Colombo

Som da caixa

Uma viagem musical ao passado é proporcionada já nos primeiros acordes tocados pelo artesão José Antima Trix, 35 anos, e o guitarrista Boris Gregor Kovalczuk, 36 anos, em suas cigar box guitars. Em bom português, eles tiram som de guitarras feitas com caixas de charuto, acompanhando uma onda de resgate cultural norte-americano que remete às origens do Blues.

O charme do som não está somente nas referências primitivas do que se ouve, mas especialmente no fato de que cada cigar box guitar foi construída pelas mãos de José, que aprendeu noções de luteria (arte da construção e manutenção de instrumentos musicais) para transformar uma caixa de charutos em uma câmara ressonante para a vibração das cordas musicais.

“Para mim, é um retorno a incrível poder tocar um instrumento que eu mesmo fiz. Em uma época em que há guitarras super tecnológicas, pegar uma caixa e fazer sair som é fantástico. Minha perspectiva agora é divulgar mais meu trabalho como artesão e popularizar e ver mais pessoas tocando as cigar boxes guitars”, fala, que tem a garagem da sua casa, em Colombo, como sua oficina.

Foto: Ciciro Back.
Guitarras são feitas com caixas de charuto. Foto: Ciciro Back.

A primeira, conta, foi feita em 2013, depois de três protótipos, e foi batizada de “001”. Esta é de Boris, quem sugeriu a José que se arriscasse na confecção dos instrumentos. De lá para cá, cerca de 20 já foram produzidas, além de um violão personalizado, também em formato de caixa. “O José toca violão há quase 20 anos, dei algumas aulas para ele. E eu vinha pesquisando outras opções para tocar blues quando descobri as cigar boxes na internet”, lembra o guitarrista.

Escambo pra conseguir matéria-prima

Se as caixas de charuto serviram perfeitamente para a confecção dos primeiros instrumentos por combinarem baixo custo (eram apenas a embalagem para os cigarros) e sonoridade (as caixas eram feitas em cedro, madeira também usada para instrumentos musicais mais refinados), hoje o artesão José Antima Trix tem dificuldade em encontrar a matéria-prima básica para confeccionar as cigar boxes guitar.

Como o consumo de charutos em Curitiba e no Brasil é considerado um mercado de luxo, é na base da camaradagem que consegue as caixas para transformá-las.

Os donos de tabacarias muitas vezes não querem vender as caixas, que impressionam pela beleza, visto que costumam prometê-las como souvenirs a seus clientes. “Cobravam muito caro, quando aceitavam vender. Então, presenteei um deles com uma cigar box guitar e agora ele me fornece material”, conta o  artesão, que leva cerca de dez dias para construir um instrumento.

Origens

A criação tem relação com a grande crise de 29. Foto: Ciciro Back.
A ideia foi criada na época da grande crise econômica dos EUA. Foto: Ciciro Back.

Instrumentos de cordas costumam exigir o cumprimento de uma série de leis da física em sua confecção para atingirem o som mais perfeito. Os melhores viram lenda, como o violino Stradivarius. Para uma cigar box guitar, contudo, há apenas uma regra de ouro: não há regras.

Cada instrumento é único em sua feitura, deste o tamanho do braço ao número de cordas, embora seja mais comum terem quatro cordas. As primeiras surgiram por volta dos anos 1840, nos Estados Unidos, quando as classes mais pobres, sem dinheiro para comprar os instrumentos, improvisavam com o que tinham. Há desenhos de soltados na Guerra Civil tocando o instrumento.

Elas foram populares até meados dos anos 1930, e contribuíram para o desenvolvimento do blues. Por volta dos anos 1960, elas desaparecem do cenário musical, sendo resgatadas no século 21, agora com amplificadores.

Informações:
https://www.facebook.com/cboxguitar
(41) 9873-9935

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Sobre o autor

Adriana Brum

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