Bacacheri

Medo de ladrão

Escrito por Magaléa Mazziotti

Nos dois lados da Rua Nicarágua, no bairro Bacacheri, as casas atingidas pelo avião que caiu no sábado passado ainda estampam as marcas da tragédia. Também estão aparentes as soluções improvisadas pelos moradores durante a semana em que precisaram se adaptar ao cheiro de queimado nas roupas e nos cômodos, ou a água escorrendo pelas paredes da casa que castigou quem teve o telhado danificado pelas rodas da aeronave.

Mesmo diante de um trauma tão recente, a vizinhança diz temer mais pelos assaltos na região do que pela proximidade com o Aeroporto do Bacacheri que, segundo dados da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), registra uma média de 90 pousos e decolagens diárias.

O morador que teve a sala de casa invadida pela asa do avião, o aposentado Amil Santos do Rosário, 70 anos, conhecido por Rosário, explica que a decisão da família (as duas filhas, a neta e a esposa) de se mudar de casa não tem relação com o acidente. “Decidimos procurar outro endereço em junho porque pagamos aluguel e a proprietária não pensa em vender aqui. Claro que elas (esposa, neta e filha que estavam na casa na hora do acidente) se assustaram com a queda, mas o fato é que em 20 anos morando perto do aeroporto já acostumamos”, explicou.

Recuperando danos do acidente aéreo, moradores do Bacacheri reclamam  de assaltos. Foto: Marco André LimaEle conta que, por enquanto, ninguém na rua foi procurado para ser ressarcido. Na casa, o quarto de casal ficou inutilizado. “O cheiro de plástico queimado é muito forte. Tanto que de noite fechamos a porta com toalha molhada para conseguir dormir nos outros dois quartos da casa”, explica. “‘Também precisei gastar R$ 270 com uma porta nova, mas vou descontar do aluguel”, acrescenta.

Mesmo sem ter virado estatística de assaltos ou arrombamentos no bairro, Rosário diz que a região padece com a falta de segurança. “Só a pizzaria já foi assaltada três vezes nesses últimos tempos. O meu vizinho da frente que recebeu minha família, a cachorra e a calopsita depois da queda do avião, também foi assaltado há alguma semanas”, enumera.

Agosto tenebroso

O vizinho de Rosário, o aposentando Valdlen Sigal Alves, 73 anos, que reside no mesmo endereço há 35 anos confirma o assalto e diz que esse é o problema que mais perturba os moradores da rua Nicarágua. “Faz 15 dias que os bandidos entraram armados aqui em casa, levaram o automóvel, duas televisões e até as cobertas novas que estamos pagando”, conta.

Apesar dos transtornos com o acidente, família de Celso Benhur gosta do local, mas teme os assaltos. Foto: Marco André LimaDepois disso, o acidente de sábado comprometeu parte do telhado da casa e destruiu parte do teto do carro do genro dele, um veículo Ágile preto novo, que tinha acabado de sair da oficina. “E os prejuízos não pararam por aí, mesmo com a lona que colocamos na casa, a água dessa chuvarada está vertendo pelas laterais da parede”, comenta o filho de Alves, o empresário Celso Benhur, 46 anos.

Quanto ao medo de novos acidentes, eles comentam que em 35 anos, foi a segunda queda que viram na região. “Existe um risco, mas gostamos de morar aqui, o que passou a assustar mesmo são os acidentes e esses assaltos. Neste mês, foram pelo menos três na rua”, informa o empresário.

Prevenção a acidentes

O presidente da Associação de Moradores do Conjunto Solar, Luiz Tadeu Seidel Bernardina, que responde por todo bairro do Bacacheri, avalia que a existência do Aeroporto Bacacheri é bem vista por boa parte dos moradores da região, mas o problema é a falta de atenção a medidas de prevenção de acidentes.

Há 35 anos no Bacacheri, Valdlen foi assaltado há 15 dias. Foto: Marco André Lima“Se o aeroporto contasse com uma área de escape, provavelmente esses acidentes teriam sido evitados. E defendemos esse tipo de medida pensando nos passageiros e pilotos da aeronave, porque de todos os acidentes ocorridos, nenhum tirou vida de moradores”, explica. No passado, a associação conseguiu a retirada dos aviões comerciais de maior porte (30 a 50 passageiros).

Burocracia

Procurado pela reportagem, o empresário Marcelo Montezuma, proprietário do avião, explicou que o ressarcimento dos moradores que tiveram suas casas atingidas depende dos trâmites legais e da empresa de seguros, no caso a Bradesco Seguro. “Preciso do boletim de ocorrência que a Polícia Civil de Curitiba só vai emitir na sexta-feira. Ou seja, devemos fazer o relato do fato e entregar a documentação exigida pela seguradora apenas na próxima semana. Ninguém ficará sem receber, mas todos ficaremos na dependência dos trâmites das empresas e instituições”, avaliou. Segundo Montezuma, o valor total segurado é da ordem de R$ 200 mil.

Comente aqui.

– Você acha arriscado morar nas proximidades no Aeroporto Bacacheri?

– Quais medidas poderiam ser efetivas na prevenção de acidente aéreos?

– A falta de segurança na cidade assusta mais que os desastres?

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

(41) 9683-9504