Curitiba

Mancha no postal

Quem visita o Jardim Botânico dificilmente não repara na estrutura em formato de semicírculo localizada exatamente atrás da grande estufa de metal, um dos símbolos de Curitiba. Trata-se do Centro Cultural Frans Krajcberg, que está fechado há pelo menos quatro anos devido a um impasse jurídico entre a prefeitura e o artista plástico polonês, naturalizado brasileiro, que dá nome ao local.

O lugar, que era uma antiga estufa do Jardim Botânico, foi oficialmente criado em 2003 por um decreto municipal, que determinava que o espaço seria destinado exclusivamente a 110 peças de Krajcberg. O acordo ainda exigia que a conservação das peças ficaria a cargo da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e que o restauro só poderia ser feito pelo próprio artista.

Em 2005, a FCC identificou que o espaço necessitava de estrutura melhor para abrigar as obras de Krajcberg, que eram forjadas a partir de matéria orgânica, como folhas e cascas de árvores. No ano seguinte, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) emitiu um laudo orientando para que o local fosse climatizado. O documento também aconselhava um restauro das peças. Em 2008, a FCC conseguiu a liberação de cerca de R$ 600 mil para a restauração e readequação do espaço.

No entanto, segundo a FCC, o artista não aceitou as condições do restauro. O espaço foi fechado em 2009 e as 110 peças de Krajcberg foram recolhidas pela prefeitura. Desde então, o Centro Cultural Frans Krajcberg está abandonado às moscas. Na parte interna há muita sujeira. As estruturas elétrica e hidráulica estão destruídas. Há pelo menos três pedaços do telhado que estão danificados e a estrutura de poliuretano está em péssimo estado de conservação.

A dona de casa Sueli Maria de Freitas mora na região do Jardim Botânico há quinze anos e se recorda da época em que o espaço permanecia aberto ao público. “Eu vinha passear no parque e sempre que dava entrava no centro cultural. Era um lugar legal e calmo de ir, com obras muito bonitas”, relembra.

No entanto, Dona Sueli afirma não entender como o local que recebia obras de arte se tornou um espaço completamente abandonado. “De repente, estava passando por aqui e percebi que estava tudo fechado. É uma pena, porque se trata de um local muito grande, num dos cartões-postais da cidade. Tinha que ter alguma coisa aqui bacana aqui pros turistas”, ressalta.

O casal Paulo Antônio Ribeiro e Márcia Regina de Oliveira, de Mafra (SC), estava levando o filho Pedro para conhecer o Jardim Botânico e tentava explicar porque o espaço estava fechado. “Primeiro achamos que era uma estufa, mas depois percebemos que era uma estrutura abandonada. Meu filho queria entrar, mas estava fechado. É realmente um desperdício de espaço. Aqui poderia ter banheiros, bares e lojas, tipo uma estrutura de apoio aos turistas”, afirma Paulo.

Decisão judicial

Por meio de nota, a FCC informou que o espaço foi criado especialmente para receber as obras de Frans Krajcberg e, pelo Decreto 381 de 2003, qualquer atividade realizada no local depende da anuência do artista. O órgão também afirma que, em 2010, Krajcberg moveu ação pedindo a devolução das obras – que a Justiça indeferiu – e o envio delas ao seu ateliê, em Nova Viçosa (Bahia), para restauro, que deveria ser feito até agosto de 2012. Vencido o prazo, segundo a nota, o artista plástico entrou com nova ação, alegando que não havia sido remunerado para realizar o restauro. Como a ação continua em trâmite, a FCC ressalta no texto que aguarda decisão judicial para elaborar projetos visando a intervenção no espaço, a fim de abrigar as obras restauradas.

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