CIC

Amigas da saúde

Escrito por Adriana Brum

Criar meios em que o cidadão não precise ir até as unidades de saúde para aprender sobre prevenção, mas que os profissionais saúde levem a informação até cidadão. O princípio é tão simples que faz perguntar: “como é que ninguém pensou nisso antes?”. A médica e professora universitária Andressa Gulin pensou. E, a partir dessa ideia, surgiu o “Depiladora Amiga”, projeto criado em maio na CIC que transformou dez depiladoras do bairro em disseminadoras de informações sobre a saúde da mulher.

Essas dez pioneiras foram convidadas a ouvir uma aula sobre a saúde íntima da mulher e incentivadas a comentar o que aprenderam com suas clientes. Caso na conversa a profissional perceba que a cliente precisa de atendimento especializado, preenche um encaminhamento: “Eu, depiladora amiga, encaminho minha cliente à unidade de saúde do bairro para orientações”.

Tudo começou quando Andressa percebeu que os índices de procura por exames preventivos estavam abaixo das metas da Unidade de Saúde Taiz Viviane Machado, ao mesmo tempo em que via aumentar os casos de doenças sexuais transmissíveis (DSTs). A médica percebeu que era preciso criar uma via alternativa de comunicação com as mulheres.

Aí surgiu a ideia de mobilizar as depiladoras: “Vimos que as mulheres fazem depilação de 15 em 15 dias; em contrapartida vão muito menos que uma vez ao ano ao ginecologista. Há muitos tabus sobre conversar sobre a intimidade, ao falar de DSTs. Com as depiladoras, a conversa é diferente que com os médicos, têm mais intimidade”, fala.

Dom de puxar conversa

Denize: Muitas mulheres não conhecem a própria região íntima, então nem sabem quando alguma alteração pode indicar algo mais grave. Foto: Marcelo Andrade.
Denize: Muitas mulheres não conhecem a própria região íntima, então nem sabem quando alguma alteração pode indicar algo mais grave. Foto: Marcelo Andrade.

A depiladora Denize Aparecida Cardoso, 51 anos, é uma das primeiras “formadas” pelo projeto-piloto. Ela sabe que não tem a obrigação de fazer diagnósticos, mas a habilidade de puxar conversa enquanto depila as partes íntimas das clientes a credencia para abordar temas que dificilmente seriam comentados fora da sua salinha. “Muitas mulheres não conhecem a própria região íntima, então nem sabem quando alguma alteração pode indicar algo mais grave ou quando aparece uma situação de fácil solução. Especialmente com as adolescentes, procuro falar de métodos contraceptivos, o uso da camisinha. Elas perguntam coisas que não teriam coragem de perguntar para as mães”, conta.

Plano de expansão

Na unidade de saúde Taiz Viviane Machado, a quantidade de exames preventivos realizados aumentou depois da criação do “Depiladora Amiga”, mas a médica Andressa Gulin diz que ainda não há como mensurar se a causa é somente a orientação das depiladoras, embora se saiba que tenham forte influência nos números.

O sucesso do projeto foi tamanho que, depois das dez primeiras depiladoras formadas “amigas”, Andressa Gulin, em parceira com a professora de enfermagem Tatiane Herrera Trigueiro e as alunas de cursos de Enfermagem e Medicina da Universidade Positivo, responsáveis pelo curso de formação, já formaram outras 90 depiladoras na área de abrangência de 15 unidades de saúde de Curitiba.

Para 2016, o plano é ir além. “Estamos buscando algumas parcerias, patrocínios, para expandir. Recebemos contatos de gente do interior do Paraná e até de outros estados interessados no projeto. Vemos que há uma grande demanda da comunidade”, observa a médica.

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