Garimpeiro nato

Escrito por Luisa Nucada

Num galpão de 40 metros quadrados nos fundos de sua casa, o empresário Guilherme Ferreira dos Santos, 73 anos, morador do conjunto Caiuá, na CIC, mantém tesouros que foram praticamente descartados em seu ferro-velho. Em 39 anos trabalhando com reciclagem, ele recolheu mais de 12 mil moedas de épocas variadas e dois mil discos de vinil, além de bules, cafeteiras, artigos decorativos e uma televisão Phillips de 1939.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

“A gente começou a juntar por curiosidade. Essas coisas vinham no meio do metal para serem vendidas no peso e dava pena jogar fora”, conta. A moeda mais antiga de sua coleção data de 1790 e é espanhola. Há cruzados, réis, dólares, tudo dividido por valor em sacos plásticos que ele guarda dentro de um enorme caldeirão de ferro. Em cima da tampa, fica uma escultura de bruxa. “É pra proteger”, brinca.

O curioso espaço, misto de sala de jogos, escritório e museu, é revestido pelos achados do empresário. Nas paredes, diversos objetos de metal pendurados, entre espadas, lançadores de flechas e escudos com brasões; um pôster da Copa do Mundo de 1994 autografado por toda a seleção brasileira; pôsteres do Coritiba, o time do coração; e um quadro com cédulas de dinheiro antigas. No meio do cômodo, uma imponente mesa de sinuca Brunswick, que, nas contas de Guilherme, deve ter 90 anos de idade.

Ele se impressionava com os itens que seus clientes queriam vender para o ferro-velho. “Tinha até faqueiro de prata, a pessoa nem sabia que aquilo era valioso.” Como trabalhava também com papel, acabou colecionando raridades, como listas telefônicas de Curitiba de 1942 e 1957 e exemplares de revistas antigas.

No local, também há espaço para artigos pessoais de Guilherme, como dezenas de fitas K7 de duplas caipiras e sertanejas. Entre elas, Cacique e Pagé e Mococa e Paraíso. Para expô-las, o empresário mandou fazer um móvel de madeira giratório.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

Coleção à venda

Procurar tesouros parece a sina de Guilherme. Nascido em Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, ele trabalhou como garimpeiro em sua juventude, em uma mina de diamantes. “Não fiz dinheiro, dava só para cobrir despesas.” Depois, teve um negócio de lenha, que vendia para alimentar fogões. “Mas daí inventaram o gás e me quebraram”, ri. Sem ter trabalho, mudou com a esposa grávida para Curitiba, em 18 de julho de 1975, no exato dia da neve. “Minha mulher estava quase dando à luz. Minha filha nasceu na mesma semana da neve.”

Seguindo os passos do sogro, que tinha um ferro-velho, começou a trabalhar com reciclagem. Hoje, já não atua, pois o filho e três das quatro filhas assumiram seu ofício. Da coleção de antiguidades que reuniu desde 1977, pretende se desfazer. “Ocupa muito espaço, quero ir embora para minha chácara em Paranaguá. Se alguém tiver interesse, pode me procurar”, avisa.

Contato: Regiane Ferreira dos Santos, (41) 9762-6679.

Sobre o autor

Luisa Nucada

(41) 9683-9504