O repórter fotográfico Gerson Klaina, 52 anos, o Bambu, tem três paixões na vida: jipes, Exército e ferrovias. A mistura das três só podia dar algo bem diferente: um jipe-trem. Originalmente feito para trilhas, ele adaptou o carro pra andar nos trilhos de trem. Coisa de doido, mas é extremamente divertido!

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Bambu, que é repórter fotográfico da Tribuna há 15 anos, disse que tem este jipe, um Willys ano 1957 fabricado em Ohio, nos Estados Unidos, há muitos anos. Foi o primeiro que comprou, dos três que tem hoje (um deles, a ‘pata choca‘, um Dodge M37 1951, até já levou duas noivas à igreja). Com este jipe Willys, Bambu fez centenas de trilhas e se divertiu muito. Até que seu interesse por veículos militares foi crescendo e ele personalizou os jipes com o tema.

Ainda assim, ele alimentava um sonho antigo. Desde criança mora em frente a um trilho de trem, no bairro Boa Vista, em Curitiba. E sempre foi sua diversão andar nos trilhos e ver as locomotivas passando por ali. Até o dia que viu a imagem de um jipe militar que era usado nos trilhos, durante a Segunda Guerra Mundial. E desde então alimentou a ideia de ter um.

Bambu conta que existem dois outros jipes que andam em trilhos em Curitiba, que pertenciam à antiga Rede Ferroviária Federal S/A. Mas estão abandonados num ferro velho. Quando ele fez uma oferta, pediram um valor muito alto, R$ 25 mil por cada um. Então o fotógrafo decidiu pegar um dos seus e adaptar. Não gastou nem R$ 4 mil.

Sem conseguir comprar os jipes do ferro velho, Bambu resolveu adaptar o seu pra rodar nos trilhos. Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Paraná

Várias modificações

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O fotógrafo iniciou a reforma em maio deste ano e concluiu no fim de agosto. A maior adaptação, e a mais difícil, foi o encurtamento do tamanho do diferencial, a parte de baixo do carro que liga uma roda à outra. Bambu foi até o trilho na frente de casa, mediu várias vezes a distância, fez um gabarito num pedaço de madeira e levou o diferencial para um torneiro cortar. A peça, que tinha 1,35 metro, ficou com exato um metro.

Num ferro velho encontrou os rodados ferroviários e os adaptou nas pontas de eixo. Ainda retirou a caixa de quatro marchas com reduzida e deixou só o câmbio simples, com três marchas, já que no trilho não há necessidade de andar rápido. Bambu conta que o difícil foi encontrar peças “comuns”, para quando alguma delas estragar, não seja difícil encontrar outra para reposição.

Modificações no jipe custaram menos de R$ 4 mil. Rodado foi encontrado em um ferro velho. Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Paraná
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Outra coisa que ele fez foi retirar a tração 4×4. Como o jipe anda em cima de trilhos, que em geral são planos e não exigem muita força, considerou que a tração era desnecessária. Também tirou a caixa de direção e o volante, já que são os próprios trilhos que guiam a direção do rodado. Assim, não é preciso “dirigir”, apenas acelerar e frear.

“Não é tão estressante quanto dirigir um carro normal. Pois no trânsito você tem que estar atento ao caminho, à sinalização, manusear o volante para desviar e virar, tem que trocar marcha, parar. Aqui não, você só acelera, troca algumas marchas e vai constante o tempo todo, observando a paisagem, sem lombada, semáforo, estresse, trânsito ou hora pra chegar. Objetivo também não é correr, é só curtir a natureza”, diz o fotógrafo.

Legislação

Já que o jipe não transita mais normalmente nas ruas, Bambu tirou as placas e o batizou de BF 22. ‘BF’ significa Batalhão Ferroviário e 22 é um número aleatório que ele escolheu. E o caminhão que ele comprou, exclusivamente para transportar o jipe ferroviário, também personalizou com tema militar, fez algumas adaptações para carregar e descarregar o jipe e batizou de BF 23. “Como eu sou fã de ferrovias e do Exército, foi a forma que eu encontrei de homenagear o Batalhão Ferroviário”, diz o fotógrafo, referindo-se ao ramo do Exército que planejou e executou a construção de muitas ferrovias de norte a sul do Brasil.

É importante ressaltar que ninguém pode sair por aí usando trilhos de trem. Para esta reportagem, Bambu localizou um trilho que está fora de uso e solicitou autorização para que pudesse testar o seu “brinquedo” novo. Aliás, foi graças à ABPF e à Brigada Paranaense que Bambu conseguiu encontrar peças para adaptar o jipe aos trilhos.

“São duas emoções que ficam pra história (jipe para trilhas e depois para trilhos). O jipe eu já fiz. Então agora eu tenho que arrumar outra coisa pra fazer. Objetivo é estar sempre criando”, diz Bambu, sempre bem humorado e trazendo boas risadas à redação da Tribuna.