Curitiba

Do velório pra faculdade: jovem aprovado na PUCPR emociona com sua história de amor e superação

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Aos portões da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o intenso movimento de alunos em pleno domingo de vestibular complicava o trânsito nas imediações do câmpus, localizado no bairro Parolin, em Curitiba. Em meio à turba de jovens agitados, Felipe Riskovski, 18, quase passava despercebido. Quem visse de fora o semblante austero do rapaz jamais imaginaria que, horas antes, ele velava o corpo do próprio pai após 9 longos dias de angústia vividos pela família na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital do Trabalhador. A despeito da dor do luto e dos protestos da mãe, Cecília, o estudante optou por fazer a prova e, agora, comemora a aprovação no curso de Ciências Biológicas pela própria PUC.

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Tudo começou numa noite, na primeira semana de outubro. No bairro Pilarzinho, o sossego na casa dos Riskovski foi interrompido pelo toque do telefone. Do outro lado da linha, a notícia que traria abaixo a família veio de supetão.

“Um colega de trabalho do meu marido ligou dizendo que ele tinha se acidentado em serviço e uma ambulância o tinha levado até o Hospital do Trabalhador”, lembra Cecília. Ao indagar o que de fato tinha acontecido, a desconfortante resposta deixou perplexa a manicure. “Não sabemos o que foi. Somente que é muito grave e o Josuel não está nada bem”, replicou o amigo.

Nas horas seguintes o susto se transformou em angústia. Já no saguão do hospital, a notícia de que Josuel Riskovski sofrera lesões cranianas irreversíveis só não trouxe maior desalento que o decreto do médico. “O doutor disse que ele tinha algumas horas de vida, apenas”, recorda Cecília.

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Enquanto isso, na residência da família, no bairro Pilarzinho, Felipe tentava se concentrar nos estudos. Ainda sem saber exatamente o que tinha acontecido com seu pai, o jovem estava determinado a concluir a rodada de exercícios daquela noite. A persistência não era sem razão.

“O Felipe sabia o quanto seu pai se orgulharia ao ver o primeiro filho prestando vestibular. Esse era um dos assuntos principais entre os dois no último ano e a coisa que o Felipe mais queria era passar para honrar o pai”, conta Cecília. Diante do choro da mãe, algumas horas mais tarde, o rapaz entendeu a gravidade da situação. “Mesmo assim ele não desanimou. Se desdobrou entre as horas de visita na UTI e a preparação para a prova da PUC que aconteceria em poucos dias”, revela Cecília.

Felipe, novo calouro da PUCPR. Foto: Colaboração/Cecília Riskovski
Felipe, novo calouro da PUCPR. Foto: Colaboração/Cecília Riskovski

Apegado ao pai, Felipe crescera dividindo com ele suas maiores paixões. “Eles viviam juntos desde que o Felipe era pequenininho. Os dois conversavam muito, sempre, e sabiam tudo da vida do outro. Tinha coisa que o Felipe contava pro Josuel e eu ficava sabendo só depois como, por exemplo, a escolha do curso dele. Um era o xodó do outro”, conta a mãe. Amigo e confidente do rapaz, Josuel trabalhava como caixa num estacionamento no bairro Água Verde e as causas do acidente que o vitimou são, no mínimo, incomuns.

“Aparentemente um objeto de ferro, pesado, caiu sobre a cabeça dele. O que nos disseram é que ele estava podando algumas folhas de uma árvore no terreno quando aconteceu. As causas do acidente ainda estão sendo averiguadas”, disse Cecília.

Angústia e expectativa

Felipe comemora com outros jovens aprovados no vestibular. Foto: Colaboração/Cecília Riskovski
Felipe comemora com outros jovens aprovados no vestibular. Foto: Colaboração/Cecília Riskovski

Apesar da tentativa da família em manter a positividade diante do coma de Josuel, os nove dias que se seguiram à sua entrada no hospital foram regados à angústia pela situação e também pela expectativa pelo concurso da universidade. A notícia do falecimento de Josuel, no dia 13 – um sábado – no entanto abalou de forma terrível os Riskovski.

“O vestibular aconteceria no dia seguinte. Eu disse para o Felipe: ‘não vá fazer a prova’. Estávamos todos enlutados e muito tristes”, recorda Cecília. Inflexível ao apelo da mãe, Felipe se negou a desistir. “O pai tinha pago pela prova e a coisa que ele mais queria era que o Felipe passasse em alguma faculdade. Firme nesse objetivo ele manteve a decisão e foi em frente”, revelou Cecília.

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Concomitante à prova, que aconteceu no dia 14, o velório de Josuel acontecia. Para manter a concentração, Felipe mantinha a mente fixa no pai e em toda a motivação que recebera ao longo de sua trajetória. Ao fim do teste, o jovem juntou as energias que ainda lhe restavam para dar o último adeus ao patriarca. “Ele saiu e foi correndo para o enterro. Foi um dia muito marcante para ele”, diz a mãe.

Ainda misturada ao sofrimento, a honra ao sonho de Josuel veio na lista de aprovados, divulgada na tarde desta terça-feira (23) pela instituição. Motivo para sorrir, mesmo em meio ao luto. “Estou muito orgulhosa do Felipe por toda a garra que ele demonstrou nesse tempo. Tenho certeza que o Josuel também se orgulharia demais”, disse Cecília emocionada à reportagem.

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E não para por aí. Segundo a mãe, a expectativa agora é pelo resultado do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que aconteceu no último domingo (21). “Ele disse que foi bem na prova e está otimista. Pode ser que daqui a alguns dias estejamos comemorando novamente”, afirmou.

Para fechar a matéria, a reportagem bem que tentou mas não conseguiu uma palavrinha do Felipe. “Ele está no banho de lama da PUC”, explicou a mãe. Então deixa ele comemorar. Boa sorte, Felipe!

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Maria Luiza Piccoli

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