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Foto: Albari Rosa/Tribuna do Paraná
Escrito por Giselle Ulbrich

No seu aniversário de 90 anos, o empresário Paulo Pimentel dá uma aula de administração pública e governabilidade. Fiscal da administração pública, a mídia deve ou não se posicionar na política? Paulo Pimentel fala de modernidade e tradicionalismos da imprensa

Ele foi governador do Paraná aos 37 anos, lá em 1966. Mas é da televisão, dos 30 anos que passou fazendo comentários políticos todos os dias, na hora do almoço, que a população mais lembra do empresário Paulo Cruz Pimentel, que está completando 90 anos hoje. Lúcido e com excelente saúde física para a idade, Pimentel não quer mais nenhum cargo político. Mas dá uma aula de administração pública para o próximo governador e presidente da República. Aula que o eleitor também deve aprender, não só para escolher seu candidato nas próximas eleições, mas para a própria vida.

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Pimentel diz que a primeira coisa a ser feita por quem assumir é enxugar o Estado, uma “máquina” inchada, principalmente no quesito funcionários, de onde é possível cortar 70% dos cargos de confiança. “Eu adotei esta postura. Quando terminei o governo, extingui 22 mil cargos. Fui esvaziando e vi que sobrava dinheiro. Tanto é que eu queria construir uma universidade no interior. Contrariando muita gente, que não queria, que era contra, economizei e construí três (Londrina, Maringá e Ponta Grossa). Sem contar as estradas. Eu só tinha dinheiro para construir uma, Maringá Campo Mourão ou Maringá Umuarama ou Maringá Paranavaí. Acabei economizando, construí as três e ainda consegui fazer o anel rodoviário ao redor de Paranavaí, que exigiram na época. Não há um governo tão pleno de obras quanto foi o meu”, gaba-se o empresário, que ainda adora a exposição pública, goza de uma vida social agitada e aspira dar os seus “pitacos” para o próximo governador (que para ele, pode ser Cida Borguetti, do PP, ou Ratinho Júnior, do PSD), ou até mesmo para o próximo presidente da República (que ele acredita que seja Geraldo Alckimin, do PSDB). Não que estes sejam exatamente os seus votos que, aliás, ele mantém suspense mas são pessoas que ele acredita que chegarão ao Executivo.

Foto: Albari Rosa
Foto: Albari Rosa

Quanto ao capitão da reserva do Exército, o deputado federal Jair Bolsonaro, candidato a presidente pelo PSL, Pimentel não acredita que irá “emplacar”. Depois de sofrer um bocado nas mãos da ditadura, nas décadas de 60 e 70, Pimentel não quer ver militares no poder nem “pintados de ouro”.

Corrupção

Para o ex-governador, outra medida que tem que ser tomada pelo próximo governante é impedir a roubalheira. “Se a cúpula rouba, lá embaixo se rouba muito mais. Mas se a cúpula é honesta, as camadas inferiores seguem o exemplo. Como que pode o presidente da República (Michel Temer), por exemplo, que tem uma firma no porto de Santos, fazer uma lei para beneficiar a própria firma. Não é possível que um cidadão baixe da posição de presidente da República pra cometer um roubo deste. Todo mundo rouba. No meu tempo não era assim. Sempre fui intolerante contra a safadeza e a corrupção”, afirma Pimentel, para quem secretários e ministros precisam ser pessoas competentes e acima de qualquer suspeita. Qualquer dúvida que paire sobre eles, devem ser afastados de imediato do cargo.

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Pimentel também não acha errado a indicação dos deputados para cargos de confiança do governo. No entanto, no seu ponto de vista, deve ser uma lista tríplice e com currículo, para que o indicado tenha o devido conhecimento, competência e preparo para a pasta que vai assumir. “Você veja o Temer. Fez um governo eclético, que não dá nada. Senta lá, não sabe o que fazer, não tem iniciativa, não ‘gruda’ no serviço, não vai. Os Ministérios mais importantes não podem ficar em mãos alheias. Têm que estar nas mãos do governo”, diz o empresário.

Imprensa e poder

Para Paulo Pimentel, a imprensa é o melhor fiscal que pode existir, mais eficiente que qualquer tribunal de contas ou órgão controlador dos Ministérios da Fazenda ou da Economia. “A imprensa precisa ser estimulada. Bons ou ruins, os fatos têm que ser publicados”, diz ele. E Pimentel sabe do que está falando, visto que já foi dono de um dos maiores impérios da comunicação no Paraná.

Ainda na década de 60, comprou os jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná dos empresários Aristides Merhy e Fernando Camargo, para usá-los como divulgadores de sua candidatura a governador do Paraná. Mais tarde, também comprou três emissoras de televisão, Iguaçu, Tibagi e Naipi, que por poucos anos foram afiliadas da Rede Globo, concessão que ele perdeu por ‘ataques‘ da ditadura militar.

Foto: Albari Rosa
Foto: Albari Rosa

Mas independente de ser dono de uma rede de comunicação, foi como governador que Pimentel entendeu que precisava ter um bom relacionamento com a imprensa, principalmente diante de casos em que a mídia denunciava representantes do governo por corrupções e desvios de conduta. “Se o governador não tira os desonestos, uma hora as suspeitas respingam nele também. Tem também que agradecer a colaboração da imprensa pela denúncia, exigir que o lado do governo seja ouvido e se dispor a mostrar depois o resultado da sindicância. Mas o governador tem que ser honesto, não pode ter uma machucadura em sua conduta, pra não contaminar essa investigação. Mais que isso, tem que ser respeitado. E isto só se ganha agindo corretamente, produzindo e mostrando à população que o dinheiro dela está voltando em dobro, em triplo”, diz Pimentel, gabando-se do carinho da população, que até hoje o reconhece nas ruas. “Quem entra na política tem que entrar pensando em fazer algo bom, não em ser reeleito ou ficar rico”, ressalta ele.

Parcialidade da mídia

Nos bancos de faculdade, ensina-se ao jornalista que ele deve escrever textos imparciais e ouvir os dois lados. Mas, nos últimos meses, diante do ‘racha‘ político que a sociedade tem presenciado, com a briga entre esquerdistas e direitistas, o que se vê são alguns veículos se posicionando, mostrando suas preferências eleitorais.

Mas Pimentel ainda defende uma imprensa pura e tradicionalista, que se atenha a mostrar fatos por vários pontos de vista, inserir o leitor nos acontecimentos e não comprar briga com ninguém. “Não que o jornalista não possa ter seu posicionamento pessoal. Editoriais e colunistas podem dar sua impressão, mas não podem se posicionar como se faz nos Estados Unidos, que os jornais tomam partido, fazem campanha para o candidato fulano ou beltrano. O dono da imprensa é o leitor, tudo tem que ser feito pensando nele. O jornal vai ensinar o leitor a votar, mostrar quais os candidatos. A imprensa nasceu para publicar tudo o que é fato, mas com absoluta isenção”, defende o empresário, que diz que quando algum veículo lança editorial marcando posicionamento, já deixa de ler o artigo ou o veículo como um todo.

Apesar de ter conduzido dois grandes jornais impressos do Paraná, Paulo Pimentel confessa que hoje em dia se atualiza lendo notícias pelo celular ou vendo os noticiários da televisão.

Vale pra todos?

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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