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Órfãos da quadra

Desolador. Esse é o sentimento comum às gerações de atletas amadores e profissionais que um dia desfrutaram da quadra poliesportiva coberta da Praça Oswaldo Cruz, ou que nunca jogaram lá, mas cresceram ouvindo histórias sobre os times formados pelas escolinhas esportivas ou os diversos campeonatos que ali foram disputados. Em dezembro de 2013, ela foi oficialmente fechada para uma reforma geral que até agora não começou, mas os frequentadores dizem que há três anos a quadra perdeu qualquer condição de uso.

Mesmo assim, um time de basquete de garotos com idade entre 14 e 15 anos segue se preparando na quadra de fora, que também apresenta sinais de abandono, para um dia jogar lá. E o apreço pelo local é tão grande, que os meninos deram o nome de Oswaldo Cruz Monsters, ou somente O.C. Monster, para o time deles.

O estudante Gustavo Rogalenski, 15 anos, conta que desde os 11 anos espera por disputar partidas na quadra coberta. Tanto que ele relata com propriedade de quem acompanha a depreciação do espaço que ele testemunhou ainda na infância. “Até hoje não entendo como que a prefeitura trocou o piso sem consertar o telhado que estava cheio de goteiras. Claro que as madeiras iriam levantar”, sentencia o jovem.

O piso de madeira, na avaliação do menino, é o ideal para evitar o rápido desgaste da bola e dos calçados. “Houve uma época que consertaram um pedaço do chão com cimento, mas novamente esqueceram do teto e depois desistiram da obra”, observa.

Sem o espaço coberto, os integrantes do O.C Monster passaram a jogar na quadra de fora, uma vez que o local fica próximo de suas residências. “A quadra de fora também está abandonada, as marcações estão apagadas, quem troca as redes ou arruma os aros são os jogadores de várias idades que vêm aqui”, conta Gustavo.

O também jogador do O.C. Monster, Guilherme Bittencourt, 15 anos, diz que o gosto pelo basquete e pela praça faz os meninos superarem outros problemas decorrentes do processo de decadência do local. “Quando entra um jogador novo no time, logo avisamos que não dá para usar o banheiro masculino daqui, pois quem vai, não volta”, brinca. Guilherme conta que o local é usado como ponto de consumo de drogas.

E essa situação é confirmada pelo servidor público municipal Marco Antônio Bressan, que fica no local onde funcionava a secretaria de esportes até a suspensão de todas as atividades. “Além das drogas, aquele banheiro é um ponto de prostituição. Acontece de tudo ali e ninguém toma providências”, denuncia.

Bressan trabalha na praça desde 2007 e, assim como os frequentadores, conta os dias para que a reforma aconteça e a praça volte a ser como antes. “Até para trabalhar aqui ficou insalubre, porque o esgoto e a parte hidráulica daqui também precisam de manutenção. Não faz muitos dias que tive que ajudar as funcionárias a limparem a secretaria porque a área foi completamente inundada pelo esgoto que extravasou”, comenta.

Piscina e barras

Embora a natação também tenha sido suspensa por conta da reforma atrasada, a piscina da praça tem recebido a manutenção. “A água é tratada e sempre tem um funcionários fazendo a limpeza”, garante Bressan. Na parte de fora da praça também dá para notar que a grama está aparada.

Porém, um olhar mais atento às barras para alongamento e exercícios físicos revela os riscos da falta de conservação. “Hoje tive que empurrar o parafuso da barra para a minha aluna não se machucar, mas alguém mais desatento poderia se ferir”, conta o professor de Educação Física e fisioterapeuta, Rodrigo da Silva Gomes. A aluna, a jornalista Elisana Fuckner, diz que gosta de correr na pista da Oswaldo Cruz, mas reconhece a falta de cuidado com o local.

Cadê a reforma?

Tão revoltante quanto o abandono da Praça é o fato de que a reforma anunciada conta com R$ 3,5 milhões de recursos do governo federal, já liberados via Caixa, e que exigem uma contrapartida do município de 8%. Mesmo com essa verba, nem o edital de licitação para a contratação da empresa que realizará a obra saiu.

A assessoria da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude justifica que a lentidão no processo se deveu a demora na aprovação da documentação exigida pela Caixa para destinar os recursos. Segundo a Secretaria, a abertura da licitação está prevista para o dia 08 de agosto.

Como se trata de reforma, o processo licitatório pode acontecer até durante o período eleitoral. A assessoria afirma que serão realizadas as reformas do telhado, do piso da quadra, dos vestiários e da piscina. Também será realizada a cobertura da piscina. De qualquer forma, a Secretaria projeta que a Praça Oswaldo Cruz seja novamente entregue para utilização da comunidade em agosto de 2015.

Enquanto isso, quem participava das turmas de ginástica e ginástica para idosos foram transferidos para a Praça Ouvidor Pardinho. No caso das escolinhas, a assessoria informa que assim que a quadra foi interditada, as crianças foram convidadas a praticar as atividades nos outros equipamentos nas demais regionais da cidade.

Confira as fotos da Praça.

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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