Cajuru

Lixo vira comida

Escrito por Andrea Côrtes

Avenida Canal Belém, Vila São Paulo, no bairro Uberaba. Pouco depois das 9h, a fila de moradores carregando sacolas ou puxando carrinhos cheios de lixo já está formada. Alguns carregam mais peso do que o corpo permite, outros levam apenas aquilo que as mãos podem aguentar, mas o objetivo é o mesmo: trocar todo o material reciclável que juntaram por verduras, legumes e frutas. “Desta vez eu trouxe papelão e garrafa de bebida. É muito bom porque ajuda muito em casa já que a gente não precisa comprar esses alimentos no mercado ou na feira. É uma economia e tanto”, conta a doméstica Marli Zanotim de Oliveira, 53 anos.

Marli: uma economia e tanto. Foto: Gerson Klaina
Marli: uma economia e tanto. Foto: Gerson Klaina

A ação faz parte do programa Câmbio Verde. que consiste na troca de produtos recicláveis por verduras, legumes e frutas da estação. A cada quatro quilos de lixo o cidadão pode trocar por um quilo de alimento e dois litros de óleo vegetal valem um quilo de frutas, verduras e legumes. As trocas podem ser feitas quinzenalmente nos pontos de atendimento distribuídos nas áreas com população mais carente de Curitiba.

Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, as ações do programa envolvem aspectos educativos voltados não apenas para a preservação do meio ambiente, mas também para o desenvolvimento sustentável e o combate à fome. Os alimentos são oriundos da parceria com associações de produtores da região metropolitana. “É um programa completo porque nós compramos os alimentos dos produtores rurais, trocamos por lixo reciclável em áreas onde a população é mais carente e repassamos o material para catadores que fazem um bom reaproveitamento desse lixo”, afirma o gerente de coleta e disposição final da Secretaria de Meio Ambiente, Luiz Celso Coelho da Silva.

Maria Joana traz bastante lixo que antes jogava na rua ou até no rio. Foto: Gerson Klaina
Maria Joana traz bastante lixo que antes jogava na rua ou até no rio. Foto: Gerson Klaina

Nas sacolas e carrinhos tem de tudo: papéis, garrafas, ferro velho, livros e até televisão e computador velhos. “Sempre trago bastante lixo que eu antes jogava na rua ou até no rio. Então além de ajudar a limpar a natureza, ainda economizo, porque não preciso gastar para comprar essas comidas no mercado”, diz a dona de casa Maria Joana Pereira, 44 anos.

Marco Antônio: troca ajuda família por 15 dias. Foto: Gerson Klaina
Marco Antônio: troca ajuda família por 15 dias. Foto: Gerson Klaina

Com 76 kg de lixo reciclável, o comerciante Marco Antônio Lineu Bathke, 52 anos, consegue ajudar toda a sua família por quase 15 dias. Ele mora com a mãe, o sobrinho e duas irmãs e conta que é o programa é uma ajuda e tanto para quem precisa. “A gente economiza, troca por produtos de qualidade e ainda limpa os rios que estão tão sujos”, conta.

Histórico

A troca de lixo começou em 1989 através do Programa Compra do Lixo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Naquela época, porém, trocava-se lixo orgânico por vale-transporte. O programa Câmbio Verde propriamente dito começou dois anos depois, durante uma supersafra de repolho na região metropolitana, quando o vale-transporte foi substituído por alimentos e houve a inclusão do lixo reciclável na permuta. “Faz 20 anos que eu participo do programa e é uma maravilha. A gente pega bastante fruta e verdura e eu cozinho para os meus netos. Ainda consigo economizar um dinheiro no final do mês”, relata Catarina Rososqui, 85 anos, que carregava sozinha suas sacolas cheias de papéis velhos.

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Andrea Côrtes

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