CIC

Ânimo pra arte

Há um ano e quatro meses, três artistas nascidos e criados na região sul da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) resolveram unir forças e expandir suas ações para injetar cultura nas comunidades das vilas Nossa Senhora da Luz, Oswaldo Cruz I e Oswaldo Cruz II. O diretor de teatro Alex Otto, o músico Vagner Capone e o artista visual Paulo Auma se juntaram para trocar ideias sobre como motivar os moradores a saírem de suas casas, ocuparem as ruas e frequentarem os espaços públicos, mesclando-se ao cenário urbano.  Do encontro, nasceu o coletivo Ânima CIC.

Alex: "A ideia é que o morador saia da sua casa e ocupe os espaços"
Alex: “A ideia é que o morador saia da sua casa e ocupe os espaços”

“Existiam vários grupos culturais que se movimentavam aqui pela região, há pelo menos oito anos. Tinha o pessoal do grafite, vinha muito grafiteiro de fora do país ficar hospedado na casa do Paulo; tinha o pessoal da música, são mais de 80 bandas cadastradas na regional da CIC; o pessoal do teatro do oprimido (método teatral desenvolvido por Augusto Boal). Resolvemos nos unir e articular a formação do coletivo”, diz Alex.

A linha seguida pelo grupo é a de formação de novos centros, que busca fomentar a produção de arte nos bairros. Para o coletivo, descentralizar a cultura na cidade é uma forma de convidar a população a sair às ruas. “A ideia é que o morador saia da sua casa e ocupe os espaços, mesmo. As pessoas se escondem dentro das suas casas. Se você ocupa a rua, não tem bandido, não tem morador de rua, não tem medo, porque a pessoa que está na rua está junto com você, são todos iguais”, explica Paulo.

O terceiro elemento fundador do grupo, o músico Vagner Capone, vocalista da banda Javali Banguela, é proprietário de um “pizza rock bar”, o Dom Capone, que recebe eventos de música autoral organizados pelo coletivo.

Escadão Rap

Foto: Gerson Klaina
Escadão é palco para as batalhas de rappers. Foto: Gerson Klaina

As iniciativas do Ânima CIC já têm rendido frutos. Um exemplo é a escadaria ao lado do terminal de ônibus do bairro, que foi grafitada e virou um point de batalha de rappers. “As três vilas aqui do entorno eram historicamente inimigas, viviam em guerra. Começamos a pensar e achamos uma ponte para unificá-las. Ninguém prestava muito atenção nesse escadão. A partir do momento em que o grafitamos, começaram a vir rappers de toda a cidade para fazer batalha de rima”, conta Alex. Desde que foi criado o “Escadão Rap”, em junho de 2015, os moradores das três comunidades exercem sua rivalidade de uma maneira mais pacífica.

“Antes, a galera do rap batalhava em outros locais da CIC, mas a polícia costumava chegar e descer o cacete”, relata Alex. “Como a Regional CIC é nossa parceira e todos nos conhecem, agora a polícia deixa o pessoal em paz. Se der algum problema, os policiais sabem onde a gente mora, batem lá e nos avisam”.

Memória Mural

Foto: Felipe Rosa
Coletivo surgiu em 2014. Foto: Felipe Rosa

O primeiro grande projeto do Ânima CIC, viabilizado através de Lei do Fundo Municipal de Curitiba e de uma parceira com a Tintas Coral, foi o Memória Mural, que envolveu a produção de cinco grandes murais com grafites e pinturas, de um zine e de um documentário que conta a história da Vila Nossa Senhora da Luz, um dos primeiros conjuntos de moradias populares da Companhia de Habitação Popular (Cohab) a ser inaugurado no Brasil. Atualmente, o filme está sendo exibido nas escolas e igrejas da região.

No Memória Mural, o Ânima CIC decidiu trabalhar com multiplicadores de cultura, elegendo 15 artistas não profissionais do bairro para aprenderem técnicas que pudessem posteriormente repassar aos demais. “Ao longo de um ano, demos oficinas de fotografia, serigrafia, memória e história, teatro do oprimido, pintura mural e projetos (para ensinar a escrever projetos culturais para leis de incentivo)”, lista Alex.

Próximos passos

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

O coletivo planeja agora revitalizar uma pracinha em frente ao terminal de ônibus da CIC, que é utilizada irregularmente como estacionamento, e por esse motivo, mal é notada pela população. A ideia é fazer algo semelhante à Praça de Bolso do Ciclista, no São Francisco. “Queremos que ela vire praça novamente. Uma produtora cultural do centro vai trazer um contêiner que será usado como estúdio para que as bandas daqui possam gravar suas músicas”, adianta o diretor de teatro.

Acompanhe: fique ligado nas ações do coletivo pela página do Facebook: Anima Cic

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Sobre o autor

Luisa Nucada

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