Você já pensou em ir à escola e quando chega para estudar não há mais computadores, televisores e até mesmo a comida da merenda? Essa história se repete diversas vezes ao longo do ano para muitos alunos de Curitiba. Somente neste mês de janeiro, a Guarda Municipal de Curitiba registrou 42 ocorrências 32 furtos e dez atos de vandalismo – em Escolas Municipais da capital. O número parece alto, mas é baixo comparado ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 120 ocorrências.

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Um dos fatores que ajudou na diminuição dos casos foi a parceria da Guarda Municipal com uma empresa privada de segurança, que realiza monitoramentos nas escolas. Também neste mês de janeiro, a GM fez o terceiro flagrante de furto em escolas em 15 dias e conseguiu impedir que os objetos fossem levados. O último flagrante foi na Escola Municipal Professor Omar Sabbag (foto acima), no Cajuru, onde onze televisores, retirados das salas de aula, foram recuperados.

“Os dois adolescentes, ambos de 16 anos, foram apreendidos a poucas quadras de distância da escola. Os guardas municipais receberam uma denúncia de que havia um indivíduo no pátio, à noite. Uma equipe foi ao local e flagrou três indivíduos no momento em que tentavam pular o muro. Eles saíram correndo. Os suspeitos foram encaminhados à Delegacia do Adolescente e autuados por furto qualificado. A direção da escola foi acionada e reconheceu os objetos como pertencentes à instituição de ensino”, explicou diretor-geral da GM, Odgar Nunes Cardoso.

Outros casos

Além desse flagrante, outros dois foram registrados. Um deles foi na Escola Municipal Otto Bracarense Costa, na Cidade Industrial, onde um rapaz, de 22 anos, e um adolescente, de 13, estavam embarcando os objetos dentro de um carro. Eles tentaram fugir, mas foram pegos cerca de um quilômetro depois, quando bateram o carro contra outro veículo.

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O outro flagrante foi na Escola Municipal Professor José Cavallin, no Sítio Cercado, onde um rapaz, de 27 anos, e uma moça, de 24, foram presos no momento em que pulavam o muro da escola. A dupla estava com uma bicicleta, três computadores, um projetor multimídia e dois violinos. Na maioria dos casos, o flagra aconteceu também por conta do apoio da comunidade. Ainda segundo a GM, a população vem colaborando bastante na hora de fazer denúncias.

Policial colhe digitais dos bandidos após furtos na Escola Municipal Rio Negro, em julho de 2017. Foto: Gerson Klaina

 

Prejuízo

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Quando os marginais não são flagrados por moradores e pelas forças de segurança, diversos alunos ficam sem materiais básicos para estudo. O balanço feito pela Secretaria de Educação em 2017 apontou 927 registros de furtos nas escolas municipais de Curitiba. A Secretária Municipal de Educação garante que há verba destinada para a compra de materiais novos, quando eles são furtados, mas se os furtos não acontecessem, seria possível realizar melhorias na estrutura das escolas, propor atividades diferentes e até mesmo comprar outros materiais novos.

“Já temos redução dos casos, mas, de fato, o recurso disponibilizado para a escola, quando mais a gente tiver prevenção, mais podemos investir em projetos melhorias, ampliações e concertos. Estes recursos, quando não gastos, podem ser investidos em outras questões, que é próprio para o desenvolvimento da educação”, explicou o superintendente Executivo da Secretaria da Educação, Oséias Santos de Oliveira,

Além disso, Oséias informou que a empresa terceirizada, que faz o monitoramento das escolas, é responsável pela reposição dos materiais furtados, segundo um contrato firmado entre ambos. Mas, uma professora ouvida pela reportagem alega que existe demora para reposição por parte da empresa e que isso prejudica o ensino.

“No ano passado, roubaram televisores das escolas de onde eu trabalho e a empresa privada responsável levou quase um ano para repor um aparelho essencial pra gente. A TV é um dos principais que recursos que nós, da rede municipal, temos. É triste chegar para trabalhar e encontrar tudo quebrado e furtado”, contou a professora, que não quis ser identificada por medo de represália.

Impunidade

O problema é que nem sempre quem furta escolas na cidade paga pelo crime rapidamente. Em um caso registrado no ano passado, a impunidade indignou quem é leitor da Tribuna. Isso porque um trio foi preso por furtar diversas escolas e passou menos de doze horas na cadeia. Eles foram detidos durante uma ação realizada pela equipe do 6.º Distrito Policial (DP), onde foram necessários mais de trinta dias de investigações.

O delegado Adriano Ribeiro, responsável pela investigação, informou na época que eles estavam envolvidos em furtos a dois Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) e três escolas municipais da Capital. As prisões aconteceram em duas residências do bairro Cajuru e os crimes aconteceram em sequência nos dias 30 e 31 de julho e, posteriormente, houve registros nos dias 02 e 08 de agosto.

“Infelizmente o 6.º DP está tomado de indignação. Saímos de madrugada por volta de três horas da manhã, na ânsia de comunica o judiciário, que imediatamente expediu o alvará de soltura a eles, concedendo liberdade provisória sem pagamento de fiança. Infelizmente não houve tempo nem de acontecer uma audiência de custódia”, contou o delegado no dia da soltura do trio.

Na delegacia, duas jovens de 20 e 23 anos, disseram à imprensa que teriam roubado um veículo Sandero. E um homem, de 37 anos, envolvido no crime, ficou calado durante toda a coletiva. Os três foram soltos quinze minutos depois da presença dos jornalistas. Para serem liberados, não houve pagamento de fiança.

Uma das jovens saiu da delegacia acompanhada da outra suspeita de participar do crime e debocharam da imprensa no momento da saída. Quando questionada se o crime compensa e se iríamos vê-la novamente, ela riu e disse que “Me verá em breve, sim, com uma ‘nave’ mais forte e ainda melhor. Vai me ver na rua dirigindo! Os meus planos futuros são voltados pra outra fuga”.