Curitiba

Quem são os brasileiros com câncer de próstata e como são suas vidas?

Câncer de próstata é uma preocupação cada vez maior. Imagem ilustrativa. Foto: Pixabay
Escrito por Alex Silveira

Levantamento inédito em 13 capitais apresenta o perfil dos pacientes com câncer de próstata e o que a doença afetou em suas vidas

Uma pesquisa inédita realizada em 13 capitais brasileiras, incluindo Curitiba, revela o impacto da evolução do câncer de próstata na qualidade de vida de pacientes na fase de metástase (quando as células cancerosas se espalham pelo corpo) e fora dela. O levantamento buscou entender como os pacientes lidam com esse tipo de câncer e os principais impactos da doença, incluindo diversos aspectos de suas vidas: físico, psicológico, emocional, social e econômico.

Foram entrevistados 200 homens acima dos 40 anos, diagnosticados com câncer de próstata há mais de dois anos. A pesquisa foi feita pelo Instituto Ipsos, a pedido da Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson. Em paralelo à divulgação dos dados da pesquisa, um tratamento já disponível no Brasil demonstrou diminuir em 72% o risco de progressão do câncer de próstata para metástase ou morte em pacientes com a doença.

Segundo a Janssen, o tratamento com uma substância chamada apalutamida proporcionou mais de 40 meses de sobrevida livre de metástase. No entanto, é preciso combinar a substância com a terapia de deprivação androgênica (ADT), ou seja, a atual terapia padrão que costuma traumatizar homens cujo câncer de próstata avança porque consiste em castração cirúrgica ou química para reduzir o nível de testosterona.

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A pesquisa da Janssen foi realizada no período de 27 de novembro de 2018 à 20 de fevereiro de 2019, por meio de questionário aplicado presencialmente ou por telefone. A amostra divide-se em 30% de pacientes metastáticos e 70% de não metastáticos. A margem de erro considerada foi de 7 pontos percentuais. Os dados foram coletados em Curitiba, Belém, Manaus, Recife, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, Brasília e Goiânia.

O que diz a pesquisa

Os pacientes ouvidos tinham, em média, 64 anos de idade e conviviam com o câncer de próstata há cerca de cinco anos. Metade deles era aposentada (52%), enquanto 37% continuavam trabalhando e 12% estavam desempregados. Vale mencionar que o grupo de pacientes em metástase apresentou uma taxa 33% maior de desemprego em comparação àqueles com a doença em fases mais iniciais.

O levantamento revela que um em cada três homens nunca procurou um médico como medida preventiva, apenas recorrendo a um especialista depois de apresentar algum sintoma. Mesmo assim, os participantes da pesquisa demoraram, em média, seis meses para buscar atendimento após o surgimento de sintomas, como fluxo urinário fraco ou interrompido, vontade de urinar frequentemente à noite e dores (no quadril, coxas e ombro predominantemente).

Essa atitude reativa perante o cuidado com a própria saúde reflete-se também em outro dado, que aponta que 51% dos pacientes metastáticos disseram já se encontrar nesse estágio da doença no momento do diagnóstico.

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Ainda segundo a pesquisa, os pacientes passam, em média, por 2,6 profissionais até chegar ao diagnóstico de câncer de próstata. O urologista foi o profissional procurado por 46% dos entrevistados após os primeiros sintomas, enquanto 37% recorreram a um clínico geral. A maior parte dos diagnósticos foi realizada pelos urologistas (69%).

Já o surgimento de metástase prejudica significativamente a qualidade de vida da maioria (67%) dos pacientes com câncer de próstata, e quase 75% afirmam que tiveram que deixar de realizar atividades rotineiras como trabalho, lazer e exercícios físicos por causa do avanço da doença.

No Brasil, o câncer de próstata é o mais frequente entre os homens, depois do de pele não melanoma. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são esperados 68.220 novos casos em 2019.

Impacto da doença

Sete a cada dez pacientes em fase de metástase declararam na pesquisa que o avanço da doença representou uma piora significativa em sua qualidade de vida, que foi comprometida principalmente por fraqueza (32% das respostas), dores gerais (27%) ou dores nos ossos (27%). Esse impacto também é percebido pela necessidade de abandonar atividades rotineiras. O levantamento identificou que o número de pacientes nessa fase difícil que precisou parar de trabalhar (57%) foi quase duas vezes superior ao daqueles em fases menos graves da doença (27%).

Outro reflexo do avanço da doença se dá no aspecto do convívio social. O número de pacientes em metástase que declararam deixar de realizar atividades deste âmbito (31%) foi quase três vezes superior ao grupo daqueles em que a doença está em fases mais iniciais (11%).

Além disso, 80% dos entrevistados afirmaram que o câncer de próstata impactou a vida sexual, tendo prejudicado também o relacionamento conjugal para 46% deles. A pesquisa apontou ainda que as primeiras reações ao receber o diagnóstico do câncer de próstata foram medo, tristeza e preocupação. Para o grupo de pacientes metastáticos, alguns sentimentos negativos apareceram de maneira ainda mais acentuada, com o dobro de homens deste grupo afirmando que sentiram medo e/ou desespero no momento do diagnóstico em comparação aos pacientes menos graves. Entretanto, ao longo do curso do tratamento, esses sentimentos vão ficando menos intensos e abrem espaço para esperança, tranquilidade e alívio.

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Um reflexo desses impactos emocionais e mentais é que aproximadamente duas vezes mais pacientes metastáticos (31%) procuraram apoio psicológico em comparação àqueles que não tinham metástase (17%). A psicóloga Luiza Polessa, membro da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO), fala sobre a importância da assistência multidisciplinar, explicando que é necessário olhar o aspecto psicossocial da doença, já que a pessoa pode deixar de ser produtiva socialmente ou intelectualmente de uma hora para outra. “Além disso, os indivíduos precisam lidar ainda com outras questões associadas ao câncer, como disfunção erétil, que descaracterizam a identidade do homem de uma maneira muito significativa”, apontou a Luiza Polessa.

Tratamento

O intervalo médio identificado entre os primeiros sinais da doença, o diagnóstico e o começo do tratamento foi de 15 meses. De acordo com a pesquisa, 71% dos pacientes sem metástase fizeram cirurgia e radioterapia. No grupo metastático, 39% disseram ter feito cirurgia, radioterapia e estar em tratamento medicamentoso.

Oncologista Fernando Maluf fala sobre a ação da apalutamida e como ela melhora a qualidade de vida dos pacientes. Foto: Divulgação
Oncologista Fernando Maluf fala sobre a ação da apalutamida e como ela melhora a qualidade de vida dos pacientes. Foto: Divulgação

“O diagnóstico precoce é a chave para cura, pois de cada 10 pacientes com doença localizada apenas na próstata (ou seja, câncer não-metastático) de oito a nove serão curados” explica Fernando Maluf, oncologista clínico e diretor médico do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor do Centro de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

Maluf destaca que, além da medicação, mudar hábitos de vida também é fundamental para um prognóstico positivo. “Dieta, exercício físico, controle de obesidade, cessar cigarro, diminuir álcool. Você pode aumentar a chance de cura em mais de 50%, comparando pacientes tratados do mesmo jeito, pelos mesmos médicos. Isso é relevante para a oncologia”, diz.

Apalutamida

Um novo medicamento demonstrou adiar o surgimento de metástase do câncer de próstata, oferecendo mais qualidade de vida ao paciente. Estudos mostram que a apalutamida, desenvolvida pela Janssen, diminuiu em 72% o risco de progressão para metástase ou de morte e proporcionou 40,5 meses de sobrevida livre de metástase, o que representa um ganho de dois anos quando comparado ao uso de um medicamento placebo – substância sem propriedades farmacológicas.

Porém, segundo dados da própria pesquisa com o uso a apalutamida e do placebo, os principais efeitos colaterais em alguns pacientes foram fadiga, hipertensão e erupções vermelhas na pele. Testes foram feitos em pacientes fora da metástase. O próximo passo, de acordo com a Janssen, é verificar a eficiência do medicamento durante a metástase, mas esse processo ainda será longo.

Além de atrasar o agravamento da doença, a apalutamida também demonstrou ter um perfil favorável de segurança e tolerância. Durante a realização do estudo clínico, grande parte dos pacientes não metastáticos e assintomáticos relataram manter a mesma qualidade de vida que tinham antes do uso do medicamento.

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