Curitiba

Carne fresca

Escrito por Paula Weidlich

Na casa da artesã Ester Santos Morais, 64 anos, e de seu marido, o funcionário público Abernon Bezerra de Morais, 65, não vai faltar carne nas panelas nos próximos dias. Ainda “digerindo” as últimas informações da Operação Carne Fraca da Polícia Federal, deflagrada na última sexta-feira (17), que revelou o escândalo de adulterações em carnes vendidas por 21 frigoríficos brasileiros investigados, o casal, mesmo receoso, afirmou que não vai de deixar de consumir o produto.

“Nós usamos mais as carnes em natura, compramos só carnes mesmo, nada de embutido. Compramos em supermercados e açougues, onde o preço estiver mais em conta. Mas sempre cuidamos, olhando para ver se a carne não está escura, essas não servem. Procuramos carne e preços bons”, conta a artesã. “Para nós não vai mudar nada. Nem sabemos se foi tudo isto mesmo. Como é que colocam papelão na carne? Acho que é pior no caso das linguiças e salsichas. E isso nós não usamos lá em casa. Mas mesmo assim, além do problema nas carnes, também preocupa a corrupção envolvida”, complementa Abernon.

"“Para nós não vai mudar nada. Nem sabemos se foi tudo isto mesmo", disse Ester acompanhada com o seu marido. Foto: Giuliano Gomes
““Para nós não vai mudar nada. Nem sabemos se foi tudo isto mesmo”, disse Ester acompanhada com o seu marido, Abernon. Foto: Giuliano Gomes

A enfermeira Cassiane Oliveira da Cunha, 31, também não ficará sem se alimentar com as carnes, principalmente por conta da dieta especial que segue. “A gente fica com medo e se assusta, mas vou continuar comendo carne, acredito que o hábito alimentar das pessoas não vai mudar. Faço uma dieta especial que precisa do consumo de proteínas, não tenho como ficar sem carne. Para garantir, eu sempre compro onde acho mais confiável”, afirma.

Vivendo dos produtos que vende, a salgadeira Sônia Pereira, 42, explica que sempre forneceu aos clientes informação sobre a origem dos ingredientes que usa em seus quitutes. “Os clientes perguntam de onde vem a carne e eu explico onde compro, tudo certinho. Agora acho que vão perguntar ainda mais. E, eu que já gostava de carne fresca, nos açougues, agora mesmo que não compro carne embalada a vácuo. Com essas, não dá para ver o que estamos levando”.

Consumidores cautelosos

Cassiane: A gente fica com medo e se assusta, mas vou continuar comendo carne.
Cassiane: A gente fica com medo e se assusta, mas vou continuar comendo carne.

“Vai continuar a mesma coisa, pelo menos para nós. Só é preciso ter um pouco mais de cuidado com o que se compra. Eu também gosto de comprar em açougue, é melhor do que nos grandes mercados”, explica o taxista Orlando Francisco Lima Alves, 42, que aproveitou a manhã de ontem para passar em um dos açougues do Centro da capital.

Escolhendo os cortes que servirá em um churrasco, o motorista Reinaldo Santiago, 59, revela como faz suas compras. “Tem que saber onde comprar, onde a carne é fresca, cortada na hora é muito melhor. No mercado, muitas vezes a carne fica o dia todo lá exposta, algumas são até escuras. Eu não vou deixar a carne, vou continuar comendo. É só saber onde comprar”, diz.

“Sem carne não dá pra ficar. A gente tem que ter medo, mas vamos continuar comprando. Eu compro no mercado ou no açougue, mas acho o açougue melhor, dá para escolher o pedaço que a gente quer. Com os embalados você não sabe o que compra, é ruim”, opina o carpinteiro Valter Prestes, 45.

Impacto incerto pros varejistas

Valter: Sem carne não dá pra ficar.
Valter: Sem carne não dá pra ficar.

Apesar dos clientes afirmarem que continuarão consumindo carne, para o gerente do açougue Frigobem, Wilmar Alves, 51, ainda é cedo para saber quais serão os reflexos da operação em longo prazo. “Para a gente, até agora está normal. Acredito que por não vendermos nada embalado a vácuo não seremos muito afetados. Só os clientes que passaram a perguntar mais de onde vem a carne. Mas é cedo para saber, esta semana costuma ser mais fraca, no começo de mês o movimento aumenta. Desde 1998, quando entrei no açougue nunca vi nada igual. Talvez os grandes mercados sejam mais prejudicados, mas acredito que tudo isto será passageiro”, pondera.

Procuradas pela Tribuna do Paraná, as redes supermercadistas paranaenses Condor e Muffato não quiseram falar sobre os possíveis reflexos da operação nas vendas de carnes junto aos consumidores. Segundo os varejistas, ainda é cedo para fazer esta análise, que mostrará se haverá mudanças no padrão de consumo ou nas estratégias de venda para os clientes.

Frigoríficos: “casos isolados”

Foto: Giuliano Gomes
“Desde 1998, quando entrei no açougue nunca vi nada igual”, disse o gerente do açougue Wilmar. Foto: Giuliano Gomes

Em nota, o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Pessoa Salazar, declarou que a entidade manifesta sua absoluta confiança na qualidade e excelência das proteínas animais produzidas em nosso país. “Os casos isolados ocorridos em algumas poucas empresas jamais podem ser tomados como comportamento padrão da maioria absoluta dos frigoríficos brasileiros, cujos produtos são reconhecidos no mercado interno como também nos mais de 150 países para os quais exportamos. E, esperamos que com o desenvolvimento das investigações que ora se iniciaram, possamos ao seu final, como não poderá deixar de ser, que a carne brasileira, das espécies bovina, suína e de frango, sejam reconhecidas como de alto padrão, para consumo em nossas famílias e nas famílias dos cidadãos dos países nossos importadores”, afirma Salazar, que também preside o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do PR (Sindicarne-PR).

FIQUE DE OLHO!

Saiba o que é preciso observar pra não correr o risco de levar carne estragada pra casa:

Carnes in natura: Carnes frescas, in natura, precisam ter coloração própria (sem ser escura ou vermelha demais), não apresentar manchas (verdes ou de outra coloração) ou viscosidade e devem ter aspecto firme, sem ser amolecido ou pegajoso. O odor também deve ser característico, sem ser forte.

Embalados: No caso das carnes já embaladas, observe as informações relacionadas à rotulagem, como dados do fabricante, data de validade, origem da carne e verifique se há o carimbo dos órgãos de inspeção, que podem ser SIF (Sistema de Inspeção Federal), SIP (Sistema de Inspeção do Paraná) ou SIM (Sistema de Inspeção Municipal).

Embutidos: Assim como com as demais carnes, é importante verificar a origem e o aspecto. O produto não pode estar com sua superfície úmida, pegajosa ou liberando líquidos. Manchas e odor forte também não são permitidos. Os embalados não devem estar soltos, dentro dos pacotes. Se isto acontecer significa que entrou ar e o vácuo foi perdido.

Congelados e resfriados: A temperatura destes produtos deve ser sempre igual ou inferior a 18ºC. Nas gôndolas dos comércios deve existir um termômetro que informe a temperatura do freezer. Congelados e resfriados devem ter em suas embalagens informações sobre a temperatura de conservação e estocagem. No caso dos congelados não deve haver cristais de gelo, amolecimento do produto, umidade e embalagem deformada (papel) pela umidade.

Embalagens: Nas bandejas ou no caso de carnes a vácuo, a embalagem deve estar integra, sem furos e não deve estar estufada. Se houver algum furo existe o risco da contaminação.

Problemas: Em Curitiba, os problemas mais comuns relacionados às carnes são falta de conservação adequada, devido à ausência de cuidados com a temperatura ideal e problemas de higiene.

Como denunciar?

Acione a Vigilância Sanitária Municipal, por meio do telefone 156. Ao ligar, tenha o maior número de informações possíveis sobre o produto.

Fonte: Rosana Zappe, diretora do Departamento de Saúde Ambientel da Secretaria Municipal de Saúde.

Sobre o autor

Paula Weidlich

(41) 9683-9504