Curitiba

De onde vêm os terremotos de Rio Branco do Sul?

Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo
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Pesquisadores tentam descobrir porque a terra treme com tanta frequência em Rio Branco do Sul. UFPR tem duas hipóteses para os abalos

A cidade de Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, foi palco nos últimos dias de estudos e análises bem criteriosas quanto aos tremores de terra que abalaram o município nos últimos meses. Segundo relatório divulgado pelo Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná (CENACID), duas grandes hipóteses ganham força entre os geólogos para os terremotos, exploração demasiada do aquífero cárstico pelos poços de abastecimento da Sanepar ou detonações das pedreiras nas madrugadas.

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O CENACID esteve na cidade para obter informações sobre as ocorrências e quais os lugares que a população sentiu o abalo sísmico. “Fizemos duas visitas no município com nossas equipes. Na primeira, contatos foram realizados com autoridades e conversamos com os moradores sobre os tremores. Na outra oportunidade fizemos vistorias nos locais e percebemos um colapso no solo, que seria um afundamento de mais ou menos sete metros de profundidade. Relatamos a situação para os responsáveis e relacionamos todos os lugares”, disse Renato Lima, diretor do CENACID.

A ideia da conversa é tranquilizar também a população, que só falava disto em uma cidade pacata e com pouco agito. “A gente tem medo até, pois não tem tempo para correr para um espaço seguro. Moramos em um lugar tranquilo e isto atrapalha até o sono”, ressaltou o morador Manoel Araújo, de 68 anos.

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A pesquisa

O estudo inicial partiu das informações da Defesa Civil de Rio Branco do Sul, que relatou o sismo ocorrido no dia 14 de maio com intensidade 2,6 graus na escala Richter (vai até 9). Na coleta de relatos por parte de moradores dos bairros Nossa Senhora de Fátima, Papanduva, Vila Abrão, Nodari II e Tacaniça, o tremor seria causado por detonação de pedreira. Inclusive o geólogo Rodrigo Arquimedes, da Prefeitura Municipal, informou que o epicentro deste último sismo coincide com o local de atuação de mineradoras. Chama a atenção também os horários apontados por moradores para os terremotos. Em 2019, foram três abalos e nas madrugadas, ou seja, fora do expediente de trabalho das mineradoras. “Eu estava acordado na última e foi um susto. Nós até estamos acostumados com as explosões de dinamite, mas o horário não é o adequado”, relatou Fabiano Ribeiro, vendedor de uma loja de materiais de construção.

Uso de explosivos

Apesar do avanço tecnológico na mineração, uma vez que existem equipamentos extremamente poderosos quando da realização de desmonte, em alguns casos, a detonação por explosivos ainda é mais indicada, seja de ordem técnica, como o caso de rochas para o uso na construção civil, seja de ordem econômica (geralmente equipamentos com tais funções são muito onerosos).

A prática deve estar em acordo com as Normas Reguladoras da Mineração da Agência Nacional de Mineração, Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego e R-105 (Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados) do Ministério da Defesa.

Motivos

Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo
Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo

Quanto à questão da exploração demasiada do aquífero cárstico pelos poços de abastecimento da Sanepar, o relatório aponta que é de difícil controle, pois mesmo havendo uma redução do nível d’água da cavidade, o colapso pode não ser imediato após o rebaixamento. A Prefeitura de Rio Branco do Sul solicitou o relatório de bombeamento dos poços profundos da Sanepar para analisar esta hipótese. A recomendação por parte do CENACID é que também seja verificado o funcionamento dos poços que abastecem as mineradoras. Em nota, a Sanepar informa que monitora no mínimo 2 vezes por mês o nível dos poços que operam em Rio Branco do Sul. Na última medição, o nível de água estava de acordo com os limites estabelecidos e se houvesse o bombeamento excessivo no aquífero, o problema iria aparecer na cor da água distribuída nas casas.

Questionário

O Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná pretende fazer uma pesquisa com os moradores da cidade. O objetivo é melhorar e qualificar os pontos primordiais dos abalos sísmicos quando o fenômeno voltar a aparecer ou até mesmo relembrar os fatos dos tremores anteriores. “Ideia é fazer um questionário para um número maior de pessoas para termos uma resposta precisa dos fatos. Dias e horários para termos uma noção da frequência desta possível movimentação das placas tectônicas”, explicou Renato Lima.

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Recomendações da UFPR

Recomenda-se que o município instale um aparelho para registro sismológico contínuo para que seja mais preciso a medição em um futuro sismo. O aparelho deve ser instalado por uma empresa especializada e em local seguro e livre de ruídos ou interferências de vibração como, por exemplo, o tráfego de veículos.

Não se descarta outras possibilidades para o fenômeno como colapsos naturais em regiões cársticas (desabamento de cavernas) e movimentos associados a falhas tectônicas e reflexos. O Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná voltará ao município nos próximos dias e manterá contato com autoridades da Defesa Civil, mas prefere não estipular um prazo para concluir o estudo e naturalmente obter a resposta para o fenômeno. “Não vou estabelecer prazo, pois temos muitos elementos para analisar. O próprio questionário vai nos ajudar muito”, finalizou o diretor do CENACID.

Universidade de São Paulo de olho

A Universidade de São Paulo (USP), com o Centro de Sismologia, segue atenta com os abalos em Rio Branco do Sul. A unidade paulista é referência em estudos com emissão de boletins sísmicos em tempo real no Brasil. “As estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), da qual a USP faz parte, continuam monitorando toda a sismicidade do país. Este monitoramento faz parte da nossa rotina”, explicou o professor da USP, Marcelo Assumpção.

A USP reafirma que segue auxiliando a Defesa Civil do município paranaense, mas a princípio a distância. “Infelizmente, não temos recursos financeiros e nem humanos para seguir para Rio Branco do Sul e instalar mais estações locais. De qualquer maneira, os tremores têm sido pequenos e não se justificaria por parte da gente um estudo mais detalhado”, finalizou Marcelo Assumpção.

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