Centro Cívico

Haja vitamina!

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No RG está Henrique Paulo Schmidlin, mas pouquíssimos o conhecem pelo nome do cartório. Pelas bandas do litoral e do 1.° e 2.° planaltos paranaenses ele é o Vitamina. Ou apenas Vita, para os íntimos. Aos 84 anos, podemos, sem chance de errar, defini-lo como um legítimo aventureiro, já que domina as práticas do montanhismo, motociclismo, voo livre, mergulho e ciclismo de resistência. Além disso, já se envolveu com o lado burocrático da vida e até foi perseguido pela ditadura militar. “Já me enfiei em muita coisa”, brinca.

Descendente de suíços e russos, Vitamina é nascido e criado em Curitiba. Sua família morava na região do Campo do Paraná, hoje Centro Cívico. Segundo ele, a casa dos Schmidlin ficava nas proximidades de onde hoje está sitiada a prefeitura. Ele conta que desde menino foi um aficionado pelo mato. “Isso vem muito dos europeus, que sempre foram de muito contato com a natureza e comigo não foi diferente. A família europeia sempre deu muita autonomia ao jovem e comigo não foi diferente”, diz.

O apelido Vitamina surgiu ainda na época de escola. Já antenado nos assuntos da vida saudável e alimentação balanceada, ele levava para o lanche legumes, frutas e bebidas feitas com leite e vegetais.

Sua primeira paixão foi o montanhismo e ela nasceu na década de 1940, por causa de uma brincadeira dentro de sala de aula. “Haviam competições entre os alunos para quem arrecadava mais donativos para o colégio, que era de freira. E para medir as doações e ver qual grupo trabalhava melhor, a professora desenhou uma montanha. Quem fosse arrecadando, subia cada vez mais a montanha. E no pico dessa montanha estava escrito a palavra ‘Marumbi’. E observando a palavra fiquei curioso e um dia descobri onde era o tal do ‘Marumbi’. Pouco tempo depois, fiz minha primeira expedição pra lá”, explica.

Vitamina criou uma verdadeira adoração pelo Pico do Marumbi. Ele conta durante mais de vinte anos subiu todos os sábados a montanha mais famosa do Paraná. “Eu descobri que um ano tinha 54 semanas por num ano fui 54 vezes ao Marumbi”, comenta. Sua paixão pelo local o levou a comprar uma casa na região.

Por causa de sua fixação pelo Marumbi, Vitamina hoje é conhecido como o maior marumbista em atividade. “Gostaria de ir mais lá, mas hoje está cara a passagem de trem. Antigamente era barato. Vou às vezes de moto por Porto de Cima. Por causa disso, tenho ido mais às outras montanhas da serra. Gosto muito do Pico Paraná. É a vista mais bonita de todo o estado”, afirma.

Aventuras catalogadas

Outro hábito adquirido dos europeus foi o de registrar todos os detalhes de suas aventuras em diários. No total, são 42 livros onde estão catalogados mapas, fotos e pequenos textos que contam minuciosamente as expedições. “Vale pelo registro dos locais. Muitos deles eu criei as trilhas e mapeei com todos os detalhes. Quem sabe um dia peguem esses diários para algo útil”, brinca. Além dos diários, a biblioteca de Vitamina conta com cerca de 7 mil livros. Todos eles sobre geografia e história. Há também dicionários das mais diversas línguas. “Isso que eu doei alguns livros. Antes eram 11 mil”, diz.

Rotas mal exploradas

Para Vitamina, a região de litoral e serra do Paraná é muito mal explorada pelo setor de turismo e ele culpa falta de vontade dos governantes por isso. “Nós temos uma das serras mai bonitas do Brasil, encrostada no mar e pouca gente conhece. Para Guarequeçaba o acesso é horrível e ninguém da jeito nisso. Em Morretes só temos o almoço e as boias. Lá as pessoas não ficam, apenas passam o dia. Temos o Caminho do Itupava, que por causa da falta de visão não tem a estrutura pra ser explorada. Há muito ‘ecochatos’ e pouca visão de que se pode fazer uma coisa que fará bem para o meio ambiente e para comunidade”, desabafa. “Mas eu sou um sonhador. Vivo e trabalho pra isso”, conclui com o bom humor de sempre.

Perseguição política

Por conhecer bem as regiões de montanha e ser de esquerda, nos anos 70 Vitamina chegou a ser investigado por membros da ditadura que comandava o país à época. “Os militares achavam que organizava algum tipo de milícia no mato. Eles pegaram placas de alumínio que eu colocava para ajudar na sinalização das trilhas achando que eram códigos usados entre os comunistas. Um dia eu perguntei prum caboclo da região como eles faziam pólvora em pequenas quantidades. E esse caboclo disse aos militares que me conhecia e que até tinha me ensisando a fazer pólvora. Pronto, daí me perseguiram. Isso tudo tá registrado nos autos do Exército. Parece piada, mas não é”, brinca.

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