Cachoeira

O último Samurai

Aos 55 anos, Edson Suemitsu é um dos últimos detentores, em terra brasileiras, da milenar arte da cutelaria japonesa – técnica responsável por forjar a “Katana Kaji”, a espada samurai. Numa pequena oficina, em sua casa no bairro Cachoeira, ele trabalha diariamente com o objetivo de levar até onde for possível a tradição, que é familiar. “Sou de uma família de samurais. Não sei como explicar, mas está tudo no sangue”, diz.

Natural de Bandeirantes, norte velho paranaense, Suemitsu é filho de pais japoneses vindos da cidade Kagoshima e chegou a Curitiba há pouco mais de 30 anos. Mecânico por formação, ele conta que não sabe como começou sua paixão peça cutelaria japonesa. “Desde que eu me conheço por gente, lido com ferro. Comecei fazendo facas, com qualquer pedaço de metal. Com o passar dos anos, fui me aprofundando com as técnicas e comecei a fazer espadas. Mas ninguém me ensinou. Aprendi tudo sozinho”, garante.

Ao longo de três décadas, Suemitsu já forjou cerca de 400 espadas samurais. Segundo ele, cada uma diferente da outra. “Não tem como fazer duas espadas iguais. Cada cliente pede do jeito dele e cada uma tem sua energia e espiritualidade diferentes, de acordo com a intenção do futuro dono. Quando eu acabo um espada, a deixo em altar no meu jardim. Ela chega de um jeito e sai de outro. Há muita energia envolvida”, ressalta.

Mesmo produzindo e vendendo um produto tradicional da cultura japonesa, o espadeiro diz que grande parte de seus clientes não são orientais. “Posso dizer que é meio a meio. Tem ocidentais e orientais, principalmente descendentes de japoneses. E há todo o tipo de cliente. Desde o mais endinheirado até as pessoas mais simples, que muitas vezes juntam dinheiro durante anos pra comprar uma espada”, conta.

Apesar de requisitado, Suemitsu confessa que recusa muito mais clientes do que se imagina. “Eu tenho uma habilidade sensorial e consigo sentir a real intenção da pessoa quando ela me encomenda uma espada. Nego sem a menor cerimônia. Não posso passar pra frente um objeto que faz parte do legado da minha família e da minha cultura para pessoas que não darão o valor real à uma ‘Katana Kaji’”, ressalta.

Em um dos casos em que errou no “julgamento”, ele conta que fez uma espada para um cliente que acabou usando o objeto para decepar animais. “Foi horrível saber disso. Foi uma verdadeira lição. Depois essa espada voltou pra mim e fiquei sabendo que ela já tinha passado por cinco donos diferentes e ainda tinham feito dentes na lâmina”, lembra.

Material importado

Em média, todo o processo de produção de uma “Katana Kaji” leva 12 dias. No entanto, o prazo de entrega é de 30 a 50 dias. Suemitsu explica que todos os materiais usados para forjar uma espada samurai são importados. “O aço para a lâmina, por exemplo, eu importo da Áustria. Já o acabamento do cabo é feito de couro de arraia, que vem diretamente do Japão. A base do cabo também é de fabricação japonesa. Então, tem todos esses itens importados, que se não chegarem no prazo, pode atrasar”, explica.

O preço de uma espada varia entre R$ 4 mil e R$ 15 mil, dependendo dos materiais utilizados.

Ainda segundo Suemitsu, nos dias atuais as espadas samurais são usadas como objetos de decoração e, em alguns casos, de aprimoramento espiritual. “Muita gente utiliza a ‘Katana Kaji’ para meditação e reflexão, colocando-a no colo. Mas maioria coloca a espada decorando seu escritório ou casa. Mas é um objeto com muita energia e acredito que quem tem uma, com certeza sente essa vibração”, diz.

Legado

Suemitsu sabe que lida com um legado familiar e cultural, mas, apesar de falar com empolgação sobre sua arte, ele admite que é o último integrante da família a levar a tradição adiante. “Infelizmente isso tudo vai acabar quando eu partir. Tenho um filho, que não tem interesse pela cutelaria japonesa. Então, vou tentar fazer o máximo de espadas que eu puder, pra deixar minha história marcada”, conclui o espadeiro.

 

 

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