Curitiba

Rei da promoção!

Reginaldo, o 'feijuca' da batata Ruffles, não perde uma campanha com sorteio de prêmios. foto: Felipe Rosa.
Escrito por Alex Silveira

O ano de 2018 mal começou e ele já ganhou uma câmera digital instantânea em uma promoção da Sadia e dois anos grátis de leite Ninho de caixinha. Sem brincadeira, Reginaldo Caetano de Moraes, 45 anos, morador de Quitandinha, na Grande Curitiba, é fanático por promoções de juntar rótulo para concorrer. E o impressionante é que ele ganha.

Nos últimos dois anos, Reginaldo faturou R$ 5 mil em uma promoção do Carrefour, R$ 400 da Colgate e R$ 200 da promoção “Nestlé Patrocina seu Filho”. Também ganhou um faqueiro exclusivo da marca Dona Benta e uma joia das Sardinhas Coqueiro. E teve mais. Foram R$ 2,8 mil em uma promoção da Lacta, R$ 400 do refresco Mid e Fit, R$ 1 mil da Bombril, R$ 100 da Tang e uma cesta de produtos da Coamo Agroindustrial Cooperativa. “E eu nem contei os prêmios que ganhei no bingo [de quermesse]. Já sou conhecido na região e quando chego para bater uma cartela, a turma se levanta e vai embora”, brinca Reginaldo. Ele diz que, certa vez, bateu em treze cartelas das quatorze em disputa. “Só perdi o último prêmio. E foi pedra a pedra”, provoca.

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Nosso personagem tem mesmo uma presença de espírito que contagia. Faz parecer empolgante a rotina de perseguir o próximo prêmio. E quem somos nós para questionar. O sucateiro de Quitandinha participa de promoções desde os 18 anos. “Meu sonho sempre foi ganhar um prêmio gordo, para poder comprar uma casa para minha mãe, que infelizmente já se foi. Mas o sonho continua. Tenho certeza de que é só Deus autorizar que eu levo”, contempla ele.

A maior premiação até agora veio em 2016, quando Reginaldo foi um dos três finalistas da promoção nacional de novos sabores da batata Ruflles, levando para casa um prêmio de R$ 10 mil e também uma baita exposição na mídia por causa de uma discussão sobre racismo. “As pessoas começaram a discutir se era ou não racismo um negro ter a foto estampada no pacote de salgadinho sabor feijoada, que eu mesmo criei. Foi algo inesperado. O pior é que com isso ninguém comprava mais a batata. Aí, não ganhei o prêmio principal, mas tenho certeza de que levaria porque o sabor era o melhor”, orgulha-se Feijuca, apelido que ele ganhou após a promoção. Na época, a empresa PepsiCo, que é dona da marca de batata frita, chegou a ser denunciada no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), mas o caso
foi encerrado.

“Bola pra frente. Quando a Rufles fizer outra dessas, eu tenho um sabor secreto que não vai ter para ninguém. A festa estará garantida”, projeta. Mas nem tudo são flores. Há oito anos, Reginaldo teve que se mudar para Quitandinha por causa da esposa. “Ela passou de forma traumática pela perda do irmão, que morreu de forma trágica quando morávamos em São José dos Pinhais. Não foi fácil, mas o que importa é o bem-estar da família. Nesse meio tempo, arranjei trabalho numa locadora de carros até que vi a oportunidade de ganhar dinheiro com sucata. Abri a empresa Sr. Sucata e desde então compro e vendo material para reciclagem. Meu barracão é aqui em casa mesmo”, explica.

Nunca desiste

Enquanto o grande dia não chega, Reginaldo trabalha muito para manter a família. Foto: Felipe Rosa.
Enquanto o grande dia não chega, Reginaldo trabalha muito para manter a família. Foto: Felipe Rosa.

A casa da família fica na localidade de Água Clara, área rural do município. A construção é de madeira, de uma simplicidade tão sincera que a visita pede para ficar mais tempo. Os armários e até alguns cantos da casa têm uma quantidade considerável de produtos repetidos, todos de promoção. “Não compro nada que não dê prêmio. Se a Coqueiro está premiando, você vai achar aí pelo menos dez latas de atum. Essa é a manha”, se defende Reginaldo. E o casal de filhos sabe bem como o mundo gira para eles. Ninguém joga nada fora sem olhar o rótulo. “É para guardar esse?”, sempre perguntam. O mais novo, Reginaldo Caetano de Moraes Filho, 13 anos, acha tudo divertido, porém leva a sério a missão do pai. “Sei o CPF dele de cor e salteado para fazer cadastros”, orgulha-se.

Sim, qualquer promoção que se preze obriga o participante a cadastrar o CPF. Reginaldo não tem o menor problema com isso e até exagera. “Tem uma pessoa do Nota Paraná que me liga todo o mês por causa da quantidade de notas que peço no mercado. Para ter um número bom de bilhetes no sorteio mensal, eu garanto que cada produto que eu compre tenha uma nota fiscal. Se eu faço uma compra de quinze itens, cada um deles terá a sua nota”, explica.

O caso é mesmo exagero. Marta Gambini, coordenadora do programa Nota Paraná, diz que Reginaldo passou por oito processos de pente fino ano passado, nos quais teve que comprovar que não estava comprando produtos para revender. “Ele passa por um filtro de verificação fiscal praticamente todos os meses. Como ele comprova tudo, nós liberamos o processo. Até tentamos explicar que o que ele faz não é necessário porque os bilhetes são gerados a cada R$ 50 da primeira compra do mês no estabelecimento.

Não precisa uma nota para cada produto. Isso só nos dá trabalho”, diz. Não adianta. Reginaldo guarda uma caixa de nota fiscal em casa. Todos os meses tem que ir até a Receita Estadual de Rio Negro, cidade vizinha, para protocolar o pedido liberação do crédito do Nota Paraná.

Chances maiores

Enquanto o grande prêmio não vem, a renda mensal da família segue garantida pela persistência. Reginaldo tem Carnê do Baú, seguro que vida com sorteio mensal, acabou de entrar na promoção da marca de balas Tic Tac, continua na promoção da Ninho, da sardinha Coqueiro, espera ganhar os R$ 100 mil da promoção da Sadia na qual já faturou a câmera digital e tem mais algumas em vista. “Estou sempre de olho no site Achei Promoções e no meu e-mail. Não me desligo”, conta. Para aumentar as chances de vencer, ele negocia até com os
vizinhos.

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“Tem gente que não gosta de preencher cadastros. Eu peço gentilmente a permissão para usar o nome da pessoa, na condição de dividir o prêmio. Quem é que não gosta de ganhar algo sem sair do sofá? Já aconteceu com meu primo e ele me deixa usar o nome sem problemas”, diz Reginaldo, que ao se despedir da equipe da Tribuna lascou a pergunta: “Vocês acham que a matéria vai aumentar a minha concorrência?”. Com a sorte do Reginaldo, temos quase certeza que não.

 

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Alex Silveira

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