Centro

Corre, Jorge!

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Taxista curitibano coleciona medalhas e esbanja saúde aos 69 anos

Forma física invejável. Fôlego perfeito. Enquanto as pernas ostentam a musculatura trabalhada semanalmente pela intensa sequência de exercícios, a mente evidencia a plenitude de quem não só tem muitos anos de vida, mas soube ao longo do tempo – dar mais vida aos anos.

Aos 69, o taxista Jorge da Silva coleciona quilômetros rodados. Quem pensa que estamos falando do medidor do taxímetro, no entanto, está muito enganado. Medalhista de corridas de rua, o catarinense radicado em Curitiba começou tarde no esporte, que hoje, se tornou não apenas a sua maior paixão, mas sinônimo de prazer e longevidade.

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Bermuda dry-fit, camiseta patrocinada e tênis de corrida. Não é esse o traje que se espera ver quando se vai entrevistar um taxista. Foi assim, porém, que Jorge recebeu a reportagem da Tribuna em sua casa, no bairro Santa Cândida. Esperávamos na sala de visitas quando, do corredor, veio o tilintar das medalhas. Orgulhoso, Jorge trazia nas mãos um troféu e duas reportagens das quais foi tema, emolduradas. “Sou famoso”, brincou.

Conhecido nos circuitos como “o bigode mais famoso das corridas de rua de Curitiba”, Jorge começou a namorar as pistas aos 60 anos. O hábito de praticar atividades físicas, no entanto, começou há muito tempo, como uma forma de manter a saúde diante da profissão sedentária que exerce desde 1975.

“No táxi a gente vive sentado. Pra não ficar totalmente parado, criei o costume fazer caminhadas. Por muitos anos era esse o meu exercício, mas sem muito compromisso. Foi depois que meu filho se formou, em meados de 2004, que eu comecei a frequentar a academia e entender a importância da atividade física”, conta.

Corridas

Se nas provas o lema é “sebo nas canelas”, por trás do volante é “devagar se vai ao longe”. Foto: Marco Charneski
Se nas provas o lema é “sebo nas canelas”, por trás do volante é “devagar se vai ao longe”. Foto: Marco Charneski

A picada do “bichinho da corrida” aconteceu em 2009, quando o taxista correu sua primeira prova de rua. Ao contrário da maioria, que ensaia nas pistas começando pelos 5 quilômetros, Jorge queimou na largada. “Já comecei fechando 10 quilômetros. Depois disso nunca mais quis parar”, lembra.

Com a supervisão do filho, o taxista ingressou numa intensa rotina de exercícios, que aos poucos, foi conciliando com o dia a dia atrás do volante. Spinning às segundas. Terça, musculação. Quarta um treino curto de 5 quilômetros e mais spinning. Quinta, “longuinho” de 10 quilômetros e descanso nas sextas e sábados. Tudo isso para se preparar para as provas, que normalmente acontecem aos domingos.

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Com o tempo o desempenho nas corridas, Jorge começou a ser notado e, logo, o atleta já contava com patrocínio, oferecido pela empresa de táxi na qual trabalha. Com o custo das inscrições garantido, não havia mais limites para ele. Ao todo, 180 medalhas foram conquistadas durante 9 anos, em circuitos não só de Curitiba, mas de outras cidades como Morretes, Matinhos e Pomerode, em Santa Catarina. Nos trajetos, aventuras que marcaram a vida do taxista. “Numa corrida de montanha, no litoral, tive de me agarrar em um atleta mais alto pra não ser arrastado pela correnteza de um rio que fazia parte do trajeto. A cena foi hilária. Um rapaz jovem, alto e muito atlético, cruzando o rio com um senhor baixinho e bigodudo pendurado a tiracolo”, conta entre risos.

Entre as inúmeras lições aprendidas com o esporte, uma das mais importantes, segundo Jorge foi a paciência no próprio trânsito da cidade. Se nas provas o lema é “sebo nas canelas”, por trás do volante é “devagar se vai ao longe”. “Com a corrida aprendi que independente da velocidade o trajeto será concluído. Não tem porque a gente se desesperar. Basta seguir em frente, que uma hora se chega lá. Esse pensamento me ajudou a entender que não adianta se estressar no trânsito. O jeito é ir com calma”, revela.

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Pura paixão

Além da paciência, bom humor, amizades e qualidade de vida foram outros “presentes” que vieram com o esporte. A paixão é tanta, que hoje, toda a família o acompanha. “Pra gente significa união e parceria. Todo mundo corre e torce junto, é maravilhoso”, afirma Beni Loch da Silva, esposa de Jorge.

O exemplo ultrapassou os portões da casa da família, influenciando amigos e vizinhos que hoje praticam atividade física graças ao taxista. Pra quem sempre quis mas pensa que é tarde demais para começar uma atividade física, Jorge deixa um recado: “A vida fica muito melhor quando se pratica exercícios. Se você não gosta de corrida não tem problema. Foque num objetivo e comece qualquer prática que você goste, diversifique. Todo o mundo pode e nunca é tarde pra começar”.

Aos colegas taxistas o atleta recomenda: “Estiquem as pernas, caminhem. Nossa profissão é cansativa e exige demais do organismo em todos os sentidos. Cuidar da saúde só traz benefícios e melhora nosso desempenho ao volante e também com os clientes”, diz.

No fim da entrevista lançamos a seguinte pergunta: e aí, Jorge? Corrida de táxi ou corrida de rua? A resposta foi imediata, mas deixamos para você adivinhar.

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Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

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