Curitiba

“Coelho Luciano”: motorista de ônibus de Curitiba é exemplo de solidariedade

Fotos: Antônio More/Arquivo/Gazeta do Povo
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Motorista de biarticulado se veste de coelho e distribui doces e muito amor ao próximo nessa Páscoa

Solidariedade é a verdadeira essência de amar o próximo. Nas tradicionais festividades, alguns sentimentos ficam mais expostos e as pessoas buscam estar próximas de amigos e da família. Em Curitiba, temos um grande exemplo de dedicação, filantropia, desprendimento e amizade sem querer nada em troca.

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Este é o caso de Luciano Farias, 42 anos, condutor do transporte coletivo que altera a rotina cansativa de motorista da linha Centenário/Campo Comprido para proporcionar momentos inesquecíveis aos usuários de ônibus na capital paranaense ao demonstrar carinho e atenção, além de atravessar os bairros da cidade com segurança.

Há cinco anos, ele teve a ideia de unir o trabalho com boas ações e conta com doações de colegas de profissão, parentes, amigos e até do próprio bolso para comprar os chocolates e outros doces. Na Semana Santa, a Páscoa é um grande motivo para mudar a roupa de trabalho e aí entra em ação o “Coelho Luciano”.

O local de trabalho é modificado para dar um ambiente mais informal e descontraído. O ônibus é enfeitado com cores vibrantes e um astral diferente. A magia muda até a forma de tratar a pessoa que está sentada ao lado e a cooperação é visualizada por todo o biarticulado. Para a Páscoa, são 350 adesivos de patinhas, 2 dentes gigantes no retrovisor, nariz, olhos e orelhas.
Não é a primeira vez que Luciano enfeita o “escritório” numa data festiva para alegrar os passageiros. No Natal, ele costuma conduzir vestido de Papai Noel, além de embelezar o coletivo com o tema da época. No Dia das Crianças, já dirigiu fantasiado de Minion (personagem infantil). Dia das Mães e dos Pais também estão no calendário do motorista.

Como começou

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Desde criança, Luciano Farias carregava o desejo de ajudar pessoas e sonhava que poderia colaborar com crianças e adultos de alguma forma. Quando decidiu seguir o mesmo trabalho do pai, não esqueceu o objetivo de infância da memória. “Ficava isto na minha cabeça e comentava com minha esposa. Aí ela deu total apoio e inicialmente coloquei em prática em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Eu tenho muita ajuda da família, dos amigos e da empresa. O trabalho é longo e começa lá atrás. Terminou o Natal, já penso em algo inovador, na arrecadação dos doces. A criançada pede e não pode faltar”, afirmou Luciano.

Os amigos da empresa admiram a vontade e a disposição do colega. Gilmário Alexandre, 40 anos, 16 de profissão, tem orgulho de estar junto nestes momentos festivos. “Ele é um rapaz muito esforçado e cada ano aumenta o reconhecimento da população. É um incentivo para as crianças e não perde o espírito da Páscoa. Hoje ele é único que faz isto em um biarticulado e representa demais a categoria. É um exemplo para todos nós”, ressaltou o companheiro de todos os dias.

Viagem especial

Com a proximidade da Páscoa, Luciano não esconde o nervosismo. Preocupado com as últimas compras, doações dos amigos e a decoração do ônibus, os minutos demoram a passar. “Eu estou muito agitado nesta semana por tudo que acontece. Sou rigoroso demais e quero que saia perfeito. Quero chegar lá e mostrar que valeu à pena toda a preparação. Cada sorriso de uma criança faz o coração bater mais forte”, relatou Luciano.

Emoção dentro do ônibus

A cada parada e a entrada de passageiros, a festa aumenta. Além de ter um veículo diferente, a sensação é que tudo aquilo é um desenho animado. Luciano conta com a ajuda da família para enfeitar o ônibus. A preparação leva mais de cinco horas. “Minha mulher arruma as coisas em casa e também está no dia do evento. É preciso estar tudo certinho e montar com calma, pois as pessoas são bem detalhistas. Neste ano, a fantasia é diferente em relação aos anos anteriores. É mais radical”, exaltou Farias.

Naturalmente as crianças ficam mais ansiosas pela chegada do biarticulado na estação. Além de receber os doces, o passeio é diferente do dia a dia. Sem pressa, espaço maior dentro do ônibus para circular e, principalmente, dar atenção para quem mais precisa. “Teve uma vez que uma criança com deficiência queria estar comigo por alguns minutos. Um táxi especial o levou até o Capão da Imbuia e a alegria dele emociona até hoje quando lembro”, afirmou o motorista.

Fazer o bem

Luciano já decorou o ônibus. Na imagem, a viagem de Páscoa de 2018. Foto: Arquivo pessoal
Luciano já decorou o ônibus. Na imagem, a viagem de Páscoa de 2018. Foto: Arquivo pessoal

O propósito de ajudar o outro sem querer nada em troca é uma filosofia que Luciano leva para o dia a dia. Levar as pessoas para o trabalho, escola e outros lugares é prazeroso, apesar do cansaço e da pressão. Seria até cômodo deixar de lado todas as questões e dedicar mais tempo para outros afazeres. Mas isto não está na cabeça do motorista e o voluntariado vai permanecer por muitos anos. “Procure sempre fazer o bem, pois você será recompensado de alguma forma. Cada um fazendo a sua parte, o nosso mundo estaria bem diferente. Ajude alguém e tenha a certeza que estará contribuindo para algo bem especial. Faz bem demais”, disse Luciano Farias.

Trajeto de Páscoa

Quem quiser conferir de perto o trabalho do “Coelho” Luciano precisa embarcar na linha Centenário/Campo Comprido. O trajeto normal da linha demora 2 horas. Mas neste sábado, por causa do sucesso que faz com as crianças, a linha demora até 6 horas para fazer o mesmo trajeto.

“Vamos devagar e com muita calma. Tiramos fotos com todos, paramos o ônibus para alguém registar o momento e claro, a entrega de chocolates para quem entra no veículo. É preciso dar atenção. Uma vez, uma senhora de 88 anos entrou e pediu uma selfie. Disse que jamais tinha visto algo semelhante”, relatou Luciano.

Para quem estiver nos tubos do biarticulado pode entrar no coletivo normalmente. Na entrada são avisados: se estiver com pressa, espere o próximo, pois aquele veículo irá demorar no trajeto. O carro que Luciano trabalha não está na escala normal, pois é um carro extra colocado na rota que embarca e desembarca normalmente os passageiros porém andando em menor velocidade e parando mais tempo nas estações, para que as crianças possam tirar fotos, ganhar os doces e brincar dentro do coletivo.

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