A crise que o país enfrenta afeta não só quem precisa de emprego, mas também quem oferece. Em Curitiba, a Agência do Trabalhador atua com quadro pessoal reduzido devido ao término dos contratos dos funcionários admitidos via Processo Seletivo Simplificado (PSS), somado aos desligamentos voluntários de pessoal. Isso prejudica quem busca uma vaga no mercado de trabalho, que tem de chegar cedo para conseguir uma senha de atendimento. Mesmo com o papel na mão, a espera para falar com um atendente leva até quatro horas, segundo funcionários.
Ontem, por volta das 7h30, a reportagem da Tribuna contou pelo menos 200 pessoas esperando a abertura da agência, que acontece às 8h. “Cheguei às 5h15, pra garantir o primeiro lugar da fila, apesar de não ter a certeza de sair daqui empregado”, disse David Thiago da Silva Gomes. Ele saiu às 4h de casa, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Está há um ano desempregado, teve o último registro como auxiliar de produção e afirma não ter mais opção: “Não temos como escolher, o que aparecer está valendo”. “É a primeira vez que venho aqui, mas cheguei às 7h, fui avisada”, relatou Eliane Kelly Bento, que teve o último emprego como cobradora de ônibus.
Estrutura enxugada
Conforme a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (SEDS), atualmente a Agência do Trabalhador atua com 41 servidores e realiza uma média de 650 atendimentos diários. A SEDS informa que o prazo contratual dos contratados via PSS, de no máximo dois anos, acabou em março. De acordo com a pasta, 20 trabalhadores foram desligados no último dia 16 de março e hoje (1º/4) mais 10 terão contratos finalizados. Além disso, outros 44 trabalhadores pediram demissão voluntariamente e tiveram os contratos rescindidos este ano.
A secretaria não divulga se haverá novo PSS, mas destaca que há 30 dias servidores de outras secretarias estaduais foram remanejados e treinados para a execução das atividades na Agência do Trabalhador de Curitiba. O número de funcionários públicos realocados não foi revelado.
Média de 600 senhas por dia
“Tem bastante gente. Deveriam atender mais cedo, porque se sabem que a cada dia terá mais gente na fila, pelo menos as senhas poderiam ser distribuídas antes”, opina Edelcio Cordova, que é formado em administração e chegou às 7h30.
Segundo a SEDS, não há necessidade de os candidatos chegarem antes e formarem fila em frente à unidade antes da abertura da agência. Isso porque a quantidade de senhas entregues é considerada suficiente. São distribuídas em média 600 por dia. Destas, 500 pela manhã e 100 no período da tarde. De acordo com a secretaria, os meses de maior movimento são janeiro e fevereiro, quando a agência faz aproximadamente mil atendimentos por dia.
Já o número de vagas é variável. Nesta quinta, quando a reportagem da Tribuna esteve na agência, a unidade ofertava 980 vagas. A maioria das oportunidades é para operador de telemarketing e outros setores de serviços, como alimentação e comércio. A SEDS alega que a crise econômica interfere diretamente no movimento das agências do trabalhador de todo o país.
Vem aí um novo sistema!
Ronaldo da Silva Pinto chegou às 7h40. Ele pegou a senha número 155, mas reclamou da entrega das senhas. “Hoje as pessoas que estavam na fila serão atendidas, mas segunda e terça, por exemplo, cheguei às 8h e as senhas já tinham acabado. Venho pelo menos duas vezes por semana e tem que chegar cedo sim e ficar na fila, se não, perde. Além disso, são poucas as ofertas de emprego”.
Para facilitar a busca por emprego e agilizar o atendimento aos trabalhadores a Agência do Trabalhador de Curitiba implantará, a partir da próxima segunda-feira (4), um novo sistema. Sem entrar em detalhes, a SEDS apenas informou que a mudança será destinada ao agendamento para os trabalhadores que buscam vagas no mercado de trabalho e que este sistema será divulgado nos próximos dias.