Há quase 40 anos, o microempresário Norberto Nicolau Sens, 54 anos, encontra soluções para os deficientes que buscam mais autonomia tanto em adaptações para carros e motos, quanto nas cadeiras de rodas e de banho. O talento veio antes do próprio aperfeiçoamento profissional, já que aos 15 anos ele motorizou um triciclo de pedalar com as mãos.
Ele lembra que a solução final para a engenhoca não teve sucesso logo no primeiro teste. “Da primeira vez, eu usei um motor de Vespa (moto) e quando dei partida no triciclo, ele foi e eu fiquei, porque faltou um contrapeso. Só na segunda tentativa, usando um motor de fusca, que mostrei para os meninos da minha rua que eu era capaz de brincar com a minha invenção”. Essa aptidão rendeu a Noberto o apelido de “Professor Pardal”. Sua história de vida foi destaque da última edição da Tribuna Regional Boqueirão.
Sem esmorecer frente aos desafios que a vida oferecia, Norberto fez diversos cursos na área de eletroeletrônica e mecatrônica, criou a empresa de adaptações de veículos, manutenção e consertos de cadeiras de rodas Tecnosens e, mais tarde, graduou-se em Direito. Além disso, ele também buscou a superação nos esportes treinando e competindo nas modalidades canoagem, rugby, vôlei e, atualmente, futebol.
“A exemplo do que faço na minha empresa, que é buscar soluções para tornar mais fácil a vida dos deficientes, eu também faço disso uma extensão da minha vida. Não é por acaso que o livro lançado em 2005 sobre parte da minha história recebeu o título de Caminhar sem pernas e voar sem asas”, explica.
Perigo nas ruas
O desafio que ele ainda não conseguiu superar é o descaso do poder público com a acessibilidade. “Mesmo nas novas obras, a percepção é de que os engenheiros não fazem testes usando cadeiras de rodas. Basta pegar qualquer guia rebaixada, em tese para o cadeirante, para verificar que o desnível com a rua é uma ameaça, já que a rodinha trava e o deficiente pode tombar”, exemplifica.
A rua onde está instalada a Tecnosens, a Jerônimo Thadeu, no Alto Boqueirão, também ilustra esse tipo de problema. Segundo Norberto, foram anos batalhando pela pavimentação e, agora, por um redutor de velocidade. “Até entendo que a ocupação desordenada na rua tenha inviabilizado as calçadas, mas o cadeirante é obrigado a andar no meio da rua, pelo caimento natural das laterais, só que sem um redutor de velocidade o risco de acidente é muito grande”, alerta. “São por essas e outras que já me candidatei e vou continuar tentando ocupar um cargo no Legislativo para buscar políticas adequadas às nossas necessidades”.