Curitiba

Folia pela metade

Nem mesmo o carnaval ficou de fora do corte de gastos em função da crise financeira. Este ano, segundo decisão divulgada na última semana pela prefeitura, as escolas de samba de Curitiba devem ter seus repasses reduzidos em 50%. Assim, escolas do grupo A receberão R$ 30 mil e as que integram o grupo de acesso R$ 18 mil, de um total de cerca R$ 540 mil destinados pela administração pública para as despesas com os festejos. Já blocos de pré-carnaval não contarão mais com recursos municipais, passando a ter que atuar de forma independente ou financiados pela iniciativa privada, se quiserem ir para as ruas.

Outra mudança afeta a disputa do título de campeã do carnaval. Com menos dinheiro disponível, escolas de samba dos grupos A e de acesso optaram em realizar um desfile sem disputa, assim nenhuma delas cairá ou subirá para outro grupo.  Alterações, que segundo os envolvidos, devem fazer com que este seja o carnaval da superação.

Foto: Felipe Rosa
Com verba reduzida, escolas de samba decidiram realizar desfile sem disputa. Foto: Felipe Rosa

“Ficamos chocados, mas as escolas têm que se unir e fazer o carnaval. Para fazer o desfile, estamos correndo atrás de patrocínio e reciclando carros e materiais do ano passado. Também apostamos nos ensaios e na credibilidade da escola, que garante nosso crédito. Mesmo assim, a Mocidade vai para a avenida no dia 25 com o enredo ‘Festas’, com mais de 600 integrantes, como se estivesse valendo título”, afirma o diretor da Escola de Samba Mocidade Azul, Jorge Moraes.

Para o presidente da Escola Leões da Mocidade, Vilmar Alves, a situação tornou inviável a participação no desfile deste ano. “Não teria condição. São mais de 700 componentes, pessoas da comunidade, moradores do Boqueirão, envolvidos no desfile. Não tenho como cortar alas ou deixar alguém de fora. Imaginávamos uma redução no repasse de 10% a 20%, mas não da metade. É uma dor muito grande não poder sair este ano, o carnaval de Curitiba é muito importante para nós e para o pessoal da periferia, mas nem sempre é valorizado”, desabafa.

Desfiles e bailes

"Imaginávamos uma redução no repasse de 10% a 20%, mas não da metade" Foto: Felipe Rosa
Presidente da Mocidade Azul, Jorge Moraes, conta que, para fazer o desfile, a escola de samba foi atrás de patrocínio e começaram a reciclar carros e materiais do ano passado. Foto: Felipe Rosa

De acordo com o presidente da Comissão do Carnaval 2017 da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Jaciel Teixeira, estas decisões foram tomadas com o objetivo de manter o Carnaval, mesmo com as dificuldades financeiras enfrentadas pelas cidades. “O carnaval sai, ele é um desejo do atual prefeito. Vai sair dentro das condições da prefeitura e dos aportes financeiros. Os bailes populares no Portal do Futuro do Bairro Novo e os desfiles das escolas de samba estão mantidos. Em nenhum momento se cogitou o cancelamento do carnaval de rua. O que não vamos realizar é o pré-carnaval com os blocos”, afirma.

No entanto, segundo ele, os blocos estão liberados para fazer a festa nas ruas, desde que sigam as regras impostas pela prefeitura. “Blocos podem sair, desde que consigam os alvarás e cumpram as regras da prefeitura, que não vai se opor à realização de eventos que garantam a segurança e a estrutura necessária para transcorrerem de maneira sadia”, observa.

Segundo a FCC, o edital com as regras do carnaval 2017 deve ser publicado entre hoje (17) e amanhã (18). Após a divulgação do edital, em poucos dias o dinheiro é liberado para as escolas.

Independentes

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Sem apoio financeiro da prefeitura, o integrante da diretoria do Bloco Garibaldis & Sacis Leandro Leal garante que os eventos de pré-carnaval, uma tradição na capital, estão mantidos. “A gente conversou com a Fundação Cultural semana passada e fomos informados que não seria disponibilizada estrutura ou verba para os blocos e grupos que organizam o pré-carnaval em Curitiba. Mas a gente não vai deixar de fazer, como fazemos há 18 anos, desde que o bloco surgiu. Isto é importante não só para a gente, mas para a cidade também, que culturalmente sai prejudicada.”.

Leandro confirma que em 2017 os eventos devem acontecer em diversas ruas e espaços públicos, que ainda não foram definidos. “Não fomos ainda atrás de patrocínio da iniciativa privada. Se não tivermos, vamos por conta própria, com os equipamentos e recursos que temos. Os eventos devem ser na vilinha do Bairro Alto, Sítio Cercado e em lugares tradicionais do Centro, como Ruínas de São Francisco ou até na Rua Saldanha Marinho. Mas ainda vamos definir os locais e solicitar as devidas liberações da prefeitura”, diz.

Assim como o Garibaldis & Sacis, outros blocos, como o Vaca Chérie, Bloco das Cachorras e 10afinados & daí? estão se organizando para sair por conta própria durante o período de pré-carnaval. O tradicional bloco infantil “Garibaldinhos” também foi confirmado.

Calendário e valores

– R$ 540 mil será o gasto total da prefeitura com o Carnaval 2017.
– R$ 30 mil recebe cada escola do grupo A, contra R$ 60 mil em 2016.
– R$ 18 mil é o repasse para cada escola do grupo de acesso.
– Os desfiles das escolas acontecem no dia 25 de fevereiro.
– Os bailes no Portal do Futuro do Bairro Novo serão nos dias 27 e 28 de fevereiro.
– 22 de janeiro é o primeiro dia de pré-carnaval do Bloco Garibaldis & Sacis.

Sobre o autor

Paula Weidlich

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