Curitiba

DNA industrial

Escrito por Magaléa Mazziotti

Formato redondo, cor marrom aplicada em verniz UV, com fechamento automático e de um tamanho que cabe nas mãos. Essa seria a embalagem escolhida para envolver uma vida dedicada à indústria gráfica, no conceito desenvolvido pelo encarregado de compras Wilson Naumann, 51 anos, dos quais 37 anos foram dedicados e aprimorados pelo setor.

Da versão inicial, com 14 anos de idade, na qual o garoto teve a primeira oportunidade na função de auxiliar de blocagem na Juruá Editora, à versão atual, ocupando um dos cargos mais importantes da Keops Indústria Gráfica S/A, muitos cursos e estudo fizeram de Naumann um profissional de ponta.

“Eu me apaixonei pela indústria gráfica e não parei mais de buscar conhecimento”, resume. De auxiliar de blocagem, ele passou a auxiliar de impressão, impressor tipográfico, paginador e diagramador. Neumann confessa que foi fisgado pela satisfação de ver o livro ser confeccionado e pelo seu nome constar na última página do livro. “Basta procurar pelo meu nome em qualquer publicação da Juruá de 1977 até 1992, que ele está na última página, só que em cargos diferentes”, assegura. “Em 1977, ainda rodávamos os livros em linotipo, em um sistema muito próximo ao que fazia a máquina de Gutemberg”. Naumann lembra que levava cerca de um mês para produzir um livro de 300 páginas, com tiragem de três a quatro mil exemplares. “Hoje se faz um exemplar desses em cinco minutos, com capa e tudo”, compara.

Conhecimento renovado

O afinco com que Neumann defende a educação até para explicar a crise do próprio setor em que desenvolveu toda a carreira é baseado na própria experiência. Mesmo começando cedo a trabalhar, o interesse por estudar o acompanhou. “Na editora tomei gosto por ler livros jurídicos, mas gosto de ler tudo para aprender, afinal, vamos morrer aprendendo”, constata.

Essa disposição toda o levou diversas vezes para cursos e ampliou a própria atuação na indústria gráfica. “Em toda a minha carreira tive três empregadores e, em meio ao trabalho, cursei duas vezes produção gráfica e me formei em logística o que me ajudou a despertar um talento até então desconhecido, o de negociar”, explica. Segundo ele, isso não só ampliou a sua empregabilidade, mas também ampliou em várias vezes a sua renda. “Se eu tivesse estacionado como impressor, o meu salário não passaria de R$ 2,5 mil. Estudar por duas vezes produção gráfica me levou a outro universo fascinante, o da produção de embalagens e a logística me mostrou o quanto gosto de negociar e acompanhar todo o negócio”, defende. O resultado disso é que além de encarregado de compras da Keops, ele ainda é o auditor da empresa e é consultor de uma revista gráfica. “Fui convidado a participar por conhecer muito de tudo que envolve o setor gráfico. Não consigo ficar longe do papel e de desmontar embalagens para conhecer como foram as soluções encontradas para abrigar aquele produto”. Refinado pela trajetória na indústria, ele explica porque a embalagem escolhida para sua vida deve ser de um tamanho que caiba nas mãos. “Conhecimento não ocupa espaço. Velhas informações cedem espaço para novas, ou seja, renovamos e carregamos para qualquer lugar ou situação”, ensina.

Produtividade X educação

Trabalhando em um setor que está encolhendo ano após ano e, segundo projeções da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), deve encerrar 2014 amargando um recuo de 3,5% na produção industrial nacional, ele analisa o quadro com ares de quem adquiriu uma visão global. “Primeiro foi a perda de competitividade na produção de papel, mas a indústria nacional se defendia com a transformação e beneficiamento. Só que a evolução da indústria chinesa foi tamanha, que eles passaram a competir na edição de livros e outros produtos. Não vai demorar muito para mandarem rodar até periódicos na China, para chegar no dia seguinte de avião”, projeta.

Neumann, no entanto, não consegue culpar a China pelos números da indústria gráfica brasileira. “Infelizmente passamos a comprar indiretamente serviço, pois não existe mão de obra capaz de operar as máquinas usadas lá fora. A maior máquina de papel em operação no Brasil possui praticamente a metade da largura da maior máquina chinesa e o resultado é que nossa produtividade fica reduzida a metade”, observa. E a responsabilidade disso não é somente a falta de interesse pela qualificação. Neumann explica que faltam  escolas de formação no Brasil. “No país todo existem quatro centros de formação, sendo que um deles é oferecido pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem) em Curitiba”, aponta. Ele informa que no Japão, por exemplo, apenas Tóquio reúne 48 escolas. “Isso explica porque a Heidelberg (máquina do setor gráfico) com capacidade para rodar 18 mil toneladas por hora de papel, no Brasil, roda apenas 10 mil toneladas no mesmo tempo”.

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Magaléa Mazziotti

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