Centro Curitiba

No sobe e desce do Asa

Escrito por Magaléa Mazziotti

Endereço de tantas histórias, seja como ponto de referência, seja como local de acontecimento, o Edifício Asa, na Rua Voluntários da Pátria, região central de Curitiba, ocupa diferentes papéis na vida de quem possui nele o lugar de realização profissional. Na carteira de trabalho do ascensorista Elandin Farias, 77 anos, o prédio protagonizou toda a trajetória profissional. Para o advogado Mesael Caetano dos Santos, 47 anos, que somente há quatro está estabelecido em uma sala comercial no 8.º andar, o edifício é uma verdadeira vitrine para os profissionais liberais.

Seu Elandin trabalha há mais de 50 anos no prédio que ajudou a construir.  Mesael foi atraído pela fama do local: “Empresta credibilidade”.
Seu Elandin trabalha há mais de 50 anos no prédio que ajudou a construir.

Elandin teve o primeiro contato com o edifício aos 15 anos, quando participou da obra de fundação do empreendimento da construtora Aranha S.A, cuja sigla ASA inspirou o nome do condomínio, um dos primeiros a oferecer espaços comerciais e residenciais na capital. Mais tarde, ele foi contratado como ascensorista e nunca mais saiu, mesmo agora, período em que se encontra devidamente aposentado.

Elandin ainda cumpre a jornada de toda uma vida, das 7h às 13h. “Hoje fico pouco na arapuca, somente nos horários das refeições das funcionárias. Revezo com a portaria”, explica. Arapuca é o apelido carinhoso com que ele trata o elevador.

O ascensorista afirma que nunca sentiu vertigem com o literal sobe e desce da função, muito menos ficou trancado. “É um serviço bom, com pessoas que sempre tratei com respeito e me retribuíram da mesma forma”, avalia.

Tendo a discrição como uma de suas principais características, ele não economiza elogios à qualidade do edifício. “Com todo esse tempo não tem uma rachadura. É uma obra muito sólida, não se encontra mais esse tipo de qualidade por aí”, avalia.

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Mesael foi atraído pela fama do local: “Empresta credibilidade”.

O edifício teve sua construção iniciada em 1950, mas a obra só foi finalizada em 1957, embora a ocupação do prédio tenha começado entre os anos de 1954 e 1955, quando estava parcialmente acabado. No total, são 413 unidades residenciais e comerciais, distribuídas em 22 andares. Segundo Elandin, na parte residencial, são apenas dois “conjuntos por andar”.

De boia-fria a doutor

Nascido em Poço Verde, Sergipe, e criado no noroeste paranaense, em Terra Rica, o advogado Mesael Caetano dos Santos, 47 anos, constatou na sala comercial em que trabalha no Edifício Asa toda a força da tradição do espaço, somada à intensa circulação de pessoas, que é uma das marcas registradas do local.

“Em todo lugar com grande concentração de gente existem muitos problemas e parte deles envolve advogados. Isso e o bom relacionamento que sempre tive com os funcionários da portaria daqui me trouxeram vários clientes”, explica. “Além disso, esse endereço é conhecido por todos, o que facilita o acesso, e empresta credibilidade a quem trabalha aqui”.

Ele revela que o sonho de se tornar advogado só se concretizou há oito anos. “Vim da lavoura, onde fui de boia-fria a vendedor de sorvete e de jornais. Só consegui cursar a faculdade de Direito, anos depois de me mudar para Curitiba”, resume. “Foi da venda de jornais como ‘O Estado do Paraná’ que tomei gosto pela leitura e pelo conhecimento”, explica.

Na capital, ele se tornou técnico em segurança do trabalho. A renda dessa profissão que permitiu ao futuro advogado arcar com a faculdade e realizar o sonho da casa própria. “Por ser muito pobre, aprendi a poupar sempre, a fim de garantir algum dinheiro para qualquer eventualidade e assim consegui comprar a minha casa”, revela.

A conquista do diploma universitário não interrompeu os planos de Mesael de atrelar a profissão às mudanças que sonha em ver na sociedade. Recentemente ele avançou mais um pouco nessa intenção ao assumir a presidência da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná (OAB-PR), criada em agosto deste ano. “Sou um ativista social e na comissão queremos fomentar políticas públicas que promovam a igualdade racial”, esclarece.

Dono de uma grande disposição para enfrentar desafios, o advogado afirma não temer as lendas em torno do Edifício Asa. “Desde que estou aqui, já acumulei centenas de clientes. O pessoal comenta sobre vultos e fantasmas do prédio, mas particularmente eu nunca vi e não tenho medo”.

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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