Com medo, moradores da Rua Capitão Guilherme Bianchi, no Cajuru, evitam andar a pé pela região. O problema enfrentado por eles, nas proximidades das ruas Sebastião Marcos Luiz e Niterói, são os constantes ataques de cães, que não perdoam quem quer que seja, mordendo quem ousa passar pela frente da casa onde eles vivem.

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Uma das vítimas mais recentes das investidas dos animais é a aposentada Ivete Pereira Messias, 58 anos. No dia 16 de agosto, ela recebeu várias mordidas em suas duas pernas, quando saía de casa para acompanhar uma amiga até o ponto de ônibus.

Ivete não foi a única vítima de ataque de cães na rua. Foto: Felipe Rosa

“Eram umas 13h, saí com minha amiga e, quando voltei, olhei de longe e não vi os cães. Mas eles estavam lá, atrás da caçamba. Eles vieram até mim e cada um pegou em uma perna. Eu até tentei me defender, mas não consegui. Na hora sangrou muito e eu corri para buscar ajuda em uma loja”, conta.

Socorrida por uma comerciante, Ivete que tem um problema de coagulação sanguínea, foi levada até a unidade de saúde do bairro e de lá, ainda saiu para ser atendida em um hospital. Como saldo do ataque, ficaram cinco mordidas profundas e sete pontos em cada perna. Além da dor, outro transtorno gerado para a aposentada, por conta de sua condição de saúde, foi a necessidade de buscar uma vacina especial, só encontrada em clínicas particulares.

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Traumatizada, Ivete – que procurou uma delegacia e fez denúncia pelo 156 – ainda conta que não foi a primeira pessoa de sua família a ser atacada pelos mesmos cães. Em 2016, sua irmã Helena Nunes Messias também foi mordida. “Ano passado fui atacada, levei três mordidas e tive que tomar providências. Fiz boletim de ocorrência na Delegacia do Meio Ambiente como me instruíram, e fui até o IML (Instituto Médico-Legal) fazer os exames. Logo após, tomei as doses da vacina antirrábica”, relata Helena.

Com medo dos cachorros, Osíres leva sempre um pedaço de pau. Foto: Felipe Rosa

Mais ataques

Outra vítima dos animais foi a dona de casa Michelle Ortelan, 38. Ela conta que foi mordida quando ia até a padaria com seu marido, em uma manhã de domingo. “Quando voltava para casa, vi que tinha alguém saindo da casa os cachorros moram. Nisto, seis deles saíram de lá e me cercaram, pegando já na minha perna. Meu marido estava com uma bota, por isso ainda conseguiu me defender. Está muito difícil a situação aqui na rua. O que as autoridades estão esperando para fazer alguma coisa? Precisa que um idoso ou criança seja atacado?”, questiona.

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Já o artesão Osíres Müller, 58, que também vive na região, conta que a situação provocou até uma mudança em sua rotina. “Minha esposa já foi atacada várias vezes, mas felizmente nunca levou uma mordida. Ela chega do trabalho às 19h e eu tenho que ir esperá-la todos os dias na esquina de casa, com um pedaço de pau na mão. Tudo isto por conta do medo dos cachorros”, diz.

Jhony mora há cinco meses no bairro e já ajudou muita gente. Foto: Felipe Rosa

Primeiros socorros

Trabalhando bem pertinho do local onde os animais ficam, a vendedora Maísa Teixeira, 43, diz que sempre ouve os gritos da pessoas e o latido dos cães. “Escuto sempre e todos vem aqui pedir ajuda, como fez a dona Ivete. Eu nunca fui atacada pelos cachorros, mas na verdade eu já nem passo mais por ali”.

Morador de um apartamento que fica em frente ao local dos frequentes ataques, o jovem Jhony Camargo, 19 anos, também costuma acudir as vítimas. “Moro aqui há uns cinco meses e desde que me mudei, já vi umas cinco pessoas caídas na rua, pedindo ajuda. As mulheres do bairro são as mais mordidas. Já ajudei muita gente”, diz.

Terreno onde ficam os cães que atacaram as pessoas no bairro. Foto: Felipe Rosa

Soltos na rua

Os causadores de tantos ataques e da discórdia entre os vizinhos não são animais abandonados, são cães de um morador da rua. Em conversa com a equipe da Tribuna, F.*- o dono dos cães, que teve sua identidade preservada – conta que há bastante tempo enfrenta dificuldades por conta do desemprego e da dependência em álcool e drogas, vivendo como pode com seus animais. Ouvindo a reclamação de todos, ele se comprometeu a manter os animais dentro de seu terreno e ainda fazer a limpeza da área, que hoje tem bastante lixo acumulado. Durante a visita da reportagem no bairro, os animais estavam presos dentro do terreno.

Quando a reportagem esteve no local, cães estavam protegidos. Foto: Felipe Rosa

O que pode ser feito?

A Prefeitura de Curitiba informou que, como os cães têm um responsável, não é possível retirá-los do morador, a não ser que eles estejam sofrendo maus tratos. Nesta situação, após denúncias feitas via 156, a Rede de Proteção Animal pode ir até a residência e dar as orientações ao cidadão sobre a guarda responsável. “E se confirmada a dependência química do responsável, uma ação deverá envolver também outras áreas da administração pública como a Saúde e a Fundação de Ação Social”.

Segundo o Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde, anualmente são feitos 5,6 mil atendimentos por mordidas de cães. Para as vítimas dos ataques e mordidas, a primeira orientação da administração municipal é procurar uma unidade de saúde, sendo necessário tomar a vacina antirrábica. No entanto, de acordo com o município, há mais de 35 anos não há registro de casos de raiva canina na cidade. O canal para denúncias e solicitação de providências por parte dos moradores é o 156.

NOTA DA REDAÇÃO

Pessoal, sobre a capa de hoje e a matéria que mostra os ataques de cães na Rua Capitão Guilherme Bianchi, no bairro Cajuru, esclarecemos que em nenhum momento tivemos a intenção de incentivar a violência, agressões ou maus-tratos aos animais. Pelo contrário, apoiamos a guarda responsável de cães e gatos, a castração para evitar a proliferação de desamparados animais pelas ruas e a adoção responsável.

Nesta reportagem, que deu voz a moradores e pessoas da região que estão com medo de um grupo de cachorros, nosso objetivo foi mostrar o que acontece no local e verificar junto às autoridades o que pode ser feito para evitar que mais pessoas sejam feridas. Conforme a reportagem mostrou, estes animais possuem um tutor e não são animais “de rua”.

Nesta rua, ouvimos muitos relatos de pessoas que foram ou conhecem quem foi atacado pelos bichos. Entre elas, idosos e mães que já não conseguem sair de casa com seus filhos, por medo. Mas nenhuma delas agrediu os cães, nem mesmo o Sr. Osíres. O que ele nos contou é que anda com o pedaço de pau apenas para espantar os cachorros.

Neste caso, entendemos que os animais também sofrem e que são tão vítimas quanto as pessoas atacadas, pelo fato de viverem em um ambiente precário, mantidos por um tutor que enfrenta dificuldades financeiras e dependência química – como citado na matéria. Acreditamos que para ter um bicho de estimação, a pessoa, além de amor, tem que possuir condições de garantir as necessidades básicas de bem-estar, saúde e segurança do animal.

O ideal mesmo seria que as pessoas que têm cachorro cuidassem e se responsabilizem por eles, não deixando que os animais tivessem acesso à rua. Assim ninguém mais seria atacado, mordido e não haveria tanto trabalho para as ONGs e grupos de protetores voluntários que resgatam, tratam e acolhem estes animais. É isso, TAMO JUNTO com os moradores do Cajuru, com os cachorros e com a guarda responsável.