Como em tantas outras áreas, no transporte coletivo as mulheres também vêm conquistando espaços antes exclusivamente restrito aos homens. A pesquisa Perfil dos Motoristas de Ônibus Urbanos 2017, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mostra que elas ainda são uma pequena parcela na profissão, apenas 1,9% de toda a categoria. No Interbairros 2, algumas mulheres já estiveram à frente da condução e, apesar do preconceito que ainda enfrentam, os elogios predominam.
A motorista Maria Leoni dos Santos, 48 anos, conduziu o Interbairros 2 por mais de um ano e ainda faz o itinerário eventualmente aos finais de semana. Segundo ela, o interessante da linha é o fato de não ter rotina, graças ao grande fluxo de passageiros ao longo do trajeto.
Nem mesmo os comentários preconceituosos abalam a motorista. “Teve passageiro que optou por esperar o próximo ônibus por não aceitar uma mulher na direção”, relata Maria Leoni, que hoje está na linha Rio Bonito/CIC. Segundo ela, os erros ao volante só aparecem quando as motoristas são mulheres. “Mas a maioria dos acidentes graves é provocada pelos homens. A mulher é mais responsável na hora de dirigir”, afirma.
Estatísticas comprovam o que Maria Leoni fala. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que, em 2014, dos mais de 60 milhões de motoristas brasileiros, menos da metade era mulher, aproximadamente 20 milhões. Entretanto, 71% dos acidentes foram provocados por homens naquele ano.
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Maria Leoni, que desde jovem encara veículos pesados e costumava dirigir trator, já fez de tudo para garantir o sustento da família. Antes de entrar na Auto Viação Redentor, trabalhava como padeira, mas já foi pedreira e eletricista também. “Eu sempre quis dirigir, é uma coisa que eu gosto muito de fazer”, afirma ela, que começou na empresa como cobradora.
A cobradora Neuza Hang, 43 anos, com quem Maria Leoni divide a responsabilidade no coletivo atualmente, não poupa elogios à motorista. “Além de dirigir muito bem, ela é uma grande parceira de trabalho. Nosso dia-a-dia fica muito pesado quando não existe parceria”, destaca.
Em outras linhas, as motoristas mulheres também marcam presença. Salete do Rocio, 43 anos, que por mais de um ano conduziu o Ligeirinho Inter 2 e hoje está na linha Colombo/CIC, afirma que o preconceito ainda é muito presente em seu dia-a-dia. Mas, para ela, o pior são os comentários machistas que vêm de outras mulheres. “A impressão que eu tenho é que a discriminação é ainda maior. Lutei muito para estar onde estou”, desabafa a motorista que ocupou inicialmente a função de cobradora, mas seu objetivo era conduzir o coletivo.
Conquista
Na Auto Viação Redentor, uma das sete empresas que faz a linha Interbairros 2, são 11 mulheres motoristas de ônibus atualmente, mas já foram cerca de 30. O gerente de Tráfego da empresa, Claudio Mariano Cordeiro Filho, afirma que esse foi um “espaço conquistado por elas”. Muitas ingressaram como cobradoras e, depois dos treinamentos internos, ocuparam a direção do coletivo. “Elas conquistaram esse espaço e provaram que são tão capazes quanto os homens”, destaca.
De acordo com Cordeiro Filho, na rotina diária é possível perceber que as mulheres estão mais abertas ao diálogo com as chefias e com os colegas e são mais flexíveis no trabalho. Nas ruas, o índice de problemas é bem inferior entre a ala feminina: acidentes, multas e confusões de trânsito diminuem consideravelmente quando a motorista é mulher. “Foram todas capacitadas e merecem o lugar que ocupam hoje”, enfatiza o gerente.
Reportagem: Daniele Blaskievicz
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