Curitiba

Quase no fim

Escrito por Giselle Ulbrich

Vários supermercados já não conseguem mais abastecer as gôndolas de hortifrútis e carnes

A maioria dos supermercados da Grande Curitiba já sofre para reabastecer suas gôndolas. Os grandes mercados ainda trabalham com estoques que já tinham antes da paralisação. Já os mercados de bairros, com estoques menores, estão sofrendo mais. A Tribuna do Paraná conversou com uma rede de pequenos mercados, que tem três lojas em Curitiba.

Numa delas, na região norte da capital, só havia tomate, cebola e três batatas disponível nos hortifrútis. E o tomate estava a R$ 4,30 o quilo e a cebola a R$ 5,99. Já na parte de carnes, ainda há aves e suínos frescos. A carne de boi está quase no fim e só não acabou porque o dono do mercado está indo pessoalmente buscar nos frigoríficos que ainda têm o produto, mas não estão fazendo entrega. Mas a manobra encareceu o preço, não só pelo custo do frete por conta que o mercado está tendo, mas porque o fornecedor também subiu o valor.

A funcionária deste mercado ainda explicou que, se a greve acabasse hoje, por exemplo, o mercado só conseguirá repor carnes lá por terça ou quarta-feira da semana que vem, por causa do feriado prolongado. Vários mercados estão adotando a mesma técnica, de ir buscar nos frigoríficos. Mas, numa destas, o dono de um mercado de bairro ficou com 800 quilos de carne no caminho. Foi parado pelos caminhoneiros, que vistoriaram a carga que ele transportava e não o deixaram passar. Vai perder toda a carga, porque não tem como conservá-la.

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O gerente do frigorífico LDC, de São José dos Pinhais, Petrus Peruzzaro Van Helvoort , diz que, por baixo, já teve um prejuízo de R$ 150 mil. A última entrega que ele recebeu de carne foi na segunda-feira da semana passada. E o motorista não conseguiu voltar para a empresa, em Ponta Grossa, para recarregar, porque foi barrado em Campo Largo e está lá até agora. “A greve acabou, mas os baderneiros não deixam o povo voltar a trabalhar. O porco e o frango, por exemplo, custam mais caro quando ficam por mais tempo na granja. O produtor gasta mais com ração, que também subiu de preço”, reclama Petrus, que só está conseguindo atender os clientes porque têm produção própria de carnes.

O gerente explica que, por causa desta elevação dos custos, a carne deve chegar 30% mais cara do produtor para o distribuidor. Deste para o frigorífico, deve aumentar uns 60%. Para o consumidor final, a carne pode chegar a 80% mais cara. “A parte fresca, a gente não recebeu nada, porque os distribuidores não estão conseguindo nem coletar nas fazendas do interior. Outro fornecedor nosso, que vai buscar de Irati, tem uns seis ou sete caminhões parados. O prejuízo dele deve ser de uns R$ 2 milhões”, lamenta Petrus.

Crise longa

A crise na economia já vinha dando sinais de recuperação. Mas, na visão do economista José Guilherme Vieira, por conta de toda a instabilidade política e econômica trazida pela greve dos caminhoneiros, o ciclo de retomada do crescimento deve estancar e os tempos de crise devem continuar por mais dois anos.

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Outros setores

O governo negociou com os caminhoneiros mas, na pressa de acabar logo com o problema, diz o economista José Guilherme Vieira, esqueceu de chamar par aa negociação outros setores economia que vão ser impactados. Um dos pontos que Temer cedeu aos caminhoneiros foi a suspensão do pagamento de pedágio aos veículos com eixo suspenso (vazios, sem carga). “Governo aprovando isso por lei, está mexendo com as receitas das concessionárias de rodovias. Vão ser prejudicadas e vão pedir compensação ao governo, assim como a Petrobrás fez para não subir os preços. Ou então, vão subir o preço dos pedágios. E todos os usuários de estradas pedagiadas vão pagar essa conta”, analisa.

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