É no meio do caos que surgem grandes talentos. Seguindo este ensinamento de Peter Drucker, conhecido como o “pai da administração”, o professor universitário e agora padeiro Francisco Stavis criou uma fábrica de pães 100% integrais, a Alchimeia, no Bacacheri. Depois de ser demitido do emprego, no fim do ano passado, ele aproveitou o dom que descobriu há 12 anos para transformar sua arte em “ganha-pão”.

continua após a publicidade

Francisco descobriu, em 2004, que tinha diabetes tipo 2 e foi orientado pelo médico a mudar os hábitos alimentares. “Tive que cortar todos os ‘brancos‘ da minha vida, como a farinha de trigo, o açúcar, o sal”, conta o professor, que passou a consumir só alimentos integrais, como pão, arroz e macarrão. Perdeu 40 quilos dos 135 que tinha, e hoje pesa 95 quilos.

Mas ele relata que sentia muita dificuldade em encontrar produtos 100% integrais nos mercados e padarias. Os pães sempre tinham farinha branca misturada à integral, açúcar e ingredientes de origem animal, artimanhas que os fabricantes usam justamente para o pão durar mais tempo nas prateleiras sem estragar. Então, decidiu produzir seus próprios pães. “Os primeiros ficaram uns Frankestein. Pareciam umas panquecas, achatados. E quando virei a forma na mesa, pareciam pedras caindo”, ri.

O pão “sente”

Após descobrir que tem diabetes, Francisco começou a fazer pão integral. Foto: Felipe Rosa

Francisco conta que nunca fez curso de panificação e foi pegando jeito fazendo, pesquisando na internet, vendo vídeos no YouTube, experimentando ingredientes e técnicas. Rapidamente aprendeu e seus pães começaram a agradar a família. Ele também percebeu que tudo o que ele sente influencia no pão. Quando está bravo, nervoso ou ansioso, por exemplo, o produto não dá certo. É preciso estar calmo e concentrado. “Esses dias atrás estavam passando na TV as notícias sobre a nossa atual conjuntura política. Aquilo me deixou tocado, preocupado. Fui fazer pães e perdi duas fornadas. A massa não deu certo”, cita.

continua após a publicidade

As massas são todas sovadas na mão. “Assim eu posso sentir a massa, se está mantendo a temperatura, umidade, textura. É que nem filho, que a mãe, só de colocar a mão na testa, já sabe se a criança está com febre. Na máquina eu não posso sentir nada disso, além de que a massa fica mais grossa, mais bruta”.

Mudanças financeiras e pra vida

A fábrica de pães de Francisco, que já tem 20 clientes fixos, ainda não sustenta todas as contas da vida pessoal dele e nem chega perto do salário de professor universitário. “Pagam as contas de água, luz, as de telefone e o resto eu conto com a boa vontade da minha mãe, que me dá muito apoio e me ajuda com o resto”, diz o padeiro que, até agosto ou setembro, tem a expectativa de estar se sustentando sozinho novamente.

continua após a publicidade

Ele dava aulas de administração estratégica numa faculdade que, no fim do ano (depois de ficar quatro meses sem pagar os salários), mandou muitos professores embora. Analisando o que faria da vida, lembrou dos pães e pensou: “por que não?”. No final de fevereiro, fez alguns pães e ofereceu a amigos, para lhe darem opinião. Os amigos gostaram, as encomendas foram aumentando e ele abriu a empresa.

Antes e depois

Francisco começou a vender pão, após perder o emprego. Foto: Felipe Rosa

Ele disse que, antes de dar aulas, era uma pessoa muito presa em seus sentimentos e até um pouco agressivo. “Mas gosto de dar aulas e isso me ensinou a ser mais calmo. Às vezes eu tinha um dia estressante, mas entrava em sala de aula e me sentia feliz, saía leve. E o pão me deixa calmo também, mas de uma forma diferente. O pão me dá uma visão diferente das coisas. Já que eu não posso estar sentindo nada ruim na hora de fazê-lo, aprendi a ter autocontrole. Se não, a massa não dá certo”, analisa.

A filosofia do Francisco

A ideia de Francisco é tornar o pão do café da manhã mais saudável. “Fazer pães 100% integrais é mais como uma filosofia de vida pra mim. E felizmente a filosofia das pessoas em relação aos alimentos também está mudando”, constata.

Os pães dele são 100% integrais e não levam nenhum ingrediente de origem animal. O açúcar é mascavo (que em breve, pode ser orgânico) e, para os diabéticos, ele faz sem açúcar. Para o futuro, o padeiro estuda a possibilidade de produzir pães 100% orgânicos, uma linha sem glúten e também patês orgânicos.

Francisco não tem medo das críticas. Pelo contrário, prefere elas aos elogios. E foi por uma crítica que ele melhorou o pão de aveia, que estava esfarelando demais. Mudou a forma de fazê-lo e o produto ficou muito melhor. Encomendas: (41) 8416-1237.

Leia mais sobre Bacacheri