Curitiba

Por que é difícil arrumar emprego depois dos 50 anos?

Mesmo com grande capacitação, Pedro Pereira não consegue emprego e perde vagas para concorrentes muito mais jovens. Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Escrito por Giselle Ulbrich

De forma irônica, desempregado diz que pessoas se importam mais com cachorros do que com gente. Recolocação no mercado de trabalho é difícil

Você que já chegou na casa dos 50 anos sabe o que representa na população brasileira? Hoje, aproximadamente 1/4 dos brasileiros possuem 50 anos ou mais, ou seja, são 54 milhões de pessoas. O Brasil segue envelhecendo (diminuindo a quantidade de nascimentos) e pelas projeções, daqui três décadas os mais velhos vão representar 45% da população brasileira. Com os avanços da medicina e o incentivo a práticas saudáveis, essas pessoas ainda estão aptas ao trabalho e com muita vontade de produzir.

Mesmo com capacitação invejável, curitibano não consegue emprego. Por quê?

É o caso do vendedor curitibano aposentado Pedro Pereira, 66 anos. A situação dele é igual a de muita gente, que se viu diante de dois dilemas trazidos pela aposentadoria: a falta de recursos, porque os rendimentos não são suficientes, e a vontade de continuar sentindo-se útil. A partir disso, eles saem para procurar emprego, mas se frustram e até ficam deprimidos por não conseguirem uma colocação.

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‘Estou com ótima saúde, cheio de vigor, me sinto fisicamente bem, um menino! Sou cheio de experiência, mas não consigo colocar em prática porque ninguém me aceita‘, diz. Vendedor experiente, disputado pelas empresas enquanto estava na ativa, hoje ele não consegue nenhuma colocação.

O melhor da ‘firma‘

Pedro é formado em Apicultura e Eletroeletrônica, fez diversos cursos de vendas e de capacitação profissional. Depois que deu baixa no Exército, em cinco dias já estava trabalhando. Passou por diversos grupos empresariais conhecidos: Minerva, Placas Paraná, Nodari, banco Safra, Mercedes Bens, Votorantin, Iko Comerciais e Osten Ferragens. Em todas as empresas entrou ‘a convite‘. Ele ainda guarda com orgulho a carteira de 4 mil clientes que juntou ao longo dos anos.

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Com um bom currículo, Pedro busca emprego nas áreas de vendas, como motorista ou até caseiro de chácaras. ‘No fundo, o que eu preciso mesmo é de trabalho. Algo que eu coloque a cabeça no travesseiro, feliz porque fiz o meu trabalho e estou dando retorno ao patrão pelo investimento. Não gosto de receber nada sem merecer. Só quero voltar à ativa‘, apela.

Pedro já apresenta sinais de depressão e se diz frustrado em ver que pessoas menos capacitadas conseguem uma colocação por serem mais jovens. ‘É tanta entrevista que a gente vai. Vê que a juventude de hoje não aprendeu nada, as escolas estão ruins, a formação dos jovens é fraca. E a gente aqui com todo esse potencial de conhecimento, perde vaga pra jovem de 20, 30 anos, que não sabe nem 10% do que sabemos. É humilhante, decepcionante, sinto uma tristeza profunda‘, lamenta o vendedor.

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Gente x cachorro

Pedro reclama que, hoje em dia, as pessoas se sensibilizam mais com os problemas dos animais do que com os seres humanos. Há alguns meses, ele procurou a Tribuna para divulgar o abandono de uma cadelinha prenha e com a pata quebrada na porta de sua casa. Aproveitou e pediu emprego. Mas… ‘As pessoas são sensíveis, gostam de ajudar. Mas apareceram 35 pessoas interessadas em ajudar a cadelinha. Os filhotes foram adotados e conseguimos o tratamento veterinário. Mas para me oferecer trabalho não apareceu ninguém‘, explica. ‘Acho que vou fazer curso para aprender a latir, dar a patinha, ver se alguém me liga querendo dar emprego de cachorro‘, ironiza o aposentado.

Algumas ofertas de emprego que Pedro já recebeu nesse meio tempo, no entanto, não pagariam uma vida digna nem para cachorro. ‘A grande maioria não quer um parceiro de trabalho, querem um escravo, pagar uma mixaria que mal dá para comer. Não posso também me sujeitar a uma situação deprimente. Só quero ser tratado com respeito, decência, que pague o quanto meu trabalho vale. É uma camaradagem, um ajuda o outro. Mas não funciona assim. É muita ganância, o povo quer ganhar sozinho. Esse mundo só vai melhorar quando as pessoas pensarem no irmão. Tem que haver parceria, respeito mútuo‘, ensina o vendedor.

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O que uma pessoa madura (com mais de 50 anos) pode fazer para continuar sendo buscada pelo mercado de trabalho? Foto: Pixabay
O que uma pessoa madura (com mais de 50 anos) pode fazer para continuar sendo buscada pelo mercado de trabalho? Foto: Pixabay

Mantendo-se desejado no mercado de trabalho

O que uma pessoa madura – com mais de 50 anos – pode fazer para continuar sendo buscada pelo mercado de trabalho?

Com a crise econômica e o preconceito que a sociedade tem em relação ao envelhecimento, o que uma pessoa com mais de 50 anos pode fazer para se manter desejada pelo mercado de trabalho? A Tribuna conversou com um especialista para mostrar a necessidade dos mais maduros de olharem o todo e não se apoiarem apenas na experiência profissional acumulada.

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Mórris Litvak é CEO e fundador da Maturijobs, empresa criada como uma plataforma online de empregos para pessoas com mais de 50 anos. A principal missão da plataforma é chamar a atenção das empresas para o valor e a importância destes profissionais, além de conectá-los.
Mórris afirma que ainda encontra resistência das empresas em contratar os chamados 50+. ‘Além da crise econômica, falam muito da tecnologia e acham que o maduro não vai conseguir mexer com ela ou que não será tão ágil quanto os jovens. Também alegam que o mais velho é mais caro. O plano de saúde é um exemplo‘, lamenta o CEO da Maturijobs.

Há também desculpas em relação aos muito qualificados. ‘Os recrutadores dão a desculpa de que a pessoa é boa demais para a vaga e mesmo que ela tope o salário, dizem que será infeliz naquele emprego. Falta muita sensibilidade por parte das empresas, que têm o receio de que os mais velhos não se encaixem em ambientes mais modernos‘, explica Mórris.

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O que o CEO do Maturijobs tenta mostrar às empresas é que os 50+ tem muito a agregar e que a mescla jovens x maduros é muito bom ao trabalho. ‘A pessoa madura já passou por crises, tem mais calma, paciência e jogo de cintura para lidar com problemas. Seu relacionamento interpessoal é maior, existe o olho no olho e possuem um comprometimento diferenciado, pois as empresas sofrem com o comprometimento dos jovens. A experiência e a entrega da pessoa madura só complementam as características dos jovens‘, analisa Mórris.

Sair na frente na entrevista de emprego

Mas o que fazer para sair-se a frente de outros candidatos numa seleção? Mórris diz que, para quem ainda está empregado, é preciso estar atualizado em todos os sentidos: nas técnicas e no comportamento. Não se deve parar de estudar, tem que aprender e estar conectado aos jovens. ‘A pessoa madura precisa ter a humildade que ele tem que aprender e reaprender, porque as coisas estão mudando muito rápido e é preciso se adaptar‘, diz ele.

Um estudo chamado ‘Projetando 2030: uma visão dividida do futuro‘, encomendado pela Dell Technologies ao IFTF (Institute For The Future) mostra que, daqui 11 anos, 85% dos trabalhos do futuro ainda não existem. Já a pesquisa ‘O Futuro do Trabalho‘, do Fórum Econômico Mundial, mostra que em 2022 as empresas terão englobado diversas novas tecnologias de aumento de produtividade e, por isto, os funcionários terão que se adaptar a elas.

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Além de se adequar às novas tecnologias, outras dicas são: manter a rede de contatos (networking) de forma regular, usar o Linked In (rede social profissional) e participar de eventos. Além disso, é preciso também planejar a saída do mundo corporativo (financeira e psicologicamente). ‘A pessoa deve pensar: como que vou me virar se eu perder o emprego? A maioria não se planeja, porque é uma questão cultural do brasileiro não planejar o dinheiro. Aí a gente vê muita gente que se aposentou ficar perdida, deprimida, vem a queda psicológica‘, alerta Mórris.

Para quem já está desempregado, a dica é olhar para o trabalho além do emprego tradicional (carteira assinada e um posto de trabalho fixo, algo que vai existir cada vez menos). Mórris acredita que surgirão muitas consultorias e trabalhos autônomos/freelancers, ou seja, as pessoas trabalharem pontual ou temporariamente, por projetos. E isso em todas as áreas. Por isto a pessoa madura não pode ter medo de abraçar as novidades.

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Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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