Curitiba

Socorro quebrado

Nesta quinta-feira, havia quatro ambulâncias paradas na oficina. Foto: Giuliano Gomes
Escrito por Maria Luiza Piccoli

Por fora, aparentemente tudo no lugar. Só que na hora de funcionar, muitas das ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) têm deixado a desejar. Defeitos nos freios, falhas elétricas e aparelhos de socorro soltos no interior das viaturas… São apenas algumas das situações denunciadas à Associação dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Asmec). Há cerca de três meses, o número de denúncias em relação à condição das ambulâncias em operação na capital cresceu expressivamente, e quem reclama são os funcionários e colaboradores do próprio serviço, que alegam sofrer riscos diariamente em alguns veículos, por conta da falta de manutenção.

Foto: Reprodução.
Foto: Reprodução.

Um vídeo divulgado essa semana nas redes sociais chama a atenção para a questão. As imagens foram feitas na manhã da última quarta-feira (25), na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Tatuquara e mostram o momento em que socorristas do Samu empurram uma ambulância, na tentativa de “dar um tranco” no veículo. O material rapidamente viralizou, gerando curiosidade entre os internautas.

Por que, afinal os funcionários estavam empurrando a ambulância?

Pedro Henrique: socorristas não cumpriram o protocolo. Foto: Giuliano Gomes
Pedro Henrique: socorristas não cumpriram o protocolo. Foto: Giuliano Gomes

A Secretaria Municipal da Saúde explicou que, no dia em questão, a ambulância mostrada no vídeo estava inoperante por conta de uma pane elétrica. De acordo com a pasta, os funcionários flagrados empurrando a viatura estavam retornando de um plantão, no qual utilizaram outra ambulância, e não aquela mostrada no vídeo. Conforme a secretaria, os socorristas não cumpriram o protocolo padrão em casos nos quais os veículos demandam manutenção. “O procedimento é o mesmo em todos os casos. Os funcionários devem telefonar imediatamente para a empresa terceirizada, que é responsável por consertar as viaturas, e aguardar a chegada das equipes técnicas para o recolhimento dos veículos às oficinas”, explicou o diretor do departamento de urgência e emergência do Samu, Pedro Henrique de Almeida.

Só ontem, 60 atendimentos deixaram de ser feitos pelo Samu. Foto: Giuliano Gomes
Só na quinta-feira, 60 atendimentos deixaram de ser feitos pelo Samu. Foto: Giuliano Gomes

Impacto

Ao todo, as ambulâncias do Samu atendem 390 ocorrências por dia na capital. A frota conta com 26 veículos, cujo serviço de manutenção é feito por uma empresa terceirizada. Nesta quinta-feira (26), os Caçadores de Notícias encontraram quatro ambulâncias do Samu paradas em uma oficina do bairro Seminário. Isso significa que, em média, 60 atendimentos deixaram de ser feitos apenas neste dia.

De acordo com Pedro Henrique, os carros passam por vistorias diárias, nas quais o funcionamento é verificado item a item. Quando algum problema é encontrado, as viaturas são impedidas de circular, sendo recolhidas imediatamente à oficina responsável pelos reparos – e retiradas do sistema da frota operante. “Quando alguma ambulância precisa de conserto, ela é retirada de circulação imediatamente, e levada à oficina terceirizada. Se ambulância está quebrada, ela não aparece nem no sistema de carros ativos do dia”, garante.

Situação de risco

Foto: Colaboração
Foto: Colaboração
Foto: Colaboração
Foto: Colaboração

De acordo com o a presidente da Associação dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Asmec), Raquel Padilha, não é bem isso que acontece, no entanto. Ela explica que a falta de manutenção de algumas viaturas tem colocado em risco não somente os funcionários do serviço, mas também os pacientes que são atendidos pelo Samu. “A situação está ficando perigosa, e muita gente já apresentou denúncias de falhas graves, como uma ambulância que não tinha freios, por exemplo. Recebemos com frequência fotos de viaturas sobre guinchos e ouras situações preocupantes. São carros que, aparentemente não têm defeitos, mas que não funcionam como deveriam”, afirma.

Foto: Giuliano Gomes
Foto: Giuliano Gomes

Raquel afirma que o vídeo divulgado na última quarta-feira é um caso extremo do que tem acontecido em algumas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital. “Esse caso e tantos outros que chegam até nós precisam ser analisados com cuidado. É a vida de pessoas que está em risco”, ressalta. De acordo com Raquel, uma notificação relatando a série de reclamações em relação à manutenção das ambulâncias foi encaminhada ao Conselho Municipal de Saúde pela Asmec. Além disso, um ofício foi encaminhado no fim do mês de julho à prefeitura e para o gestor responsável pelo contrato de manutenção feito junto à empresa terceirizada que atende o Samu.

A Secretaria Municipal de Saúde afirma que os funcionários e socorristas são devidamente instruídos em relação ao protocolo de manutenção das ambulâncias, e que casos como o mostrado no vídeo divulgado na última quarta-feira não demonstram o procedimento padrão repassado aos funcionários do Samu. O órgão garante que, em caso de falha, as viaturas são relocadas imediatamente, e que, para esse caso específico, uma sindicância será aberta para investigar o que realmente aconteceu na UPA do Tatuquara.

Encostadas

Após a divulgação desta reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba informou que as quatro ambulâncias que estavam encostadas na oficina, na última quinta-feira (26), fazem parte da frota reserva de veículos, e que os carros pertencentes à frota regular operaram normalmente durante o dia.

 

Curitiba tem 26 ambulâncias do Samu, que realizam 390 atendimentos diários. Foto: Giuliano Gomes
Curitiba tem 26 ambulâncias do Samu, que realizam 390 atendimentos diários. Foto: Giuliano Gomes

Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

(41) 9683-9504