Curitiba

Game folclórico

Como despertar o interesse da comunidade por museus e aproximá-la do folclore paranaense? Um jogo para celular foi a estratégia pensada pelo produtor cultural do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fábio Marcolino. Em conjunto com o estudante de Ciências da Computação Renê Caratin Cusumano, de 24 anos, ele teve a ideia de criar um game que ensinasse a lenda da Bernuncia, parte da manifestação folclórica do Boi de Mamão, típica do litoral paranaense.

Como na encenação do Boi de Mamão, o objetivo do game é conduzir a Bernuncia – um monstro semelhante a uma cobra – e fazê-la comer criancinhas. Conforme ela “se alimenta”, sua cauda cresce. Caso coma a própria cauda, game over! O jogador perde. Comer os tichipás, personagens da lenda que assustam as crianças, também conta pontos. Mas caso a Bernuncia devore um dos marinheiros-músicos que animam a manifestação, pontos são descontados. Para brincar, é só fazer o download gratuitamente. Por enquanto, está disponível uma versão para Android.

Inspirado no game Snake, o popular jogo da cobrinha dos antigos celulares Nokia, o “Jogo da Bernuncia – O Auto do Boi de Mamão” foi produzido por uma equipe interdisciplinar de alunos da UFPR, bolsistas de projetos de extensão do MAE. “O Renê desenvolveu o game, a Natali Souza e o Jean Oliveira, do Design, fizeram as artes e a animação, e o Leonardo Lima, do curso de Produção Sonora, foi responsável pelo som”, diz Fábio, que dirigiu a produção. A pesquisa ficou com a historiadora Bruna Portela, que cuida da parte de cultura popular do museu.

Para produzir o jogo, o MAE teve o apoio da Associação de Cultura Popular Mandicuera, entidade formada por um grupo de artistas populares para fomentar a cultura do litoral paranaense. Um pré-lançamento do game foi realizado na semana retrasada, durante o Festival de Inverno da UFPR, em Antonina, que teve como tema a Bernuncia.

Nerds de carteirinha

Foto: Felipe Rosa
Renê e Fábio são criadores do Jogo Bernuncia. Foto: Felipe Rosa

Renê é autodidata na arte de desenvolver jogos. Ele aprendeu brincando, sem muita pretensão. “Tem uns 12 anos que crio games. Comecei fazendo uma versão do Mario, outra do Sonic… Entrei como voluntário no MAE em 2012, o que acabou me ajudando a decidir cursar Ciências da Computação”, conta. Como Renê, Fábio também é nerd de carteirinha. “Desde os 9 eu leio quadrinhos, desde os 15 sou mestre de RPG [Role-Playing Game, jogo em que os participantes assumem papéis de personagens e criam narrativas colaborativamente]”, enumera. Aficionada por esse universo, a dupla trouxe novos ares e ideias ao museu.

Brincar de aprender

Foto: Felipe Rosa
Museu já desenvolveu outros jogos. Foto: Felipe Rosa

O Jogo da Bernuncia é só um dentre os projetos do MAE que aliam brincadeiras à divulgação da arqueologia, da etnologia indígena e dos saberes populares. O museu já desenvolveu um jogo de RPG de tabuleiro sobre o primeiro contato entre europeus e indígenas brasileiros, o “Jaguareté: o Encontro”; o “ArqueoGame”, um fliperama em que o jogador tem de encontrar artefatos em um sítio arqueológico de Sambaqui; as “Caixas Didáticas”, que contêm vários materiais e propostas de atividades a serem feitas por professores da rede pública com seus alunos; além de jogos de montar e quebra-cabeças.

Esses materiais podem ser emprestados do MAE pelas escolas. No caso do fliperama, o game é um convite para que as crianças visitem o museu.

Mas comer criancinhas?

Foto: Felipe Rosa
Bernuncia é uma lenda paranaense. Foto: Felipe Rosa

Na lenda da Bernuncia paranaense (existem outras versões, em Santa Catarina, por exemplo), o Boi de Mamão dá uma cabeçada no personagem Mateus, que acaba morrendo. Em seguida, chega um médico e o ressuscita. Misteriosamente, Mateus dá à luz uma criança, que é adotada por um casal de idosos. Os velhinhos decidem não batizar o bebê, que por esse motivo é devorado pela Bernuncia. O auto encena a lenda de que crianças não batizadas são comidas por um monstro. A Bernuncia foi inspirada no dragão chinês, e seu corpo, feito de tecido, é sustentado por cerca de três pessoas. Nas encenações, ela “devora” as crianças, que entram por sua boca e saem pela cauda.

Baixe o jogo

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Sobre o autor

Luisa Nucada

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