Capão da Imbuia

Barreiras cotidianas

Escrito por Giselle Ulbrich

Há 15 anos, a legislação federal garante aos portadores de deficiências ou com mobilidade reduzida o direito de acesso a todos os locais, inclusive o transporte coletivo. Mas este acesso facilitado ainda não ocorre nas estações-tubo Delegado Amazor Prestes e Urbano Lopes, na Avenida Presidente Affonso Camargo, no Capão da Imbuia. Elas não possuem elevador ou rampa, somente escadas.

Em menos de dez minutos na estação Delegado Amazor Prestes, a Tribuna presenciou seis idosos tentando subir no tubo pelas escadas, com carrinhos de feira. Eles contaram que mensalmente vão a uma igreja batista da região buscar cestas básicas e, por isso, voltam com o carrinho carregado.

Dificuldade

Depois de muito esforço pra colocar os carrinhos na plataforma, Maria, João e Leonina conseguiram pegar o ônibus. Foto: Felipe Rosa.
Depois de muito esforço pra colocar os carrinhos na plataforma, Maria, João e Leonina conseguiram pegar o ônibus. Foto: Felipe Rosa.

A dona de casa Maria Aparecida Garcia, 65 anos, e o aposentado João Batista Mendes, 74, dizem que se não fosse pelo auxílio do cobrador ou pela ajuda mútua, seria impossível subir sozinhos. Pior é a situação da aposentada Leonina Ribeiro Santos, 79, que estava com eles, e tem problema na coluna e artrose nos dois joelhos.

Só com ajuda

Para usuários de cadeira de rodas, a situação é mais difícil. O cobrador da estação-tubo Urbano Lopes, que preferiu não ter o nome divulgado, conta que há anos um colega machucou as costas ao ajudar um cadeirante a subir as escadas. Até hoje não foi curado. “Mas quando aparece cadeirante ou mãe com carrinho de bebê, por exemplo, o cobrador ou outros passageiros precisam ajudar. Não gosto muito dos elevadores, porque quando quebram, às vezes demora pra consertar. Defendo o uso de rampas, que são de baixo custo e praticamente não dão manutenção”.

Reforma a caminho

Segundo a Urbs, 43 das 342 estações-tubo de Curitiba não têm acessibilidade. Mas o órgão ressalta que a capital paranaense é a única cidade brasileira em que estações de embarque têm plataformas elevatórias, equipamento instalado nas estações em que a localização não permite a implantação de rampas. A promessa é reformar ou ampliar 32 estações dentro do projeto do Ligeirão Leste-Oeste, entre elas a Delegado Amazor Prestes e a Urbano Lopes. A primeira etapa está em licitação, com previsão de início de obras em agosto ou setembro. A reforma contempla a acessibilidade. Nas outras 11 estações sem estrutura para pessoas com mobilidade reduzida, é possível instalar rampas. A equipe técnica da Urbs está elaborando os projetos para licitar as obras, sem data definida.

Tubo sem orelhão

Faz falta o telefone público que foi retirado da estação-tubo Urbano Lopes, na Avenida Presidente Affonso Camargo, Jardim Botânico. Nos arredores, não há nenhum próximo.

Responsabilidade pelo aparelho é da operadora. Foto: Felipe Rosa.
Responsabilidade pelo aparelho é da operadora. Foto: Felipe Rosa.

Um dos cobradoresconta que, por causa de empregos anteriores, em que vivia “pendurado” a vários telefones quase ao mesmo tempo, hoje não quer nem saber de aparelhos móveis. Em casa, evita até atender o fixo. “Não uso celular, porque não gosto. Quando tenho alguma emergência aqui no tubo, não tenho nenhum telefone perto para ligar. Não posso sair daqui e deixar meu posto pra procurar um orelhão. Teve um dia que meu colega de trabalho não apareceu para fazer a rendição e não passava ninguém com celular por perto”, relata o cobrador, pedindo que recoloquem o orelhão no tubo.

Telefonia
A Urbs explicou que a retirada foi decisão exclusiva da operadora de telefonia. No entanto, ressaltou que o cobrador não depende do telefone para contato com a empresa ou a Urbs, pois eles possuem meios de fazer contato direto com o Centro de Controle Operacional (CCO); com os fiscais que passam o dia circulando no sistema; com a Guarda Municipal, que possui convênio com a Urbs e mantém uma viatura circulando em cada eixo ou, ainda, com os motoristas dos ônibus (que passam, em média, a cada cinco minutos). Os coletivos possuem computadores de bordo que permitem a comunicação em tempo real com o CCO e as garagens.

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Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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