguiu tirar o RG da filha. Foto: Lineu Filho

André conta que passou sete dias seguidos tentando agendar o atendimento pela internet. “Tem que entrar pontualmente às 9h no site do Instituto e já ter todos os dados digitados no computador, pra ‘copiar e colar’. Porque só tem uma janela de dois ou três minutos e se for digitar tudo, você perde o horário e não consegue vaga. E não funciona pelo Chrome, só pelo Fire Fox”, lamenta o engenheiro. Finalmente ele conseguiu vaga no Posto Central do Instituto, na Rua José Loureiro, no Centro de Curitiba. O horário era 12h40, mas ele chegou com a esposa e a filha 25 minutos antes, para não correr risco de perder o horário.

Apesar do agendamento, André diz que só foi chamado às 12h56 pela primeira vez, apenas para que o funcionário visse se os documentos estavam ok e avisá-lo que só seria atendido depois das 14h, porque era horário de almoço e não tinha funcionário suficiente. “Mesmo assim, como ele viu que estávamos com uma criança de colo, se prontificou a nos colocar na fila preferencial. Explicou que como era preferencial, poderíamos ter vindo direto, sem agendar. Tinha apenas outras duas pessoas preferenciais na frente. Foi o único funcionário educado que nos atendeu naquele dia”, relata o engenheiro.

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Quando já era 13h40, ele foi olhar a fila dos documentos preferenciais, e as mesmas duas pessoas ainda estavam na frente dele. “Vi que não adiantava nada fila preferencial. Quando fui questionar a funcionária do balcão, ela muito grosseiramente me disse que preferencial não era exclusividade e que o agendamento era só uma garantia que ia ser atendido no dia, não no horário. Mulher arrogante. Disse que ali ninguém era vagabundo e que estavam todos trabalhando. Eu não queria passar na frente de ninguém, só queria respeito. Outro senhor que estava na fila conosco, agendado para o mesmo horário que o nosso, só saiu do Instituto às 14h33”, diz André, que depois da funcionária ameaçar prendê-lo por desacato, pegou suas coisas e foi embora sem o RG, visto que a criança em seu colo já estava com fome e cansada.

“Já era muito tempo para criança ficar sem se alimentar. Se não tem funcionário para atender na hora do almoço, então não agendem neste horário. Os funcionários são muito mal humorados, como se estivessem fazendo um favor pra você. Isso é uma falta de respeito com o cidadão. A funcionária ainda veio me dar uma bronca. ‘Mas se você está com criança pequena, então porque agendou pro horário de almoço?’. Agendei porque foi o único horário que apareceu pra mim no sistema, depois de sete dias tentando”, reclama o engenheiro, que fez uma reclamação formal sobre o ocorrido e recebeu uma resposta do setor de auditorias da instituição, no dia seguinte, informando que o caso dele seria analisado, que o Instituto está buscando melhorias e que seguem a Lei 10.048/2000 (Lei das prioridades a pessoas específicas).

“Fazer uma identidade não precisava de tanto ’nhenhenhe’, tinha que ser fácil. Ficamos bem desanimados. Ali a gente viu a cara do Brasil”, lamentou André, que dois dias depois tentou procurar diretamente o posto do Instituto em Santa Felicidade, que fica junto à delegacia, onde soube que o atendimento poderia ser mais ágil. Chegou às 8h, ficou um tempo na fila e conseguiu tirar o documento, sem agendar.

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Mais vagas

Já faz mais de um ano que a população está tendo dificuldades para agendar um horário, no site do Instituto de Identificação, para tirar o RG. Em novembro do ano passado, o governo estadual anunciou que havia assinado um convênio com a prefeitura de Curitiba, para utilizar as 10 Ruas da Cidadania de Curitiba para abrir um posto do Instituto em cada uma delas. E em março, o até então governador Beto Richa anunciou que até o final daquele mês tudo estaria em funcionamento. Demorou quatro meses a mais que o previsto, mas finalmente o projeto está saindo do papel e do discurso.

Conforme o Instituto, já estão funcionando as regionais Carmo, Pinheirinho, Fazendinha, Cajuru e Bairro Novo. Nas Ruas de Santa Felicidade e Boa Vista, os postos estão em fase de instalação e começam a operação em poucas semanas. Na CIC há uma questão técnica, que está sendo resolvida pela prefeitura e pela Celepar (a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná), mas que deve ser solucionada em breve. Ficará faltando apenas Tatuquara e Matriz, que ainda estão em fase de implantação, sem previsão. O Posto Central do Instituto, no Centro de Curitiba, continuará atendendo, totalizando 11 pontos de atendimento na capital.

Na verdade, não serão abertos 10 novos postos, e sim oito, pois os postos do Instituto que funcionavam anexos à delegacia em Santa Felicidade e à delegacia do Portão foram transferidos para as respectivas Ruas da Cidadania (Santa Felicidade e Pinheirinho).

Mas não faltam funcionários?

Uma das reclamações dos servidores do Instituto de Identificação é que faltam funcionários para dar conta de tanto trabalho. No entanto, a assessoria do Instituto explicou que foi feita uma reestruturação de vários setores, para que uma quantidade suficiente de papiloscopistas pudessem ser realocados nos novos postos. E eles vão receber a ajuda de mais dois servidores municipais, que foram cedidos pela prefeitura para o serviço.

Poucas vagas

“O Instituto de Identificação do Paraná (IIPR) comunica que não há problemas com o sistema de agendamento para o procedimento de emissão de RG, o qual só é possível realizar pela internet, por meio do site do IIPR. Foram confeccionadas 677.041 RG’s ao longo de 2017 e somente neste ano já foram 405.149 novas identidades. No Paraná são confeccionados cerca de 2,3 mil documentos de identidade por dia. Visando a otimização dos serviços da instituição, o IIPR implantou a segunda via rápida, onde as pessoas com documento de identidade feito em até cinco anos, podem solicitar a segunda via pelo site do Instituto de Identificação. Por dia, são solicitados mais de 600 documentos”, diz a nota do Instituto, encaminhada à Tribuna.

O Instituto também se manifestou afirmando que os atendimentos prioritários (gestantes, idosos e deficientes) e de emergência estão sendo realizados normalmente. “Aqueles que por alguma razão, comprovem sua urgência, como um eventual problema de saúde, que necessite do documento para um procedimento cirúrgico, por exemplo, recebem atendimento na hora. Contudo, a unidade faz um apelo à população que faz o agendamento e não comparece, pois mais de 30% dos agendamentos online não são realizados, pois o solicitante não comparece nos postos para a confecção do documento. Isso também atrapalha o serviço prestado à sociedade”, disse o posicionamento oficial.

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