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Segunda-feira (16), final de tarde na Praça Rui Barbosa, pontos de ônibus repletos de pessoas voltando do trabalho. No ponto da linha Alferes Poli, que segue rumo ao Parolin, tem gente com cobertor, fogão, colchão e até mesmo cães esperando pelo ônibus. Quando embarcam, o pagamento, que deveria ser feito ao motorista – por ser um micro-ônibus sem cobrador – não existe. Ônibus gratuito? Na verdade essa linha é como as outras, a passagem custa R$ 4,25, porém muitos usuários de drogas, que moram no Parolin, acabam considerando o coletivo uma espécie de “carona”, e não pagam a passagem que é obrigação de todos e que, inclusive, é paga por pessoas que trabalham o dia todo e também moram na região.

Essa descrição é rotineira para trabalhadores da linha. Um dos motoristas, que há dois anos faz esse caminho, relata que para não criar problemas diários, acabou mantendo uma relação “saudável” com essas pessoas. Segundo ele, além de levarem eletrodomésticos, no começo deste mês outro motorista foi obrigado a levar um toldo em cima do coletivo. O trabalhador reforça que nenhum deles paga passagem e que muitos passageiros têm medo.

Foto: Giuliano Gomes.

“Eu tive que aprender a lidar porque no começo era difícil, eu questionava sobre o pagamento e recebia ameaças, criava uma situação perigosa. Agora, eles entram sem pagar mesmo e diariamente levam cachorro, coberta, coisas que ganham de pessoas, como geladeira, fogão, colchão. Eu já acostumei, mas esses dias um homem fez suas necessidade aqui dentro e outro motorista teve que levar um toldo no teto do ônibus. É complicado mesmo! Eu já vi gente que pega esse ônibus só pra fazer conexão com outra linha, já que o ônibus para em um tubo e permite conexões”, confessou o motorista.

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Por dia, a linha Alferes Poli custa R$ 1,4 mil, mas só arrecada R$ 98, de acordo o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp). Além de não pagarem para usar o transporte e gerarem prejuízos, essas pessoas acabam tirando o sossego de quem é trabalhador e mora no bairro também. Isso porque a rotina dentro do coletivo acaba sendo ameaçadora àqueles que querem apenas chegar em casa depois de um longo dia de trabalho. “É feia a coisa, eu sou moradora do bairro e a gente acaba vendo essas pessoas todos os dias. Eu sou trabalhadora, passo o dia todo aqui no Centro e ninguém paga passagem mesmo, entram com objetos suspeitos e eu tenho bastante medo. Às vezes, eu nem levo coisas de valor na bolsa”, contou uma jovem que esperava o ônibus na Rui Barbosa.

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Ao lado do ponto do Alferes Poli, algumas pessoas contam que deveriam pegar esse ônibus para ir para casa, mas que optaram por outras linhas, pelo mesmo sentimento que a jovem sente: medo. Uma moradora, que prefere não revelar seu nome, mudou sua rotina há dois anos. “Eu resolvi pegar outro ônibus. Demora mais, mas vale mais a pena. Eu já passei sufoco dentro desse coletivo e essas pessoas fazem isso o dia todo, eu acho que deveria ter câmera dentro do coletivo, talvez ajudaria”, relatou.

Foto: Giuliano Gomes.

Motorista refém

Por falar em câmera, esse é um dos pedidos do Sindicato de Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc) por conta da onda de episódios violentos dentro dos coletivos. De acordo com o presidente da entidade, esse é mais um reflexo da falta de segurança. “A gente está ciente desse problema na linha Alferes Poli, mas não vemos saída. O motorista acaba sendo refém dessas pessoas que podem até mesmo agredir o nosso funcionário. As câmeras de segurança poderiam inibir esses indivíduos de cometerem esse tipo de ato”, reforçou Anderson Teixeira.
Na última quarta-feira (11), as câmeras testadas pela Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) em um ônibus da linha Curitiba/Almirante Tamandaré flagraram dois homens armados fazendo um arrastão. As imagens foram divulgadas pela empresa Viação Sul nesta segunda-feira (16).

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Sobre a situação na linha Alferes Poli, a Urbs, empresa responsável pelo transporte coletivo em Curitiba, alega que está ciente do problema e que encaminha relatos aos órgãos de segurança. Propostas que poderiam solucionar o problema na linha não foram apresentadas pela empresa.

Ouça o relato do motorista:

https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/wp-content/uploads/sites/2/2017/10/audio-motorista.mp3?_=1

Segurança

Foto: Giuliano Gomes.

Os órgãos de segurança pública explicaram que o problema da linha Alferes Poli se repete todos os dias e, sabendo do problema, a Guarda Municipal resolveu investir na segurança de passageiros do ônibus. Segundo a GM, ações foram intensificadas e nessa semana foram feitas três operações específicas dentro do coletivo Alferes Poli. A mais recente foi ontem, e 23 pessoas que estavam dentro do coletivo, sem pagar passagem, foram encaminhadas ao 1.º Distrito Policial para assinarem um Termo Circunstanciado devido a invasão, de acordo com Odgar Nunes Cardoso, comandante geral da Guarda Municipal. No momento da operação o ônibus tinha 43 passageiros. ‘Nós estamos realizando esse trabalho para que as pessoas de bem possam circular tranquilas nessa linha. Nós estamos fazendo abordagens bem antes de chegar no ponto final, para evitar que esses indivíduos tragam qualquer tipo de material. Essa linha é para passageiro e não para mercadoria. Nós vamos fazer mais abordagens até que essas pessoas entendam que tem que pagar a passagem‘, relatou Cardoso.

Já a Polícia Militar conta que a Unidade Paraná Seguro (UPS) do Parolin também desenvolve atividades preventivas, abordagens ao ônibus e a pessoas suspeitas para coibir uso e tráfico de drogas, entre outros crimes. Além disso, em parceria com a GM, o 12.º Batalhão de Polícia Militar, que atende a área, realiza operações pontuais das equipes da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), da Radiopatrulha (RPA) e da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam). A população também pode colaborar através de denúncias anônimas pelos telefones 181 (Disque-denúncia da Segurança Pública), 153 (Guarda Municipal) e 190 (Polícia Militar).