Curitiba

Falta de educação!

Escrito por Giselle Ulbrich

A quantidade de pedestres mortos por atropelamento em Curitiba caiu 34% de 2012 para 2015. Mas poderia ser muito melhor se a população tivesse mais educação no trânsito. Os pedestres continuam sendo as maiores vítimas, representando 38,6% do total de óbitos em acidentes no ano passado. Como o maior número de mortes é de idosos, a Tribuna esteve num local onde a prefeitura instalou dispositivos para que este público tenha mais segurança ao atravessar a rua. E constatou um ‘mar‘ de desrespeito, de todos os lados.

Na Rua 24 de Maio, em frente a uma banca de revistas da Praça Ouvidor Pardinho, no Rebouças, há uma faixa de pedestres e um semáforo. Os pedestres tanto podem apertar o botão para bloquear o trânsito de veículos quanto encostar os cartões de ônibus da Urbs (para idoso, deficiente físico ou o Cartão Respeito) num sensor, próximo ao botão, para aumentar alguns segundos do tempo de travessia. Um artifício pensado justamente para pessoas que, pela dificuldade de locomoção, precisam de mais tempo para atravessar.

Desconhecimento

A reportagem ficou quase uma hora parada em frente ao semáforo e não encontrou ninguém que use os cartões especiais no sensor. Vários idosos sequer sabiam o que era o equipamento. É o caso da aposentada Alice Bertolotte, 81 anos, que sempre frequenta os serviços da prefeitura oferecidos na praça, mas só ficou sabendo do benefício que tinha em mãos pela Tribuna.

Foto: Marcelo Andrade
Alicia só ficou sabendo do equipamento que prolonga a travessia do pedestre pela equipe da Tribuna. Foto: Marcelo Andrade

Além de não saber que é possível prolongar o tempo de travessia, a grande maioria sequer usa a faixa de pedestres. Os idosos, principalmente, atravessam no meio da quadra, longe da faixa. Nas duas laterais da banca há entradas para a unidade de saúde e o centro de esportes da praça. Os idosos preferem atravessar direto na direção destas entradas do que dar mais alguns passos para o lado e usar o semáforo e a faixa.

A Tribuna flagrou vários deles fazendo isto, inclusive alguns com mobilidade bastante reduzida, usando bengalas.

‘Reconheço que não está certo, mas continuo atravessando aqui por preguiça‘, admitiu a aposentada Derci Moura, 71 anos.

Testemunha

Namy Sakamoto, dona da banca de revistas, vê situações de insegurança o dia inteiro, de ambos os lados. ‘As pessoas não usam a faixa. Quem usa, aperta o botão para atravessar mas não tem paciência de esperar o semáforo fechar para os carros. Gente que nem aperta o botão e atravessa na frente dos carros. Também tem os carros que avançam com o sinal vermelho, param em cima da faixa ou até estacionam em cima, buzinam. E se atropelar um idoso, vai culpar quem? Ambos estão errados‘, analisa. Numa das entradas da praça, ao lado da banca, vários carros entram para desembarcar pessoas. Quando os motoristas saem de ré, chegam até perto da faixa de pedestres e disputam espaço com quem atravessa a rua.

Cartão Respeito

Foto: Marcelo Andrade
Aparelho funciona para quem possui o cartão Idoso, ou de Deficiente ou o Respeito. Foto: Marcelo Andrade

Os cartões da Urbs para idoso e deficiente físico (que garantem a isenção da tarifa) podem ser encostados nos sensores de alguns semáforos para aumentar o tempo de travessia. No entanto, há alguns deficientes físicos que não possuem a renda exigida pela Urbs para conseguirem o cartão com isenção de tarifa. Por isso, a Urbs criou o Cartão Respeito, que pode ser feito pelos deficientes físicos que não se encaixam nas regras de isenção de tarifa. Mas este cartão é para uso exclusivo nos semáforos e não garante gratuidade nos ônibus.

A primeira via do cartão é gratuita e sai na hora. A segunda via custa o valor equivalente a cinco passagens de ônibus. Pode ser feito de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h, nos postos da Urbs nas Ruas da Cidadania Boa Vista, Boqueirão, Pinheirinho, Portão, Tatuquara, Santa Felicidade e Matriz. O interessado deve levar RG, CPF e atestado médico da deficiência, se possível com o CID.

Em Curitiba, há 120 sensores instalados, em 31 locais escolhidos como pontos de maior risco de acidentes para pessoas com mobilidade reduzida, como cruzamentos próximos a unidades de saúde, hospitais e terminais de ônibus. O tempo de abertura, dependendo do local, pode ser aumentado em até 50%, como é o caso da Praça Ouvidor Pardinho, onde o tempo de travessia passa de 12 para 18 segundos.

Os equipamentos poderão ser utilizados por 160 mil idosos, 13,2 mil pessoas com deficiência e 6,2 mil aposentados por invalidez que possuem atualmente um cartão de isento habilitado pela Urbs.

 

Carros atropelam mais

 

INFO_MAIO_AMARELO copyOs maiores atropeladores continuam sendo os carros (66,2% dos óbitos), seguidos dos ônibus (16,9%). Por isto a Setran implantou medidas como a redução da velocidade (Área Calma, em 140 quarteirões do Centro, onde a velocidade máxima é 40 quilômetros por hora, e a Via Calma, em vias estruturais, onde a velocidade é 30 quilômetros por hora e há ciclovia separando carros, ônibus e bicicletas), o aumento do tempo de travessia nos sinaleiros de pedestres – com uso de cartões especiais, as calçadas verdes, passarelas de pedestres, ilhas de travessia, entre outras.

Na Área Calma não houve mais nenhum óbito, desde que foi implantada, em novembro do ano passado. A maior quantidade de atropelamentos ocorre à noite (18h às 19h e das 21h às 23h). Já entre os idosos, o horário em que houve mais mortes, em 2015, foi entre 18h e 19h.

Entre os pedestres que morreram atropelados por atitude imprudente, a infraestrutura das vias foi o fator que contribuiu para 34,5% dos casos, seguido de: má iluminação, ausência de gradil (separando pedestres e veículos), falta de sinalização, ausência de calçada, engenharia que induz a erro e ausência de travessia segura para pedestre.

Atenção especial aos idosos

As maiores vítimas de atropelamentos são os idosos. Em 2015, foram 16 óbitos de pessoas com 70 anos ou mais (22,5% dos atropelamentos). O risco de um idoso morrer atropelado é 46 vezes maior do que uma criança, de 0 a 9 anos (uma vítima apenas em 2015).

Sandro Luis Fernandes, diretor da Escola Pública de Trânsito (EPTran), acredita que este público engrossa as estatísticas por causa de sua mobilidade reduzida. Muitos também, diz o educador, sequer sabem diferenciar o sinal verde do vermelho, semáforo de veículos e de pedestres, quais são as linguagens dos veículos (seta para virar, faróis, etc) e, por isso, acabam se arriscando ao atravessar a rua. ‘Tem idosos que nunca dirigiram na vida e desconhecem a sinalização‘, lamenta. Outros até conhecem, mas por falta de acuidade visual, comum à idade, não enxergam alguma situação de risco.

Para tentar reduzir o índice de idosos atropelados, a EPTran, que tem ações de educação no trânsito para todas as idades, possui um programa especial para os ‘mais maduros‘. Eles recebem primeiro uma palestra falando, entre outros temas, sobre as mudanças do trânsito nos últimos anos e o significado das principais sinalizações, e depois vão para um circuito externo, para que assimilem na prática o que viram na palestra. Segundo Sandro,. os idosos são muito receptivos ao que aprendem.

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Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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