Boqueirão

Vizinhos em pânico

Ladrões tomam conta da região da subsede social do Paraná Clube no Boqueirão, abandonada há alguns anos

Um espaço bastante frequentado por quem buscava diversão se transformou em sinônimo de abandono e medo. Há alguns anos, a subsede social do Paraná Clube no Boqueirão está abandonada e a situação do imóvel virou uma novela judicial que não parece ter solução rápida. Com isso, vândalos têm aproveitado para fazer do espaço o que bem entendem, deixando vizinhos em pânico.

Quem vive ao lado do terreno já perdeu as contas de quantas vezes flagrou ações de vândalos e bandidos no local. Um dos flagras, em que um homem foi fotografado pendurado num poste para retirar fios de um transformador de energia, motivou um morador a procurar a Tribuna do Paraná para contar o que a população tem visto.

Vizinhos reclamam que marginais têm fácil acesso aos sobrados pelo telhado da área do clube. Foto: Gerson Klaina
Vizinhos reclamam que marginais têm fácil acesso aos sobrados pelo telhado da área do clube. Foto: Gerson Klaina

“Pra gente, isso aqui já tem se tornado um verdadeiro tormento. Já vimos de tudo e a situação só tende a piorar”, desabafa Isabel Troscianczuk, que há 10 anos vive num condomínio que divide o muro com a subsede. Síndica do residencial, ela contou que os moradores estão desesperados e já não sabem mais a quem procurar. “A gente não sabe mais quem é o verdadeiro dono desse terreno, mas de qualquer forma, já procuramos todo mundo. Estamos há mais de 60 dias em busca de uma solução. Ninguém faz nada”.

Vidros do salão de festas estão todos quebrados. Foto: Gerson Klaina
Vidros do salão de festas estão todos quebrados. Foto: Gerson Klaina

Os portões do local estão quase sempre abertos. Quando são fechados, os vândalos conseguem romper e têm total liberdade no terreno de aproximadamente 22 mil metros quadrados. No interior do clube, embora o jardim esteja com manutenção relativamente em dia, o cenário é de destruição. Parte da estrutura já pegou fogo. Vândalos retiraram vidros do salão de festas. As piscinas estão sujas, com um pouco de água que pode até facilitar a formação de larvas do mosquito da dengue. Vestiários e alojamentos dos funcionários foram depredados.

Pisicinas estão com água esverdeada. Foto: Gerson Klaina
Pisicinas estão com água esverdeada. Foto: Gerson Klaina

Medo ao lado

O telhado do salão de festas é muito perto do muro e dos telhados dos sobrados do condomínio ao lado, o que facilita para os bandidos. Vivendo com medo, os moradores aumentaram o muro, instalaram cerca elétrica e alarmes, mas mesmo assim, já foram pelo menos quatro invasões. Dois imóveis já foram furtados. “Teve um dos vândalos que chegou a me perguntar o que eu estava olhando quando o flagrei no telhado”, contou Celia Kapuziniak, vizinha da sede há sete anos que já teve a casa invadida duas vezes. “Na primeira, levaram um videogame com todos os jogos e depois furtaram um notebook”, relata. Encontrar marginais no telhado do salão de festas ou no próprio telhado se tornou comum. “Ter acesso à nossa casa é muito fácil. No fim das contas, quem está se enjaulando somos nós”, lamenta Isabel.

Estas situações acontecem durante o dia. Já no período da noite, a vizinha Márcia Lopes diz que a situação piora. “Aquilo ali vira um breu danado. Esse é o nosso maior medo, porque a gente só ouve barulhos. Parece que eles (os vândalos) estão trabalhando incansavelmente ali. Não duvidamos que qualquer hora algum crime maior aconteça ali dentro”. Vivendo há 22 anos no condomínio, Márcia diz que além de ter que conviver com o medo de estar lado a lado com os bandidos, também sente muita agonia. “Fui sócia. Lembrar de como eram as coisas no passado e ver como tudo está hoje é muito triste. Era um espaço familiar, de alegria”.

Alojamento foi depredado. Foto: Gerson Klaina
Alojamento foi depredado. Foto: Gerson Klaina

Sem solução

As moradoras contam que as reclamações não partem somente delas. “Outros vizinhos também estão indignados, porque a gente vê tudo acontecer e ninguém faz nada. A angústia aumenta quando percebemos que não adianta mais reclamar”, explica Isabel. Segundo a síndica, a diretoria do Paraná Clube, a Prefeitura de Curitiba e outras instituições já foram acionadas, mas ninguém conseguiu ajudar numa solução.

O Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Boqueirão informou que procurou a Polícia Militar (PM), que passou a reforçar a segurança no local. “Mas só isso não adianta. Nós precisamos que haja uma solução efetiva e prática pelo assunto, porque se não daqui a pouco este espaço vai se tornar um ponto de tráfico e uso de drogas”, comenta a presidente Suerli Aparecida Nunez. Na semana que vem, o Conseg fará uma reunião para definir como agir em relação à questão. “Queremos levar ao Ministério Público, para que encontremos os responsáveis e façamos que assumam o terreno. Isso faz parte diretamente da nossa segurança”.

E o responsável?

Vestiário foi vandalizado. Foto: Gerson Klaina
Vestiário foi vandalizado. Foto: Gerson Klaina

Desde quando foi colocada a leilão, a subsede do Boqueirão vive uma novela sem fim. Na semana passada, depois de duas desistências, um terceiro leilão do terreno acabou sem nenhum lance. A quarta tentativa de vender o espaço está marcada para 29 de junho e o arremate inicial é de R$ 18,1 milhões.

Enquanto nada é definido, o Paraná Clube continua sendo o responsável pelo terreno. Conforme a assessoria de imprensa, os vigias continuam atuando na subsede de dia e de noite e a manutenção de desativação, inclusive de desmontagem de algumas partes do local, tem sido feita. Segundo o clube, nenhum dos funcionários percebeu algo anormal no espaço.

Até agora, as tentativas de leilão da área foram frustradas. Foto: Gerson Klaina
Até agora, as tentativas de leilão da área foram frustradas. Foto: Gerson Klaina

Segundo a Polícia Militar (PM), por ser uma propriedade particular, pouco a corporação pode fazer sobre o assunto exceto em casos de acionamento pela população ou flagrante em patrulhamentos. Em nota, a PM informou que o 20º Batalhão, responsável pelo policiamento no bairro, ainda está empenhado e patrulhando as ruas para que os crimes sejam diminuídos na região diuturnamente. As pessoas podem fazer denúncias pelo 181 ou 190, e registrar o boletim de ocorrência, o que embasa a readequação do policiamento.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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